Número de feminicídio em 2020 cresce 55% em Manaus e quarentena pode ter contribuído para esse aumento

Como especialistas haviam previsto, a violência doméstica cresceu com a pandemia e o feminicídio é a face mais cruel dessa realidade (Reprodução/Internet)

05 de fevereiro de 2021

17:02

Gabriel Abreu

MANAUS – O número de feminicídios aumentou em 2020 em Manaus, segundo dados da Secretaria de Segurança Pública do Amazonas (SSP-AM), o aumento foi de 55% em 2020 comparado com o ano 2019. A alta nos números assusta e pode estar ligada ao período em que muitas mulheres ficaram em casa por conta da pandemia do novo coronavírus.

Em todo país existem campanhas para combater a violência contra a mulher e a prática vergonhosa do feminicídio (Reprodução/Internet)

Os meses de maio e agosto foram os que mais registraram mortes, três em cada. Em seguida, aparecem os meses de junho e setembro com dois registros. Julho, outubro e novembro compilaram um caso em cada. Somando todos os óbitos, foram 14 mulheres mortas, enquanto em 2019 foram registradas nove mortes de mulheres.

Para enquadrar o assassinato de uma mulher como crime de feminicídio, é necessário que o autor tenha cometido o ato em razão de violência doméstica e familiar, menosprezo ou discriminação à condição de mulher.

Um dos casos que mais marcaram em 2020 foi quando Leonardo Freitas Natividade, conhecido como “Leco”, de 28 anos, foi preso após assassinar a própria mãe. O crime aconteceu na Travessa Boa Esperança, bairro Crespo, Zona Sul de Manaus, na madrugada do dia 9 de junho, por volta de 00h45. A vítima, Marcelina Natividade, tinha 60 anos. A polícia acredita que o dinheiro tenha sido a motivação do assassinato. Leonardo fugiu da residência levando a quantia de R$ 300 da mãe, mas foi preso no mesmo dia por policiais da Delegacia Especializada em Homicídios e Sequestros (DEHS).

Dados divulgados no site da SSP-AM de 2019 e 2020 (Samuel Santos/ Revista Cenarium)

Pandemia

Segundo a delegada titular da Delegacia da Mulher, Débora Mafra, o número foi maior em 2020 por conta da pandemia causada pelo novo coronavírus já que muitas das vítimas estavam em casa e o fator econômico pode estar por trás dos casos, já que as mulheres estavam em casa na companhia dos agressores. Tal condição as deixou vulneráveis diante do feminicida.

“A pandemia levou um aumento de quase um terço dos casos, em todo o Brasil e aqui no Amazonas não foi diferente. O fator econômico é um dos causadores, mas não é somente esse, porque quando começa a ter problema financeiro dentro de casa, as discussões são mais frequentes, mas não era para ter um feminicídio por isso. Na verdade, o agressor e a violência já estavam dentro da casa morando, então, na verdade foi só mais um fator, mas não é o fator que faz o agressor, na verdade qualquer coisa faz que haja com violência”, explicou a delegada.

Para a delegada titular da Mulher, Débora Mafra, fator econômico pesa, mas não justifica violência (Reprodução/Divulgação)

Mobilização contra o feminicídio

Em entrevista, a ativista feminista negra Michelle Andrews ficou assustada com o crescimento no número de mulheres mortas em Manaus e lembra que as políticas públicas são fundamentais para diminuir esses números. “A mulher ainda continua morrendo na nossa cidade e isso é trágico, eu sofro quando fico sabendo desses dados alarmantes”, desabafou.

“Nesses 11 meses de pandemia, os movimentos sociais estavam ajudando as mulheres colaborando financeiramente e ajudando essas mulheres a empreender. Se não fosse por isso, esses números estariam ainda maior. A grande parcela desses números que vêm aumentando precisam de uma resposta, precisam de uma política pública voltada para atender essas mulheres abaladas por conta da pandemia”, destacou Michelle.

Núcleo de Combate ao Feminicídio

Em agosto de 2020, a Polícia Civil do Amazonas (PC-AM) inaugurou o Núcleo de Combate ao Feminicídio (NCF), que é responsável por investigar os homicídios consumados ou tentados, tendo como vítimas o gênero feminino. O núcleo está localizado na Delegacia Especializada em Homicídios e Sequestros (DEHS), na avenida Autaz Mirim, bairro Jorge Teixeira, Zona Leste de Manaus. O núcleo funciona como um setor que investiga com mais rigidez esse tipo de crime.