Queimadas intensificam poluição atmosférica e impactam na saúde

Em 23 de agosto de 2019, o Greenpeace sobrevoou diversas áreas da floresta amazônica para documentar as queimadas que estão chamando a atenção do mundo (Victor Moriyama/Greenpeace)

31 de julho de 2021

16:07

Marcela Leiros – Da Cenarium

MANAUS – A queima das florestas impacta diretamente na saúde das pessoas, mesmo de quem vive a quilômetros de distância dos focos de calor. A fumaça gerada contém poluentes que afetam quem tem problemas respiratórios crônicos e ainda prejudicam a saúde as pessoas estas doenças. A previsão para este ano é que as queimadas sejam maiores que em 2020 – quando foi registrado o maior número no Brasil desde 2010, com 222.797 focos de calor – já que o desmatamento também tem registrado recordes.

O fogo é utilizado principalmente no processo de desmatamento em territórios que servirão para pastagens ou monocultura. Apenas nos últimos 11 meses, a Amazônia chegou ao pior recorde histórico da década, com 8.381 km² desmatados de acordo com o relatório do Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), divulgado no último dia 19 de julho.

Além das queimadas, a região também sofre com o tempo seco e com escassez de chuvas do verão amazônico, que contribui para os problemas respiratórios. Por essa razão, o especialista em Pneumologia e Medicina do Sono, Gilson Martins, pontua sobre o caso.

“Essas queimadas jogam particulados orgânicos e inorgânicos no ar, e fazem com que a quantidade de poluentes que nós inalamos se tornem maior. Para aquelas pessoas que já tem doença pulmonar, como asma, bronquite crônica pelo tabagismo pregresso, ou bronquiolite, no caso das crianças, a carga de poluentes inalado faz com que essa doenças se exacerbam”, detalhou.

Imagem aérea de queimadas na cidade de Altamira, Estado do Pará. (Victor Moriyama/Greenpeace)

Dores

Essas consequências da queima de biomas como a Amazônia são sentidas por pessoas como a estudante de medicina veterinária Ana Clara Santiago, que sofre com sinusite e rinite – duas inflamações nas mucosas da face. Os incômodos se intensificam quando acentua a poluição atmosférica, como conta ela.

“Quando tem fumaça o nariz entope, endurece todo o rosto pq fica inflamado. Dente dói, cabeça dói, olhos ficam lacrimejando o dia todo. Quando o clima tá muito seco preciso de umidificador pra dormir. Se não usar, a garganta fica seca e fico desconfortável em algumas posições”, contou a estudante, grávida de nove meses.

A estudante Ana Clara Santiago (Reprodução/Arquivo Pessoal)

O pneumologista David Luniere também pontuou que os sintomas causados pela poluição atmosférica, intensificada pelas queimadas, podem agravar a doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e levar até mesmo a morte.

“Alguns trabalhos descrevem sinais e sintomas de tosse, falta de ar, irritação nos olhos e garganta, obstrução nasal, náuseas, cefaleia como efeito direto/agudo da exposição à poluição das queimadas. Isso também pode levar à exacerbação ou crise de rinite, asma, DPOC e bronquite, além de ter consequências cardiovasculares, gastrointestinais, neurológicas, oftalmológicas e dermatológicas, e situações graves de intoxicação e morte”.

Como evitar

Os especialistas ainda pontuaram que o número de busca e atendimentos médicos aumentam no período do verão amazônico, que vai do início de julho até o fim de outubro. Para evitar a intensificação dos sintomas, são recomendados a continuação do tratamento, nos casos dos problemas respiratórios crônicos, procurar se expor a ambientes poluentes e até evitar a queimada de lixo.

“Os pacientes que já têm doença pregressa não podem parar sua terapia inalatória. Outra situação é evitar sair em horário de pico, de muita circulação de carro, porque realmente tem muita fumaça. Indico ainda fazer uso de máscaras, que isso nos ajuda a reter mecanicamente, como uma barreira mecânica, para impedir a inalação desses poluentes. Também temos que criar conscientização”, pontuou o pneumologista Gilson Martins.

Gilson também destaca que a atividade física, auxilia, apesar de não existir áreas reservadas para atividade física exclusivas. “A maioria dos parques e praças estão ao lado das grandes vias, aonde existe um fluxo de carro muito grande e isso faz com que a pessoa que queria praticar atividade física tenha que evitar o horário de pico”, determinou.

Previsão de queimadas

Um levantamento feito pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), em parceria com o Woodwell Climate Research Center, mostrou que a Amazônia Legal tem uma área de quase cinco mil quilômetros quadrados de vegetação derrubada e seca, correndo o risco de ser combustível para queimadas, além de incêndios florestais.

A análise dos pesquisadores revela que Amazonas, Mato Grosso, Pará e Rondônia concentram mais de um terço da soma, ou seja, 35,5%, das áreas desmatadas e ainda não queimadas desde 2019, na maior floresta tropical do mundo, de acordo com o Panorama do Fogo na Amazônia em 2021, como a pesquisa é chamada.

O verão amazônico, com início em julho até o fim de outubro, é outro fator que preocupa as autoridades diante dos riscos de queimadas no bioma. Baseado nos números de desmatamento, esse período deve ser de grandes proporções de queimadas.

“É no período de secas do verão amazônico que aumentam expressivamente as queimadas e nos últimos anos temos experimentado extremos climáticos com maior frequência devido à mudança global do clima”, pontuou o ambientalista Carlos Durigan à CENARIUM em 23 de junho de 2021.