Manaus concentra 73,7% do PIB do AM e especialistas alertam para dependência crônica do Polo Industrial

Polo Industrial de Manaus. As duas faces de um modelo econômico: riqueza na capital e pobreza no interior (Reprodução/Internet)

05 de fevereiro de 2021

16:02

Marcela Leiros

MANAUS – A capital amazonense concentra o maior Produto Interno Bruto (PIB) do estado do Amazonas. Com 73,7%, a cidade possui o maior percentual de concentração de renda entre todas as capitais do país, segundo dados da pesquisa PIB dos municípios 2018, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Com riqueza altamente concentrada, Manaus é uma ‘cidade-estado’ encravada na floresta amazônica (Reprodução/IBGE)

O percentual da pesquisa foi calculado em relação ao PIB de cada estado. Além de Manaus, outras capitais da região Norte estão entre as cidades com maior concentração de renda. Sendo elas, Boa Vista (RR) – 67%; Macapá (AP) – 59%; e Rio Branco (AC) – 53%.

Especialistas afirmam que a concentração é motivada pelo Polo Industrial de Manaus (PIM), que causa a dependência crônica em relação à indústria e também afeta a relação econômica e produtiva do interior do Estado, responsável por apenas 26,3% do PIB.

Para a economista Denise Kassama, os municípios com maior concentração do PIB também acabam recebendo mais investimentos. “A questão da concentração impacta diretamente nos repasses dos recursos estaduais e federais e a vantagem se dá somente ao município de Manaus que recebe uma parcela maior dos repasses”, destacou a economista.

Polo industrial é responsável pela riqueza de Manaus, mas é apontado como causador do empobrecimento do interior do Estado (Reprodução/Internet)

Êxodo rural para Manaus

Os especialistas indicam ainda que essa concentração na capital é resultado também do êxodo rural, já que as pessoas migram em busca de melhores oportunidades de trabalho. Para o economista Orígenes Martins Junior, o interior do Amazonas teve um período de grande riqueza com a exploração da borracha na região.

Porém, a partir de 1967 com a criação da Zona Franca de Manaus (ZFM), a capital estourou como grande centro comercial e industrial. “Isso estimulou muito mais aquele desejo de vir para Manaus para ter algum emprego e, de certa forma, desestimulou a atividade comercial e produtiva no nosso interior. Então hoje, apesar dos esforços que foram feitos para incrementar políticas produtivas no interior do Amazonas, é muito difícil fazer com que a pessoa volte para os municípios”, destacou Orígenes.

Investimentos no interior do Estado

Denise Kassama lembrou que os municípios do interior têm características muito específicas que influenciam ainda mais o êxodo para a capital. “No interior, os problemas de logística são muito complexos, prejudicam o escoamento, por exemplo, da produção para a venda em outros locais. Para mudar essa situação [do êxodo rural], é preciso realmente um plano de desenvolvimento voltado para o interior, de estímulo das matrizes regionais, de modo a gerar receitas dentro dos municípios e dentro das sub-regiões do Amazonas”.