Milicianos combatidos em ‘zona de guerrilha’ dos rios agem em outro território na Amazônia

Policiais em ação para resgatar lancha roubada pelos piratas do rios na região de Tefé (Divulgação/SSP-AM)

04 de dezembro de 2020

19:12

Náferson Cruz

MANAUS – Uma ação violenta, opressora e ilegal das milícias dos rios, próximo ao município de Coari, a 363 quilômetros de Manaus, pode estar se direcionando para a região mais acima da cidade do gás e do petróleo, o município de Alvarães, a 530 quilômetros da capital amazonense.

Segundo o Departamento de Investigação sobre Narcóticos (Denarc), o motivo para tal redirecionamento das ações criminosas praticadas pelas milícia dos rios foi a instalação da Base Arpão, no trecho mais estreito do rio Solimões, próximo a Base da Petrobras, no município de Coari.

A cidade está situada na cabeceira das confluências dos rios Japurá, Içá e Solímões, rota da droga mais aquecida no Estado do Amazonas. A localidade também tem ligação após alguns dias de caminhada pela mata com o Rio Negro.  

Base Arpão

Segundo analistas de segurança pública, a instalação da base Arpão, no dia 14 de agosto, conseguiu dar um duro golpe no crime organizado, levando segurança aos ribeirinhos e moradores dos municípios do Alto Solimões.  As apreensões de entorpecentes e crimes ambientais que totalizam prejuízo de mais de R$ 5 milhões ao crime organizado.

“Coari é uma cidade estratégica devido a sua localização, no meio da confluência das três principais rotas no Estado, os rios Japurá, Içá e Solimões. Esses rios se unem em Alvarães e, logo depois a rota passa por Tefé e Coari. Isso favoreceu o surgimento de facções ribeirinhas e grupos de piratas armados, que começaram a roubar armamento, evoluíram e se transformaram em uma espécie de milícia”, comentou o delegado Paulo Mavignier, diretor do Denarc.

Segundo o delegado, o projeto Arpão tem o viés de combater a biopirataria de o narcotráfico e a instalação naquele ponto estratégico fez com que os índices de criminalidade tivessem um declínio. “Essa estratégia da polícia levou baixa aos criminosos que agora tendem a procurar outros territórios, um deles que já está sendo monitorado é Alvarães”, revelou Mavignier.

Zona de guerrilha

De acordo com informações do Denarc, a região no entorno de Coari antes da base Arpão, era uma verdadeira ‘zona de guerrilha’. “Os piratas ou milicianos dos rios atacavam as comunidades, assaltavam e roubavam mercadorias e mantimentos dos ribeirinhos. Faziam vigilância de dia e noite, com rádios e outros tipos de equipamentos tecnológicos, os criminosos atacavam qualquer embarcação, incluindo uma emboscada a lancha polícia militar, com armamento pesado”, contou.

Ligação com PCC

Questionado quanto a aliança dos piratas dos rios com a facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), Paulo Mavignier disse que é muito prematuro afirmar se existe ligação entre os grupos criminosos. “Esses milicianos dos rios são independentes e tem seus compradores de droga em Manaus, mas vale ressaltar que com a Arpão, a violência naquela região amenizou bastante”, explicou.

Apesar da instalação da base Arpão numa área estratégica, por outro lado, ou melhor, pelos céus, houve um aumento no fluxo de aeronaves transportando drogas, entretanto, Mavignier, confirmou mas preferiu não entrar em detalhes para não muda o curso (atrapalhar) das investigações que consiste até no mapeamento de pistas clandestinas.

Atualmente, as cargas de cocaína partem de regiões da fronteira próximas a Letícia, pelo rio Solimões, Tarapacá, pelo rio Içá e Distrito de Vila Bitencourt, pelo rio Japurá. Logo depois, a rota cai em apenas uma confluência, próximo a Alvarés, o rio Solimões.

Regiões de Letícia, Tarapacá e Vila Bitencout (tarja vermelha) são estratégicas para o envio de cocaína ao Brasil (Google maps/Ilustração: Samuel Knf)

A rentabilidade da ‘supermaconha’

No Amazonas, a maconha regional encontrada no município de Maués e Nova Olinda do Norte, cujo THC (tetra-hidrocarbinol), composto da família dos fenóis, principal componente da planta da maconha, sendo responsável por seus efeitos alucinógenos é de 2% a 6%, enquanto que, a supermaconha, o “skunk”, modificado em laboratórios colombianos é de 12% a 30%.

A supermaconha que virou uma ‘febre’ entre os narcotraficantes colombianos por sua altíssima rentabilidade, chega a custar R$ 7 mil o quilo. Já o cloridrato finalizado (cocaína pura) gira em torno de R$ 20 mil a R$ 25 mil o quilo em Manaus, a pasta base sai por R$ 15 mil.

Projeto Arpão

Projeto (base Arpão) inédito criado pela Secretaria de Segurança Pública do Amazonas (SSP-AM), a base conta com um efetivo de policiais civis entre delegados, investigadores e escrivães, militares dos batalhões especializados da Polícia Militar do Amazonas, Polícia Federal, perícia criminal, Corpo de Bombeiros, Força Nacional e servidores do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

Base Arpão serve de apoio para o combater o narcotráfico e crimes ambientais na confluência dos rios Içá, Japurá e Solimões (Foto: Divulgação/SSP-AM)