Marcha Nacional das Mulheres Indígenas debate violência de gênero em Brasília

Faixa exposta durante protesto de mulheres indígenas em Brasília (Cassandra Castro/Cenarium)

08 de setembro de 2021

20:09

Cassandra Castro – Da Cenarium

BRASÍLIA – A 2ª Marcha Nacional das Mulheres Indígenas abriu, nesta quarta-feira, 8, a programação de debates de temas ligados à realidade enfrentada por elas em territórios. O evento é um momento de assembleia, encontro e partilha entre elas. Segundo organizadores, 2.500 mil mulheres já estão credenciadas, além de mais delegações que continuam chegando de várias partes do Brasil. 

A expectativa era de que o encontro reunisse 150 povos originários, mas este número já foi superado com a presença de 180 povos distintos. O acampamento dos indígenas está localizado no espaço da Fundação Nacional de Artes (Funarte).

Foi aberto oficialmente o 2º Fórum Nacional das Mulheres Indígenas e na ocasião foi feita uma homenagem póstuma a Raissa Guarani Kaiowá e Daiane Kaingang, meninas indígenas brutalmente assassinadas esse ano. Depois, as mulheres indígenas participaram de uma audiência sobre acesso ao direito: violência, direitos sociais e direitos humanos.

União

A indígena Braulina Baniwa, da região do Alto Rio Negro, no Amazonas, fala sobre a importância de se discutir a violência de gênero sob o olhar das mulheres indígenas. “No dia 10, vamos trabalhar essa discussão em Grupos de Trabalho, ver o que consideramos e o que não consideramos violência de gênero dentro do nosso território e falar da questão do cuidado”, destacou.

Braulina deu ênfase à importância da união entre todas as mulheres. “Todas nós temos que andar juntas, fazer com que todas as mulheres indígenas e não indígenas saibam que elas não estão sozinhas, apesar de todo o desafio de enfrentamento à violência, ataque aos territórios, aos direitos”, detalhou a Baniwa.

Para Braulina, várias pessoas com a mesma pauta podem caminhar juntas e talvez possa diminuir a invisibilidade das mulheres. “A questão da violência de gênero é uma das que trabalharemos bastante durante o evento. Nós estamos com mulheres anciãs, jovens e as meninas indígenas também para aprendermos a ter esse cuidado desde a forma de falar desse drama da violência quanto também ao jeito de acolher essas mulheres”, defendeu.

Marco Temporal

Indígenas acompanham julgamento do STF sobre o marco temporal ( Cassandra Castro/Cenarium)

As mulheres presentes na Marcha Nacional também acompanharam, de um telão montado no acampamento, a continuação do julgamento da tese do marco temporal, uma matéria de interesse imediato para os povos indígenas de todo o Brasil, pois a decisão dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) terá repercussão geral em todos os casos de demarcação de terras indígenas no País.

A tese do marco temporal, bastante defendida por setores ligados ao agronegócio e produtores rurais, estabelece que os povos indígenas só têm direito à demarcação de suas terras se provarem que as ocupavam no dia da promulgação da Constituição Federal, em 5 de outubro de 1988.

Interrupção

Na sessão dessa quarta-feira, 8, havia a expectativa de voto do relator da matéria no STF, ministro Edson Fachin, mas ele não chegou a entrar no mérito do caso. O presidente do STF, ministro Luiz Fux, suspendeu a sessão após manifestantes pró-Bolsonaro invadirem a Esplanada dos Ministérios, a retomada da sessão será nesta quinta-feira, 9.

Para Simone Karipuna, do Amapá, a suspensão é motivo de angústia. “Viemos para Brasília com essa expectativa do julgamento, que ele acontecesse no período da nossa mobilização e a gente acaba se deparando com essa demora e isso, de uma certa forma, nos deixa preocupados. Mas, apesar da espera por uma definição pelos ministros do STF, Simone diz estar confiante.

“O bom senso vai falar por nós, os espíritos do nosso antepassado vão trazer isso muito forte, vai garantir nossa força, nosso território, nossa forma própria de conduzir, de ter, criar no nosso futuro, venha na decisão ‘não ao marco temporal’”, finalizou.