Pesquisa da Fiocruz descarta linhagem africana do vírus da zika na Amazônia Legal

Especialista alerta que vigilância e prevenção devem ser constantes para conter a proliferação do vírus. (Reprodução/Internet)

26 de junho de 2020

13:06

Luciana Bezerra – Da Revista Cenarium

Manaus – A pandemia do novo Coronavírus tem afetado o cotidiano de todos e desafiado pesquisadores de diversos países. Mas vale lembrar, que há poucos anos um outro vírus se desenvolveu e trouxe prejuízos ao Brasil, o da zika. Agora, uma pesquisa recente da Fundação Oswaldo Cruz sobre a descoberta de uma nova linhagem do vírus da zika deixou muitos brasileiros preocupados, principalmente, os do Estado da Amazônia Legal, onde o período de seca já começou, o que acaba contribuindo para a proliferação do mosquito.

De acordo com o estudo realizado por pesquisadores do Centro de Integração de Dados e Conhecimento para a Saúde (Cidacs), da Fiocruz Bahia, a nova linhagem africana do vírus da zika, que tem o potencial de originar uma nova epidemia da doença, já estaria circulando pelo País. Em estudos preliminares os cientistas encontraram focos da linhagem africana do zika, nas regiões sul (Rio Grande do Sul) e sudeste (Rio de Janeiro).

No entanto, o coordenador de Vigilância de Viroses Emergentes e vice-diretor de Pesquisas, da Fiocruz Manaus, Felipe Naveca, descarta a existência da linhagem africana do vírus na região Norte. Segundo Felipe, que é especialista em vírus emergentes como zika, aedes e chikungunya, é preciso cautela antes de divulgar um dado desta proporção, principalmente, no que se refere à imunização e à circulação da doença no Brasil.

“É importante tomar um certo cuidado com essa informação para que ela esteja totalmente correta. Vou citar o exemplo do vírus do sarampo, que tem uma vacina há muitos anos que é de um genótipo do sarampo e é usada para todas as linhagens do vírus. Então, não é a diferença de uma linhagem que vai fazer a população não ter proteção. Também não é motivo de alarde para quem já teve zika de uma linhagem ser contaminado por outra, pois isso não é exatamente assim. Portanto, na maioria dos casos vai haver uma proteção”.

Sobre a circulação da nova linhagem da doença no Brasil o pesquisador é enfático. 

“Posso garantir que não encontramos nenhuma linhagem que não fosse a asiática nos dados de Manaus (AM). Foram sequenciadas aproximadamente 100 amostras do Amazonas e de Roraima (RR) e nenhuma linhagem africana do vírus da zika foi detectada na região Norte. Temos uma vigilância constante para saber quais tipos de vírus estão circulando, não apenas para os vírus do zika, dengue, chikungunya”, explica. 

O cientista da Fiocruz Manaus afirma ainda que é importante fazer um monitoramento, principalmente num País de proporções como Brasil, onde a epidemiologia não necessariamente é a mesma em todos os Estados. 

A Fiocruz Manaus, em parceria com a Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas (FVS-AM), mantém um programa frequente de monitoramento de vírus emergentes em todo o Estado, cujo objetivo é detectar qualquer vetor suspeito e encaminhá-lo imediatamente para equipes de controle e, assim, impedir a circulação do transmissor na região, destaca Felipe Naveca.

Entenda a linhagem do vírus

Cientificamente são conhecidas três linhagens principais do vírus da zika: uma asiática e duas africanas (subdividida em oriental e ocidental). As africanas são as mais antigas, foram as primeiras linhagens a serem conhecidas.

No entanto, a que se espalhou pelo mundo inteiro foi a de linhagem asiática, onde os primeiros focos foram descobertos na Polinésia Francesa e, posteriormente, por outros países. 

Em relação ao estudo dos pesquisadores da Fiocruz Bahia, Felipe Naveca, destaca que duas coisas precisam ser explicadas.

“Primeiro, os pesquisadores da Fiocruz Bahia fizeram uma ferramenta de classificação. Essa informação de que tinha linhagem africana circulando pelo Brasil não é originariamente deste artigo, mas eles citam isso na pesquisa. A ferramenta deles encontrou esse dado. No entanto, entramos num segundo problema, já que esses artigos que foram citados na pesquisa não estão na versão final, pelo menos com os nomes que foram citados. Então, é importante tomar um certo cuidado com essa informação para que ela esteja totalmente correta”.

Cuidados necessários

A limpeza dos recipientes de água deve ser realizada pelo menos uma vez na semana, com água e sabão, esfregando bem para a remoção de possíveis ovos. A FVS-AM recomenda o cuidado redobrado com o lixo doméstico e recipientes plásticos que, quando descartados inadequadamente, acumulam água e se tornam criadouros do mosquito.

Na maioria das vezes os focos do mosquito estão localizados dentro dos quintais e das próprias residências. A orientação é conservar a caixa d’água, tonéis e barris de água bem fechados; colocar o lixo em sacos plásticos e manter a lixeira fechada; não deixar água acumulada sobre a laje, manter garrafas pet com a boca virada para baixo; acondicionar pneus em locais cobertos; proteger ralos sem tampa com telas finas, encher pratinhos de vasos de plantas com areia até a borda e lavá-los uma vez por semana são algumas das medidas de prevenção.

Casos

De acordo com o Ministério da Saúde, em 2020, foram notificados mais de 3,6 mil prováveis casos do vírus da zika – número muito inferior aos 47.105 casos de chikungunya e aos 823.738 de dengue. 

No último Boletim Epidemiológico da FVS-AM  sobre as Arboviroses transmitidas por Aedes aegypti, 6.183 casos de dengue notificados no Amazonas, de janeiro a junho de 2020.

De janeiro a junho de 2019, foram registrados 7.679 notificações por dengue no Amazonas. Não foram registrados nenhum óbito por dengue no Estado, em 2019.

Em relação à chikungunya, 191 casos foram notificados, em 2019, e 108 casos de zika vírus.

Vale lembrar que o vírus da zika está associado ao aumento de recém-nascidos com microcefalia. Ele foi diagnosticado pela primeira vez no Brasil em 2015. Até dezembro de 2019, o Ministério da Saúde confirmou 3.474 casos no país. Estudos sobre a doença apontam que, a cada 1.000 gestantes infectadas pelo vírus, 50 a 420 podem dar à luz a bebês com a síndrome.