09 de março de 2021
20:03
Priscilla Peixoto – Da Revista Cenarium
MANAUS- O maior banco de currículos e vagas de trabalho do Brasil, o Transempregos, em parceria com um aplicativo de idiomas, lançará um guia de inclusão linguística de pessoas de diversos gêneros. O intuito é valorizar as identidades de gênero, bem como orientar a forma mais correta de se comunicar e se portar diante da diversidade de gênero.
A responsável pelo material é a doutora em linguística Carmem Rosa Caldas-Coulthard e está disponível de forma gratuita na internet. O documento mostra, por exemplo, como usar artigos e pronomes apropriados para cada gênero como a utilização de palavras terminadas em “e” para o caso das pessoas não binárias.
Em uma recente entrevista para o Portal IG, uma das fundadoras da empresa Transempregos, Maitê Schaineder, fez questão de ressaltar: “Não adianta inserir a pessoa trans no mercado de trabalho sem antes sensibilizar a empresa e os colaboradores. É preciso haver uma capacitação do RH, bem como algum projeto de conscientização e inclusão para criar um ambiente onde a pessoa trans possa trabalhar com naturalidade”, explicou Maitê.
O guia tem, ao todo, 25 páginas e traz uma miniglossário onde é possível encontrar diferenças básicas em termos como identidade de gênero, sexualidade, homens trans, sexo, mulheres trans, não binárias e até mesmo um resumo do que significa cada letra da sigla LGBTQIA+.
Maitê Schaineder considera ainda a iniciativa um avanço para a educação da sociedade e essencial para mercado corporativo, podendo ser usado, inclusive, nos recursos humanos (RH) das companhias para abrir o leque de oportunidades e inclusão no mercado de trabalho.
Linguagem é apenas uma parte
Para o amazonense e especialista em sexualidade, gênero e direitos humanos, Thiago Costa, 32, as pessoas trans já estão incluídas na linguísticas, uma vez que homens e mulheres trans já estão inclusos no sistema binário. “O que acontece é que na língua portuguesa, apesar de ser nossa língua materna, ela tem um viés extremamente patriarcal e o coletivo sempre vem no masculino”, pontua o especialista.
Ele explica que é possível ter como linguagem inclusiva palavras no feminino ou que não tenham gênero, como por exemplo, substituir a palavra professores/professoras pela palavra discente.
“A linguagem utilizando as vogais “e” e “u” eu vejo mais voltadas para as pessoas trans que não se identificam dentro do sistema de binarismo. Eu vejo que este guia é apenas uma ferramenta para auxiliar o local mais agradável e seguro para entendimento e comunicação das pessoas, mas há todo um trabalho a ser feito. Não só para abertura de vagas, mas para a manutenção dessas vagas e humanização dos funcionários para que não haja preconceito”, orienta Thiago.
Vale ressaltar que a linguagem é fluida assim como a sexualidade. Novas intepretações e construção surgem de tempos em tempos. “Essas construções são feitas em sociedade, pela sociedade e para a sociedade. É normal que haja esses marcadores neste primeiro momento para identificações”, observou.
“Mudanças acontecem na língua portuguesa e essa dificuldade de alteração na escrita é uma amostra da relação de poder das pessoas cis sobre as pessoas trans. O guia não é uma solução completa, mas uma parte da solução. Precisamos muitos mais do que a inclusão linguística, tem que haver a diversidade”, finalizou.