No Dia Mundial do Rock, artistas revelam ‘receita’ das composições na Amazônia

Bandas do norte do país lutam para se manter apesar das adversidades (Reprodução/Go Fast Produções)

13 de julho de 2020

19:07

Mencius Melo

MANAUS – O “Dia Mundial do Rock” data comemorada nesta segunda-feira, 13, marca um estilo musical e de vida, além de comemorar o mais atemporal dos ritmos modernos. O rock possui adeptos no mundo todo e no Amazonas não seria diferente. E o diferencial do ritmo feito no meio da selva, com todas as dificuldades expõe dores e vantagens da cena local.

Vocalista da banda Chá de Flores, Bosco Leão é um dos nomes mais produtivos da cena manauara. Autor do documentário “O Rock que O Brasil Não Viu”, ganhador da categoria ‘Melhor Documentário Regional’, no Amazonas Film Festival de 2010 e autor do livro “Rock Baré – Memórias de Um Rockeiro Na Selva”, Bosco sabe a dificuldade que é manter um projeto de cultura pop como é o rock.

O vocalista, escritor e cineasta da banda Chá de Flores, Bosco Leão, em ação no palcos de Manaus (Reprodução/Divulgação)

Bosco gravou três álbuns, fez filme e escreveu um livro. Para ele, isso tudo é uma vitória a ser comemorada no dia que homenageia o rock. “É preciso coragem para manter uma banda ou mesmo tentar gravar ou registrar diante das nossas realidades”, avaliou. “Fazer rock em uma região distante dos grandes centros como São Paulo ou Rio de Janeiro é trabalhoso, mas, não podemos olhar para trás e dizer que não valeu a pena”.

Um videomaker na selva

Baseado em São Paulo e amazonense de coração, o diretor e produtor da Go Fast, Plínio Annunciato sabe bem o que é fazer um audiovisual de banda de rock, usando Manaus ou seu em torno para locação.

Assista aqui o videoclipe da Ressakiados

Ele gravou videoclipes das bandas manauaras Ressakiados e Zona Tribal. Além dos especiais de carnaval do Carnatrance – evento de música eletrônica que acontece no meio da selva, próximo a Manaus.

“Fazer videoclipes de rock hoje já é mais fácil, porque temos a internet como aliada e muitos dos equipamentos podemos encontrar em Manaus, que hoje é um forte polo eletroeletrônico no Brasil”, afirmou.

Assista aqui o videoclipe da Zona Tribal

Para ele a geografia ainda é a maior dificuldade, porque onera o valor final de um bom clipe. “Dependendo de onde você queira captar imagens, que no caso da Amazônia são sempre belíssimas, você terá um custo à mais em logística como transporte, alimentação e energia, o que altera sobremaneira o valor final da obra”, destacou o diretor.

Livro conta as aventuras e desventuras de uma geração que resolveu fazer rock no meio da selva (Reprodução/Divulgação)

Um festival no mato

Suspensos por questões sanitárias provocadas pela pandemia da Covid-19, os festivais não tem previsão para voltar. Em Manaus, os festivais servem para impulsionar a carreira de muitas bandas ou artistas solos.

Um dos que mais marcou história, foi o Fronteira Norte Festival de Rock (FNFR). O evento de rock teve quatro grandes edições, mas deixou de ocorrer exatamente pelas dificuldades que uma produção dessa natureza, enfrenta fora dos grandes eixos.

O primeiro e mais marcante ocorreu na rodovia AM-010, que liga Manaus a Itacoatiara (AM), no ano de 1999. Conhecido como o ‘Woodstock Amazonense’, a produção reuniu duas dezenas de bandas em dois dias de puro ‘rock na selva’.

“Foi uma loucura que acredito que hoje eu não teria mais coragem de realizar”, contou rindo, a jornalista e produtora – à época – Chris Reis.

Segundo ela, as dificuldades eram tantas que nos primeiros segundos da abertura da primeira banda a subir no palco, ela pensou em chegar no backstage e dormir.

Cartaz de uma das edições do Fronteira Norte Festival de Rock, seminal evento que abriu portas para muitas bandas do Amazonas (Reprodução/Divulgação)

“O evento aconteceu em uma fazenda na estrada, no meio do mato, ai teve de tudo: a carreta com o a estrutura de palco quebrou no meio da estrada, provocando atraso na montagem e para piorar: com a pressa, os operários montaram o palco correndo e somente depois da montagem percebemos que eles haviam montado a estrutura de costas para o público”, relembrou aos risos.

“Tivemos que refazer a operação, desmontar e montar tudo novamente; um desespero!”, recordou. E quando questionada se realmente produziria novamente, Chris Reis respondeu. “Faria sim, claro que faria. Só que agora usaria muita mais a experiência e a tecnologia para ajudar a construir esse festival que até está na memória de muita gente”, observou.

“Fazer rock no Amazonas e na Amazônia não é fácil, mas, quem disse que o rock é para os fáceis? Rock é mais que música, rock é estilo de vida”, finalizou Chris.