Rede de mulheres indígenas promove resgate da cultura agrícola e da medicina tradicional

Preservar e difundir saberes para continuar o ciclo do conhecimento entre comunidades tradicionais da Amazônia, esse é o objetivo do projeto desenvolvido pela FAS (Reprodução/Thiago Looney)

04 de dezembro de 2020

17:12

Mencius Melo

MANAUS – Promover, fortalecer e preservar o conhecimento tradicional, essa é a meta do projeto ‘Cunhã-Eta’, promovido pela Fundação Amazonas Sustentável (FAS) junto a comunidades do Médio Rio Negro e Médio Solimões, no Estado do Amazonas. Ao todo foram 83 pessoas capacitadas nas comunidades onde o programa foi aplicado.  

O ‘rede de mulheres’ ou ‘Cunhã-Eta’ tem por objetivo fortalecer o papel das mulheres no conhecimento das comunidades tradicionais (Reprodução/Robert Coelho)

As oficinas foram desenvolvidas em três meses de atividades e aplicadas nas comunidades de Três Unidos, situada na Área de Proteção Ambiental (APA) do Rio Negro, aldeia Vasques, zona rural do município de Tefé, e aldeia Piloto, em Barcelos. O foco central é empoderar as mulheres criando uma ‘rede’, por isso ‘Cunhã-Eta’ pode ser traduzido como ‘rede de mulheres’.

A equipe da FAS desenvolveu troca de conhecimentos entre as comunitárias e os técnicos envolvidos no projeto. De um lado o conhecimento científico e de outro os saberes tradicionais herdados de geração a geração. “O projeto tem o objetivo de oferecer troca de conhecimentos e saberes tradicionais”, explicou Rosa dos Anjos, supervisora da Agenda Indígena da FAS.

Bibliotecas vivas

Ir ao campo foi um dos métodos desenvolvidos pelos técnicos da FAS junto às mulheres comunitárias (Reprodução/Robert Coelho)

De acordo com Rosa dos Anjos, apesar do ataque da Covid-19 a muitas comunidades, a luta para preservar e fortalecer esse conhecimento é grande. “Perdemos muito de nossa história, mas vivenciamos crianças e jovens valorizando, querendo mesmo aprender com as bibliotecas vivas que têm em cada aldeia que o projeto esteve”, ponderou a supervisora da FAS.

Ainda de acordo com ela, vivenciar a troca de conhecimentos e ainda contribuir para a preservação e fortalecimento de culturas e saberes ancestrais é uma experiência única que somente os povos tradicionais podem propiciar “Participar desses momentos foi simplesmente gratificante. Minha eterna gratidão a todos que compartilharam conhecimentos”, agradeceu Rosa.

Unidas e empoderadas pelo conhecimento herdado de seus ancestrais, assim são as mulheres do ‘Cunhã-Eta’ (Reprodução/Robert Coelho)

“As palestras foram muito boas. A aldeia recebeu essa oficina com muita esperança, pois aconteceu num momento em que realmente estávamos precisando. Foi durante a pandemia, então nos trouxe esperança, alternativa de vida e renda para aldeia”, exortou a presidente da Associação Indígena de Barcelos (Asiba), Maria Fidelis, 42, do povo Baniwa.

Resultados

Segundo Maria Fidelis, do povo Baniwa, a comunidade já está aplicando as novas técnicas adquiridas na agricultura, voltadas para produção de farinha, hortaliças, banana, cana, entre outras. A FAS estima que o projeto colabore na melhoria e manejo de 15 hectares de sistemas agrícolas tradicionais nas localidades atendidas pelo programa.

Extrair da terra e da floresta as curas e os alimentos para manter vivas as tradições e culturas dos povos da Amazônia, esse é o papel do programa da FAS (Reprodução/Robert Coelho)

O líder da aldeia Vasques, situada em Tefé, Aldair Vasques, 37, do povo Kokama, ressalta que o projeto foi muito importante não só para a inclusão das mulheres, mas também para toda a população da região. “Tenho quase 20 anos de movimento indígena e vejo que o projeto é muito bom, porque atinge também as áreas indígenas urbanizadas”, disse. 

Após a realização das três oficinas em aldeias/comunidades distintas, a Fundação Amazonas Sustentável (FAS) organizou uma oficina final na comunidade Três Unidos, com integrantes das localidades que sediaram o projeto. Os participantes fizeram troca de experiências e oficina de sabores, onde cada comunidade mostrou seu prato típico.