No Maranhão, ‘onda’ de violência contra trabalhadores rurais deixa quarta vítima em menos de um mês

Em menos de um mês, quatro pessoas foram vítimas de atentados ligados a conflitos agrários (Reprodução/Internet)

12 de julho de 2021

13:07

MANAUS – O assassinato de um trabalhador rural no Maranhão nesse domingo, 11, reacendeu a preocupação sobre a segurança dos trabalhadores diante dos conflitos agrários no Estado. José Francisco de Sousa Araújo, conhecido como “Vanu”, foi a quarta vítima desses conflitos em menos de um mês, de acordo com a Federação dos Trabalhadores Rurais do Maranhão (Fetaema). A organização aponta ainda que o agronegócio nesses conflitos são resultados do avanço do agronegócio.

O Maranhão tem sido protagonista de uma onda de violência contra trabalhadores rurais, agricultores e agricultoras familiares. Além do assassinato de José, houve também a morte do agricultor familiar Antônio Gonçalves Dias, no último dia 2. Além da tentativa de homicídio de Juscelino Galvão, no dia 3 deste mês. O casal de trabalhadores rurais Reginaldo Alves Barros e Maria da Luz Benício de Sousa foram assassinados no dia 18 de junho em um crime que a Fetaema afirma ter sido uma “emboscada”.

Motivação

José Francisco era residente do município de Codó, a 219 quilômetros de São Luís, mas nasceu e foi criado no Povoado Vergel. Em 2019, em razão de uma tentativa de homicídio, mudou-se com a família para a comunidade Volta da Palmeira, onde foi assassinado. De acordo com a Fetaema, Vanu “era grande conhecedor dos conflitos agrários na comunidade Vergel, que já vitimaram fatalmente quatro de seus parentes”.

De acordo com o advogado da Fetaema, Diogo Cabral, ainda não há mais informações sobre autoria e motivação do assaassinato de Vanu na região conhecida pelo histórico de crimes motivados por conflitos agrários. “Anda não se sabe quais foram as razões, motivações, autoria do assassinato. O que nós sabemos é que Vanu era trabalhador rural, que nasceu e se crio na comunidade Vergel, em Codó, e que em 2019 sofreu um atentado a bala e precisou sair daquela localidade”, apontou o advogado.

Ele completa afirmando que essa localidade é palco histórico de conflitos agrários, onde mais de quatro pessoas foram mortas e varias outras foram ameaçadas de morte. “É fundamental que a Polícia Civil investigue com maior rapidez possível esse caso para que não fique à sombra da impunidade”, determinou Cabral.

O advogado Diogo Cabral (Reprodução/Instagram)

Atentados

A morte de José Francisco é a terceira execução de agricultores familiares no Maranhão. O trabalhador rural Antônio Gonçalves Diniz também foi assassinado por dois homens. Ele era conhecido por lutar pelo direitos doa agricultores familiares da baixada maranhense, ser defensor da reforma agrária e contra os cercamentos dos campos naturais.

No dia seguinte à morte de Antônio, Juscelino Galvão sofreu um atentado, mas conseguiu escapar com vida. Ele é ex-dirigente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Alto Alegre, no Maranhão, e liderança do projeto de Assentamento Boa Hora Campestre.

No dia 1º de julho, dia anterior ao atentado, ele esteve no Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) em reunião com a superintendente do órgão denunciando o conflito agrário provocado por grileiros de terras e as ameaças sofridas pelos trabalhadores rurais do assentamento.

Reginaldo Alves Barros e Maria da Luz Benício de Sousa foram assassinados no dia 18 de junho (Reprodução/Arquivo Pessoal)

O casal de Reginaldo e Maria no Povoado Vilela/Gleba Campina, município de Junco do Maranhão. Maria era dirigente sindical e atuava como suplente do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (STTR) de Junco do Maranhão, filiado à Fetaema. A comunidade é composta por um total de 66 famílias que ocupam uma área de aproximadamente 2.250 hectares de terra, onde desenvolvem atividades de agricultura familiar, com o plantio de milho, feijão, arroz, além da criação de animais.

Agronegócio

Os conflitos agrários no Maranhão são resultados do avanço do agronegócio nas regiões rurais. De acordo com o secretário de Meio Ambiente da FETAEMA, Antônio Sorriso, a atividade tenta inibir a produção familiar dos agricultores locais. “Com o avanço do sojicultor, a agricultar familiar dessas regiões já se sente intimidada com as situações que vem vivendo. Cada vez que avança o agronegócio, a agricultura é sufocada. Dentro do agronegócio, vem tudo que afeta a vida do trabalhador”, disse Sorriso.

“O agrotóxico, as pulverizações áreas, que é uma forma que eles vem utilizando para intimidar, porque a partir do momento que é colocado veneno no avião, cobre a comunidade, afeta a saúde daquelas pessoas. Muitas vezes essas famílias são obrigadas a deixar suas pequenas propriedades pro agronegócio”, finalizou Antônio.

A reportagem entrou em contato com a Secretaria de Segurança Pública do Maranhão sobre o andamento das investigações referentes ao atentado contra José e demais trabalhadores rurais, mas não obteve retorno até a publicação desta matéria.