No Dia Nacional da Adoção, cerca de 180 crianças de Manaus ainda esperam por uma nova família
25 de maio de 2020
19:05
Bruno Pacheco
MANAUS – Nesta segunda-feira, 25, celebra-se o Dia Nacional da Adoção no Brasil, uma data marcada pela esperança de crianças e adolescentes por um novo lar. Segundo dados repassados à CENARIUM pela coordenadora da Infância e Juventude e titular do Juizado da Infância e Juventude Cível, juíza Rebeca Mendonça Lima, do Tribunal de Justiça do Amazonas (TJAM), em média, cerca 180 crianças e adolescentes de Manaus aguardam para serem adotados.
Por outro lado, a capital tem 161 pessoas dispostas a fazerem a adoção. Ainda segundo a magistrada, a média de maior faixa etária de crianças nos abrigos está entre 10 a 12 anos. A partir dessa idade, conforme o Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), no Brasil, apenas 2,7% dos pretendentes aceitar adotar acima dessa faixa etária.
De acordo com a juíza, é importante, também, que as pessoas saibam o processo não é um ato de caridade, mas um ato de amor.
“É um dia que é importante para se enfatizar o que é a adoção, para que as pessoas saibam o que é o processo, saibam que não é um ato de caridade e sim de amor, é para quem realmente deseja ter uma família, quem deseja ser mãe ou pai e sabendo que a adoção é irreversível. A criança só não nasceu na barriga da pessoa, mas a partir do momento em que ela é adotada, ela passa a ser filha tal qual ela fosse biológica”, enfatizou.
A juíza reforça, ainda, que as pessoas tenham um olhar diferenciado para a adoção de crianças acima de 10 anos. Em Manaus, as crianças e adolescentes têm à disposição dois projetos sociais, o “Colhendo Vidas” e o “Encontrar Alguém”, que incentivam ainda mais o gesto da adoção.
“É importante que as pessoas abram um pouco a sua mente, no sentido de que tem ali outra criança que você pode muito bem ter afinidade com ela, não necessariamente só com o bebê. Temos dois projetos que funcionam muito bem, o “Colhendo Vidas”, voltado para bebês, e o “Encontrar Alguém”, que ele se destina exatamente a essas crianças, desse público mais velho. Com ele, percebemos que muitas pessoas nunca tinham pensado nessas outras crianças mais velhas e elas começaram a conhecer as histórias, começaram a se interessar e começaram a nos procurar”, pontuou.
“Também é um ato de amor”
Para ela, quando ocorre a entrega de crianças nos abrigos, o motivo do ato se dá em consequência da mãe não ter condições de cuidar do filho, seja pelo lado emocional, físico ou financeiro e é importante que as pessoas procurem sempre a Vara da Infância e da Juventude para evitar, ainda, entrega irregular de crianças.
Segundo ela, a entrega voluntária não é crime, mas o abandono ao bebê é tipificado como crime previsto no artigo 134 do Código Penal e passível de pena de reclusão se resultar em morte.
“Por exemplo, uma mãe que deseja entregar seu filho, ela pode fazê-lo na Vara da Infância que nós damos toda assistência a ela, desde o acompanhamento ao pré-natal, não incentivando que ela entregue, mas incentivando que ela amadureça a ideia, porque pode acontecer dela mudar. Se ela entrega a criança, não deixa de ser um ato de amor, porque nem todas as mulheres entregam os filhos porque são mulheres más ou monstruosas, muitas vezes, elas não têm condições de cuidar daquela criança, sejam condições físicas, emocionais ou financeiras”, diz Lima.
Demora no processo
Para a juíza, o processo de adoção não precisa ser rápido, pois é preciso que os órgãos responsáveis adotem todo o cuidado necessário, principalmente, para saber se o pretendente tem capacidade, de fato, de se tornar pai ou mãe.
“Quando falamos em adoção, muitas pessoas reclamam do tempo de demora para finalizar o ato, mas, eu lembro: a gestação biológica demora nove meses e por que o processo de adoção tem que ser mais rápido?Estamos trabalhando com vidas, tanto de quem está sendo adotado quanto de quem quer adotar. Temos que ter esse cuidado, fazemos estudo tanto pelo serviço social quanto pela psicologia. Há todo um estudo é que feito, de maneira que nós temos segurança daquilo que está sendo feito”, afirmou.
Números pelo País
Em todo Brasil, segundo dados do Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento, do CNJ, são 33.840 crianças e adolescentes em abrigos no país. Destas, 5.059 estão aptos à adoção, sendo que 2.726 já iniciaram o processo.
O cadastro tem, ainda, 36.437 pessoas interessadas em adotar uma criança. Apesar disso, apenas 2,7% dos pretendentes aceitam adotar crianças acima dos 10 anos, cuja quantidade chega a 83% no sistema nacional.