04 de dezembro de 2020
17:12
Mencius Melo
MANAUS – Promover, fortalecer e preservar o conhecimento tradicional, essa é a meta do projeto ‘Cunhã-Eta’, promovido pela Fundação Amazonas Sustentável (FAS) junto a comunidades do Médio Rio Negro e Médio Solimões, no Estado do Amazonas. Ao todo foram 83 pessoas capacitadas nas comunidades onde o programa foi aplicado.
As oficinas foram desenvolvidas em três meses de atividades e aplicadas nas comunidades de Três Unidos, situada na Área de Proteção Ambiental (APA) do Rio Negro, aldeia Vasques, zona rural do município de Tefé, e aldeia Piloto, em Barcelos. O foco central é empoderar as mulheres criando uma ‘rede’, por isso ‘Cunhã-Eta’ pode ser traduzido como ‘rede de mulheres’.
A equipe da FAS desenvolveu troca de conhecimentos entre as comunitárias e os técnicos envolvidos no projeto. De um lado o conhecimento científico e de outro os saberes tradicionais herdados de geração a geração. “O projeto tem o objetivo de oferecer troca de conhecimentos e saberes tradicionais”, explicou Rosa dos Anjos, supervisora da Agenda Indígena da FAS.
Bibliotecas vivas
De acordo com Rosa dos Anjos, apesar do ataque da Covid-19 a muitas comunidades, a luta para preservar e fortalecer esse conhecimento é grande. “Perdemos muito de nossa história, mas vivenciamos crianças e jovens valorizando, querendo mesmo aprender com as bibliotecas vivas que têm em cada aldeia que o projeto esteve”, ponderou a supervisora da FAS.
Ainda de acordo com ela, vivenciar a troca de conhecimentos e ainda contribuir para a preservação e fortalecimento de culturas e saberes ancestrais é uma experiência única que somente os povos tradicionais podem propiciar “Participar desses momentos foi simplesmente gratificante. Minha eterna gratidão a todos que compartilharam conhecimentos”, agradeceu Rosa.
“As palestras foram muito boas. A aldeia recebeu essa oficina com muita esperança, pois aconteceu num momento em que realmente estávamos precisando. Foi durante a pandemia, então nos trouxe esperança, alternativa de vida e renda para aldeia”, exortou a presidente da Associação Indígena de Barcelos (Asiba), Maria Fidelis, 42, do povo Baniwa.
Resultados
Segundo Maria Fidelis, do povo Baniwa, a comunidade já está aplicando as novas técnicas adquiridas na agricultura, voltadas para produção de farinha, hortaliças, banana, cana, entre outras. A FAS estima que o projeto colabore na melhoria e manejo de 15 hectares de sistemas agrícolas tradicionais nas localidades atendidas pelo programa.
O líder da aldeia Vasques, situada em Tefé, Aldair Vasques, 37, do povo Kokama, ressalta que o projeto foi muito importante não só para a inclusão das mulheres, mas também para toda a população da região. “Tenho quase 20 anos de movimento indígena e vejo que o projeto é muito bom, porque atinge também as áreas indígenas urbanizadas”, disse.
Após a realização das três oficinas em aldeias/comunidades distintas, a Fundação Amazonas Sustentável (FAS) organizou uma oficina final na comunidade Três Unidos, com integrantes das localidades que sediaram o projeto. Os participantes fizeram troca de experiências e oficina de sabores, onde cada comunidade mostrou seu prato típico.