06 de outubro de 2021
09:10
Marcos Lima – Da Cenarium
MANAUS – A rede de saúde Hapvida é acusada, por médicos, de demitir profissionais que recusassem a receitar a hidroxicloroquina aos pacientes com suspeitas ou casos confirmados da Covid-19. Pessoas que foram atendidas pela empresa também denunciaram que medicamentos não recomendados pelas autoridades de saúde foram receitados a pacientes infectados com a doença.
Uma reportagem publicada na segunda-feira, 4, no jornal O Globo, revelou áudios de médicos afirmando que eram obrigados a receitar medicamentos sem eficácia comprovada pela ciência e que não havia um aviso prévio sobre os riscos de ingerir os remédios. As pessoas também não passavam por exames de detecção da Covid-19, o que pode ter aumentado o contágio da doença nas unidades de saúde.
“Éramos vistos como inimigos e marcados com uma bandeira vermelha. Recebi quatro visitas no ambulatório do médico-líder em menos de um mês. Me disseram que eu corria o risco de ser desligado do plano, caso eu não prescrevesse o ‘Kit Covid”. A chefia sabia exatamente quem prescrevia ou não, porque estavam fazendo auditoria nos prontuários, um absurdo total”, disse o médico Felipe Peixoto Nobre à reportagem.
Nobre trabalhou de janeiro a maio de 2020 no hospital Antônio Prudente, uma das unidades da Hapvida para Covid-19, em Fortaleza. Após o caso, ele disse ter procurado o Conselho Regional de Medicina do Ceará (Cremed) para fazer uma denúncia, mas o caso não foi apurado.
Em agosto do ano passado, ele já havia denunciado o caso apresentando prints de conversas no WhatsApp. Em um deles, a instituição ressaltava a importância do uso da hidroxicloroquina, um dos protocolos a serem adotados. No recado era exposto que alguns médicos não estavam prescrevendo os remédios e que estavam percebendo alguns erros. Era recomendado então que o médico falasse sobre os benefícios do medicamento e, mesmo que o paciente recusasse usar o remédio, a medicação deveria ser entregue da mesma forma.
Mesmo sem evidências científicas da eficácia da hidroxicloroquina, o medicamento foi distribuído de forma gratuita nas unidades de saúde da Hapvida, que é a quarta maior operadora de saúde do Brasil. A doação do medicamento foi da Fundação Ana Lima, que faz parte do grupo Hapvida.