‘Nunca somos completos se não ajudarmos o próximo’, diz diretor da maior policlínica do AM

Com 29 anos, fisioterapeuta Rainer Figueiredo comanda a maior policlínica do Estado, a Policlínica Codajás, e presta serviços médicos de forma mais humanizada (Ricardo Oliveira/Cenarium)

25 de agosto de 2021

11:08

Marcela Leiros e Carolina Givoni – Da Cenarium

MANAUS (AM) – Nascido no interior do Amazonas, no município de Coari, a 363 quilômetros de Manaus, o jovem Rainer Figueiredo, já contabiliza grandes conquistas. Aos 29 anos, o fisioterapeuta está à frente da maior policlínica do Estado, a Policlínica Codajás, localizada no bairro Cachoeirinha, Zona Sul da capital amazonense.

A força de vontade rendeu frutos logo cedo. Aos 16 anos, conquistou vaga no curso de Fisioterapia da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) – Campus Coari. A partir de então, surgiram outras conquistas.

Rainer possui pós-graduação em Fisioterapia Dermatofuncional e experiências em Fisioterapia e Terapia Ocupacional, e Fisioterapia Hospitalar. Atualmente, é professor de Ensino Superior na Escola de Saúde do Centro Universitário do Norte (Uninorte Laureate), atuando em cursos na área da saúde, como Fisioterapia, Estética e Cosmetologia, entre outros.

Vocação

Rainer defende que as pessoas da área da saúde já “nascem” com uma vocação para ajudar o próximo. “Lembro que na faculdade a gente tinha o estágio em saúde pública, então nós íamos para a periferia para atender os pacientes em domicílio que estavam em situação de vulnerabilidade. E, quando eu entrava na casa daqueles pacientes, eu sentia algo e via que precisava ajudar de alguma forma”, disse.

Segundo ele, a maior felicidade não está na parte de obter bens pessoais, mas sim poder ter meios para ajudar. “Eu sempre falo que a gente está nesse mundo de passagem. Nunca vamos ser completos se não ajudarmos o próximo”, sentencia.

Paciente durante atendimento na Policlinica Codajás, em Manaus, no Amazonas (Ricardo Oliveira/Cenarium)

Evolução

Nascido em Coari, Rainer conta a trajetória para chegar a diretor da maior policlínica do Amazonas. “Sempre fui muito empenhado em fazer workshops, sempre estava na coordenação de algum evento, de algum simpósio, projeto de extensão. Eu sempre queria fazer mais. Trabalhei no Hospital Regional de Coari, durante três anos, e na Associação Pestalozzi de Coari, que trata crianças especiais. Entrei na pós-graduação de dermatofuncional e ficava indo e vindo de Coari para Manaus”, disse.

Na capital, começou a atender na área de estética, alugou uma sala comercial e decidiu ser referência. “Distribuí meu currículo para várias faculdades e a Uninorte me chamou. Foi quando fui convidado para dar aula também na pós-graduação e essa é no Brasil inteiro. Até que eu não consegui mais conciliar, mas consegui atender jornalistas e influenciadores digitais”, completa.

Sexualidade

Casado com o cirurgião-dentista Davi Dabela, Rainer conta como foi o processo de lidar com a homossexualidade. “Uma vez me perguntaram como é ser gay no interior do Estado e eu respondi que é tão difícil quanto aqui na capital, a única diferença é a violência. Lá não tem tanta violência quanto aqui ou em qualquer outra região metropolitana. Você pode sofrer algum bullying, ter alguma piadinha, mas não tem as vias de fato”, comentou.

“Quantas vezes eu ficava no meu quarto chorando e dizendo: Senhor, eu não quero isso! Eu queria ser uma pessoa ‘normal’, não queria ter esses trejeitos, queria ficar na escola normal, queria brincar com os outros meninos. Dentro de casa, a mãe e o pai nunca querem isso para um filho. Nenhum pai ou mãe quer que o filho sofra, que passe por isso que eu passei”, detalha.

Rainer e o marido, o cirurgião-dentista Davi Dabela (Ricardo Oliveira/Cenarium)

Policlínica

A Policlínica Codajás completou 37 anos, em junho deste ano. A unidade de saúde era conhecida popularmente pelas filas quilométricas de pacientes que aguardavam por consultas, mas, com a implementação do Sistema de Regulação (Sisreg), a longa espera nestas filas não é mais necessária.

À frente da unidade desde outubro de 2019, o fisioterapeuta Rainer Figueiredo administra mais de 500 funcionários e cerca de 1 mil atendimentos por dia. Por mês, são mais de 60 mil pacientes que passam pelos atendimentos de média complexidade, em pelo menos, 30 especialidades médicas e não médicas, como fonoaudiologia, psiquiatria, gastroenterologia, pneumologia, cardiologia, entre outros.

Referência no atendimento à população LGBTQIA+, ele detalha como funciona a atenção ao público. “Temos o ambulatório transexualizador, ele funciona desde 2017. É um projeto da doutora Jennifer [Morais de Melo] com a doutora Dária [Barroso Serrão das Neves]. E, hoje, nós temos mais de 300 pacientes cadastrados e sendo acompanhados pelo programa. Esse paciente passa por um processo de transexualização, então é todo um acompanhamento que ele passa com ginecologista, com fonoaudiólogo, com psicólogo, com assistente social”, diz.

“Existe um acompanhamento com uma equipe multidisciplinar para que ele participe do processo transexualizador. Isso é muito importante porque não precisam fazer uso da medicação hormonal sem orientação. Tem muito disso, das pessoas trans que fazem a automedicação. Na clínica tem acompanhamento com endócrino e ginecologista, é prescrita a parte da hormonioterapia para que esses pacientes possam fazer o uso desses remédios de forma acompanhada”, pondera.

Com a policlínica fazendo 37 anos, Rainer conta os planos futuros. “A gente nunca vai estar 100%, mas a gente precisa, a cada dia, estar melhorando, estar atendendo melhor a população. Hoje, nós temos uma fila enorme em todas as especialidades, então a gente pretende ampliar mais esses atendimentos. Chamar mais funcionários para atender, escoando mais essa grande fila que nós temos e trazer mais programas”, completa.

“Hoje, nós estamos em fase de acordo pra levar o setor de PREP [Profilaxia Pré-Exposição] e de PEP [Profilaxia Pós-Exposição] para atendimento desses pacientes. São alguns setores que queremos ampliar. Modernizar a estrutura física, ampliar os atendimentos e agregar mais especialidades ao atendimento”, finaliza.