No Dia Mundial de luta contra HIV/Aids, histórias de superação entre anônimos e artistas fortalecem campanha

Campanha abre o mês 'Dezembro Vermelho' (Divulgação/ Arte Revista Cenarium)

01 de dezembro de 2020

15:12

Vanessa Taveira

MANAUS – O Ministério da Saúde juntamente com outros órgãos, realizou, nesta terça-feira, 1º, live para apresentar dados sobre HIV/Aids no Brasil, no dia em que se marca como o Dia Mundial de luta contra o HIV/Aids. A data é voltada para que o mundo una forças para a conscientização sobre a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (Aids).

Desde final dos anos de 1980 a data vigora no calendário de milhares de pessoas ao redor do mundo. É um dos oito dias mundiais relacionados com a saúde, que é celebrado em nível global: Dia Mundial da Saúde, Dia Mundial do Doador de Órgãos, Dia Mundial da Imunização, Dia Mundial da Tuberculose, Dia Mundial Sem Tabaco, Dia Mundial da Malária e Dia Mundial contra Hepatite.

A data marca o início do chamado Dezembro Vermelho que tem por objetivo chamar a atenção para o diagnóstico precoce, prevenção, tratamento, assistência e direitos humanos das pessoas vivendo com HIV/Aids. A campanha desse ano tem como tema: Previna-se – faça o teste e, se der positivo, inicie o tratamento.

“É com grande honra que nós lançamos a campanha na perspectiva de que cada vez mais, se torna necessário de que, o início do tratamento precoce ele é fundamental para o combate da Aids”, afirma Arnaldo Medeiros, secretário de Vigilância em Saúde (SVS).

Casos

Durante cerimônia de abertura da campanha, foram apresentados casos notificados e dados sobre brasileiros que convivem com a síndrome. No período de 2009 a 2019 o número de casos de HIV notificados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) chegou a 41.919, relativamente baixo em comparação a anos anteriores, onde 2017 o registro foi de 44.943 e 2018, 45.078, o ano com maior número de casos notificados.

Em 2020, aproximadamente 920 mil pessoas possuem o HIV, desses, 642.362 mil pessoas já se encontram em tratamento. A força do Sistema Único de Saúde (SUS) está na perspectiva de que na ponta o tratamento tem sido ofertado. “Em épocas tão difíceis, nós podemos dizer com certeza que, através do SUS, não temos falta de medicação, e para além disso, o Brasil tem contribuído de maneira humanitária para outros países do mundo com a medicação para o HIV”, pontuou Medeiros.

Ainda durante a live, o secretário de Vigilância em Saúde, Arnaldo Medeiros, informou que das cerca de 920 mil pessoas vivendo com HIV no Brasil em 2019:

821 mil = 89% foram diagnosticadas

634 mil = 77% fazem tratamento com antirretroviral

597 mil = 94% não transmitem HIV por vida sexual por terem atingido carga viral indetectável.

Já o coeficiente de mortalidade por Aids no Brasil no mesmo período de 2009 a 2019, chegou a 4,1%, sendo em 2015, 12.667 mortes e 2019, 10.565 mortes registradas por 100 mil habitantes, uma redução de 28,1%. Essa redução deve-se ao fato da testagem precoce e pela disponibilidade à contínua oferta ao tratamento para todos os pacientes diagnosticados.

Para informações dos principais indicadores de monitoramento durante a pandemia da Covid-19 por UF e municípios, a Secretaria de Vigilância em Saúde disponibiliza o painel de monitoramento no endereço: http://www.aids.gov.br/pt-br/painelcovidHIV.

Histórias de vida de quem convive com o HIV no Amazonas

João Marcos Dutra, 25, é um jovem vivendo com HIV há 10 anos. O diagnóstico ocorreu na adolescência, quando João tinha apenas 15 anos de idade. O universitário iniciou o tratamento e também começou uma caminhada de conscientização e luta que iria mudar sua vida para sempre, da mesma forma como Mirna Lysa, 59, que há 20 anos contraiu o vírus e se tornou ativista da causa entre Travestis e Transexuais e Homens Trans vivendo com HIV e Aids.

A história de João Marcos e de Mirna Lysa representa, muitas vezes, a vida de aproximadamente 8.370 pessoas que convivem com o vírus no Amazonas, mas que preferem não compartilhar as suas vivências, por causa do preconceito.

Por isso, para marcar o 1º de dezembro, Dia Mundial da Luta contra a Aids, a Secretaria de Estado de Saúde (SES-AM) resolveu contar em um vídeo, intitulado #HISTORIASPOSITHIVAS, a história desses amazonenses, que falam sobre a doença, coragem, tratamento e ativismo. O vídeo está disponível nas redes sociais da SES-AM (@saudeam).

João conta que não sabia quase nada sobre o HIV na adolescência. “Eu não tive essa orientação, mas hoje eu tento mudar isso socialmente. Questionando, falando, até mesmo abrindo a minha sorologia (HIV positivo) para outras pessoas, para que a gente consiga sair mais detrás das máscaras, sabe? Eu tenho dialogado cada vez mais sobre HIV. Precisamos falar sobre HIV”, reforça.

Para Mirna, a “morte social” – a discriminação que cerca o HIV/Aids e o isolamento que ela produz – ainda mata mais do que a doença em si. “O medo ainda é um causador muito grande do HIV, porque as pessoas têm medo de ir ao médico, têm medo de se testar, porque algumas pessoas não têm o ‘psicológico’. Quando descobre aí quer se matar, acha que é o final do mundo. E tem a família também, que a família também é bem pesada”, relata.

Para apoiar pessoas que convivem o HIV, Mirna deu um propósito maior à vida. Atual coordenadora estadual da Rede Nacional de Travestis e Transexuais e Homens Trans Vivendo e convivendo com HIV e Aids (RNTTHT), como mulher trans, ela dá suporte a outras pessoas que também passaram pelo que ela passou.

“A gente está na rua abordando, a gente aborda muito elas que estão em prostituição, a gente faz os kits: de preservativo, folheto de informações e chega até elas e entrega, para que elas tenham essa informação”, disse.

João Marcos e Mirna Lysa seguem na luta contra o preconceito (Arte Revista Cenarium)

Testes

Os testes rápidos, assim como a distribuição de preservativos, serão intensificados nas unidades de saúde neste Dezembro Vermelho, como na Policlínica Gilberto Mestrinho, Danilo Correa e o Centro de Atenção Integral à Melhor Idade (Caimi) da Avenida André Araújo, no bairro Aleixo, Zona Centro-Sul.

Famosos

Em mais de três décadas de doença, alguns artistas enfrentaram o preconceito, assumiram suas sorologias e se tornaram militantes da causa. Um dos símbolos da luta contra a doença no século XX, Freddie Mercury anunciou ao mundo publicamente sua sorologia em 1991 em decorrência de complicações em seu quadro de saúde ocasionados pela infecção.

Assim como o líder do QueenCazuza também se tornou uma marca da epidemia no Brasil após ter sido diagnosticado com o vírus em 1986, vindo a óbito quatro anos depois, em 1990. O músico, entretanto, só assumiu sua sorologia em 1989.

Outro notável brasileiro que morreu em decorrência da Aids foi Renato Russo. O líder do Legião Urbana descobriu que era soropositivo em 1989, mas nunca assumiu publicamente a doença.

Magic Johnson, lendário jogador de basquete da liga profissional norte-americana (NBA), contou ser portador do vírus da imunodeficiência adquirida em 1991 e, desde então, tem sido um dos mais ferrenhos militantes da causa. Atualmente, com 58 anos, ele continua vivo e esbanjando uma saúde invejável.