26 de novembro de 2021
14:11
Náferson Cruz – Para a Agência Cenarium
AUTAZES (AM) – “Aqui no leito do Rio Madeira tem ouro e ele é a garantia da nossa sobrevivência num país sem oportunidades”, diz o ex-agricultor Gideão Bentes Sales, de 36 anos, um dos garimpeiros que fazem a extração ilegal de metais em um dos maiores rios da Amazônia.
Gideão está em uma das mais de 600 “balsas-dragas” instaladas há quatro semanas no Rio Madeira, na Comunidade Rosarinho, no município de Autazes (a 120 quilômetros de Manaus), cujo financiamento não se sabe a origem e que são alvo de órgãos de fiscalização ambiental.
A frase do garimpeiro resume um sentimento comum entre centenas de garimpeiros que estão no local. Na quinta-feira, 25, a REVISTA CENARIUM esteve na região, também conhecida como ‘Vale do Madeira’, onde acompanhou de perto a movimentação intensa no garimpo mais cobiçado do País.
Durante o percurso de quatro horas em seis “vilas flutuantes” ou “cinturões de balsas”, como foi batizado pelos garimpeiros, chamava bastante atenção as precárias estruturas de madeira e os maquinários pesados funcionando com barulho ensurdecedor, além da constante fumaça negra expelida por uma espécie de fornalha. Também não poderia deixar de ser notada a presença de crianças e mulheres grávidas, e de idosos deitados em redes.
“Não temos para onde ir. Se a polícia vier aqui e nos retirar, para onde nós vamos com nossas famílias? A maioria dessas pessoas trabalhava com roçado ou em fábricas em Manaus e, agora, estão tentando tirar o sustento das famílias”, comentou Adriano França, de 31 anos, ex-auxiliar de padeiro, que está, há dois meses longe de casa, no município de Manicoré (AM). Ele se diz dono da balsa que conta com quatro operadores de máquinas. O garimpeiro revelou que nas primeiras vinte horas no local chegou a extrair 13 gramas de ouro.
Na balsa ao lado, estava Maciel Bentes Brasil, de 25 anos. Ele conta que passou a atuar no ramo de mineração desde os 15 anos. O jovem se emociona ao falar do passado e do sonho de também ‘bamburrar’ (enriquecer). “Quando soubemos da notícia de que daqui brotava ouro, não tive dúvida. Era minha chance de ter alguma coisa e vencer na vida”, declarou Maciel, enquanto evidenciava à reportagem que havia conseguido coletar, até o momento, 15 gramas de ouro.
Parte dos garimpeiros investiu tudo que tinha na esperança do retorno financeiro. Um deles é Edilon Ferreira Silva, de 38 anos. Diferente dos demais, ele não levou a mulher e o casal de filhos consigo e está, há dois meses, longe de casa. Nascido na comunidade de Uruapinha, em Humaitá (AM), Edilon se reveza com o cunhado na operação da balsa. “Até o momento, já conseguimos 25 gramas de ouro”, diz o garimpeiro.
Em torno dessa “invasão” garimpeira do Rio Madeira, se organiza uma complexa cadeia de fornecedores de insumos, equipamentos e mão de obra. A todo instante, inúmeras embarcações com suprimentos ancoram nas balsas para a comercialização de produtos. Jucival Souza, o “Ceará”, não perde a oportunidade de lucrar. Ele peregrina nas balsas carregando uma sacola abarrotada de perfumes. “Vendo tudo, não sobra nada, afinal de contas, são 600 casas para oferecer meus produtos”, comenta.