‘O governo genocida atual está totalmente empenhado em negar o papel da escravidão na formação do Brasil’, diz Lula em vídeo

Ex-presidente Lula ainda comentou sobre a morte de João Farias, homem negro espancado em uma unidade do Carrefour no Rio Grande do Sul e criticou governo Bolsonaro chamando de genocida (Reprodução)

21 de novembro de 2020

10:11

Luís Henrique Oliveira – Da Revista Cenarium

MANAUS – Em um vídeo de pouco mais de 13 minutos, publicado nessa sexta-feira, 20, nas redes sociais, o ex-presidente Lula relembrou uma visita que fez em 2005 ao Senegal, na África, onde negros eram embarcados para serem escravizados no Brasil. Na publicação, Lula lembrou ainda o crime brutal do homem negro, espancado até a morte, em uma unidade do Carrefour na quinta-feira, 19, no Rio Grande do Sul, e disse que o governo atual é genocida e nega racismo.

“Esse dia lembra, sobretudo, a incrível resistência do povo negro contra a escravidão e o racismo. Ele homenageia os esquecidos heróis e heroínas da Revolta dos Malês, da Revolta do Engenho de Santana, da Revolta das Carrancas, do Quilombo do Ambrósio, do Quilombo do Jabaquara, da Conjuração Baiana, da Revolta de Manoel Congo e de tantas outras revoltas que mostram que a escravidão não conseguiu aprisionar a alma guerreira das negras e dos negros do Brasil”, disse Lula em trecho do vídeo.

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O ex-presidente inicia o vídeo falando da formação do País. “Hoje, 20 de novembro, é Dia Nacional da Consciência Negra.Este é um dia que todas as brasileiras e todos os brasileiros têm de celebrar, independentemente de raça e cor. Porque este é um dia que define nosso País. Define o que somos e o que podemos ser”.

Em 2005, quando ainda era presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva fez uma viagem à Ilha de Gorée, na costa do Senegal, um dos locais de onde africanos escravizados eram embarcados à força para as Américas. “Minha emoção foi tanta que, em nome do povo brasileiro, pedi desculpas à África e aos africanos pela escravidão”, disse ao visitar uma das celas onde homens, mulheres e crianças eram aprisionados antes de serem embarcados nos navios negreiros. “A data de hoje recorda a terrível realidade da escravidão, mas lembra também o exemplo da luta gloriosa do povo negro por sua libertação. Rememora as noites angustiantes nos navios negreiros, mas lembra também o amanhecer corajoso de Zumbi e Dandara em Palmares”.

Crime no Carrefour é reflexo de um ‘governo genocida’

A fala de Lula no Dia da Consciência Negra vem após a repercussão do trágico episódio criminoso que resultou na morte de João Alberto Silveira Freitas, de 40 anos, espancado por dois homens brancos em um supermercado Carrefour. O crime trouxe à tona, outra vez, o preconceito vivenciado por milhares de brasileiros e brasileiras e gerou protestos e revolta na internet.

O vice-presidente da República, Hamilton Mourão, afirmou nessa sexta-feira, 20, que no Brasil “não existe racismo”. Ele deu a declaração ao comentar o assassinato no supermercado.

“Lamentável, né? Lamentável isso aí. Isso é lamentável. Em princípio, é segurança totalmente despreparada para a atividade que ele tem que fazer […] Para mim, no Brasil não existe racismo. Isso é uma coisa que querem importar aqui para o Brasil. Isso não existe aqui”, afirmou Mourão.

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Mas ainda em seu vídeo, Lula criticou o vice-presidente. “O governo genocida atual está totalmente empenhado em negar o papel da escravidão na formação do Brasil, o racismo estrutural que define profundamente nossa sociedade e, sobretudo, a luta da população negra contra sua opressão histórica. Temos um presidente que afirma que os quilombolas têm de ser pesados em arrobas, como gado, e que esses descendentes dos combatentes contra a escravidão não servem nem para procriar. Temos um governo que defende as velhas e falsas ideias de que a escravidão não foi tão ruim assim para os negros, de que os povos africanos foram responsáveis pela escravidão e de que não há racismo no Brasil”.

Um mundo igualitário é possível

Após ainda citar personalidades negras e descendentes de escravos, Lula, em seu discurso, finalizou com o pensamento de Nelson Mandela. “Mas se, como disse Mandela, ensinarmos as pessoas a amar, construiremos, todos juntos, um novo mundo democrático, igualitário e bem mais feliz. Um mundo sem racismo e ódio. Um mundo com a coragem de Zumbi e Dandara, pois o ódio é covarde e o amor é valente. Um mundo luminoso de vida para o Brasil. Esse mundo, minha gente, é possível. E não é só possível. Esse é o mundo necessário para que todos sejam livres. Para que todos sejamos humanos. É o mundo de que todos, negros e brancos, precisamos. O racismo é a origem de todos os abismos desse país. É urgente interrompermos esse ciclo”.

Assista ao vídeo completo da publicação de Lula: