‘Que mais indígenas usem a internet como aliada e ecoem nossas vozes’, afirmam mulheres indígenas

Cada vez mais elas se unem para postar informações relevantes sobre questões indígenas nas redes sociais (Reprodução/ Instagram)

10 de julho de 2021

09:07

MANAUS- A utilização da internet como ferramenta estratégica de luta e reivindicações indígenas tem se tornando cada vez mais presente no cotidiano dos líderes e ativistas dos povos originários. As mulheres, em especial, têm se destacado na utilização desses espaços virtuais. A CENARIUM conversou com dois exemplos de força e atuação feminina que produzem conteúdo com questões indígenas diversas.

Para a indígena do povo Kiriri (indígenas brasileiros que habitam o Nordeste do Estado da Bahia) e comunicadora do Movimento Unido dos Povos e Organizações Indígenas da Bahia (Mupoiba), Fabiana Kiriri, os recursos midiáticos são espaços propícios para mobilizações e uma aliada que, por vezes, soma resultado a cada pedido de socorro.

“A internet e as redes sociais hoje também são espaços que podemos ocupar. Ela tem contribuído muito para os movimentos indígenas. Tento sempre ver como aliada quando bem usada dá sim resultado”, conta Fabiana Kiriri.

A educadora indígena lembra que precisou passar por um processo de desconstrução em relação ao uso dos recursos midiáticos tão comuns atualmente, para entender a “força” que possui internet.

“Nem sempre foi assim, confesso que não tinha noção da potência que a internet possui e dessas redes. Somente após desmitificar algumas questões que eram impostas pela visão do não indígena, comecei a entender a importância dessa relação”, explica a indígena.

Recentemente Fabiana Kiriri saiu na página @pelasmulheresindigenas na qual citou 6 jovens indígenas que estão nas redes sociais reexistindo e informando sobre a luta dos povos originários. Nomes como o da produtora cultural e militante indígena e LGBTQIA+, Bia Pankaru, a coordenadora do @saran.pataxo, Kecia Pataxo, a educadora indígena e pesquisadora do Centro de Referência Virtual Indígena Armazém Memória, Juliana Tupinambá, e a Comunicadora e Ativista Indígena Itocovoty Pataxó integram a lista.

“Estou maravilhada e sem acreditar que estou cada vez mais engajada e ao lado de mulheres fortes de luta. É tudo muito novo para mim e me inspira mulheres tão empoderadas e grandes que mostram a força da nossa união com mensagens de levante a outras mulheres e levando nosso propósito, por meio da internet, seja protesto, inquietações ou palavras de acolhimento. É importante que as pessoas sigam estas páginas ligadas aos movimentos indígenas como @mupoiba, @mídiaindia, e tantas outras para ficar por dentro e informado de forma rápida”, conta Fabi.

Fabiana Kiriri do povo Kiriri (Reprodução/ Instagram)

“O celular é o arco e a internet é a flecha”

Filha de duas etnias Kariri-Sapuyá, do Sul da Bahia e o povo Terena do Mato Grosso do Sul, a ativista indígena e comunicadora Itocovoty Pataxó, de apenas 20 anos, também conversou com a CENARIUM sobre essa crescente utilização das mídias como ferramenta positiva para a comunidade indígena.

Para a indígena baiana, que, atualmente, reside em Cruz das Almas no Recôncavo da Bahia, a internet e as redes sociais são aliadas, principalmente, na hora de fazer denúncias e comunicar os demais sobre o que está acontecendo em outros territórios.

“Quando eu digo que o celular é o arco e a internet é a flecha, falo sobre a força e potência da comunicação indígena. A frase me veio em um sonho e me baseio nela para a comunicação. A verdade é que nosso maior objetivo é conscientizar a sociedade que nós, povos indígenas, utilizamos todas essas ferramentas tecnológicas como instrumento de luta, mas não deixamos de ser quem somos por conta do uso de um simples celular, por exemplo”, ressalta a Pataxó.

Em relação às colegas que também têm se destacando no uso diário desses espaços Itocovoty considera que o hábito adquirido traz força, poder e abre caminhos para que novas gerações indígenas possam se espelhar e continuar a produzir conteúdos de valor e ecoando a voz da resistência também nos meios virtuais.

“Nós intimidamos com nossas vozes, é por isso que precisamos cada vez mais ocupar as redes, acredito muito na garra da mulher indígena. Queremos que as flechas de conhecimentos sejam lançadas, para que mais pessoas unam-se a nossa luta indígena”. finaliza Itocovoty Pataxó.

Itocovoty Pataxó, 20 anos, pertence aos Kariri- Sapuyá e Terenas (Reprodução/ Instagram)