’Não somos bandidos’, dizem garimpeiros que insistem em ficar no Rio Madeira após operação da PF

Balsas atracadas no porto da comunidade de Axinim em Borba (distante a 126 quilômetros de Manaus) (Ricardo Oliveira/Revista Cenarium)

28 de novembro de 2021

11:11

Priscilla Peixoto e Gabriel Abreu – Da Revista Cenarium

MANAUS e BORBA/AM – Um dia após agentes da Operação Uiara, deflagrada pela Polícia Federal (PF) e fiscais do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), incendiarem mais de 60 balsas no trecho entre os municípios de Autazes (a 120 quilômetros de Manaus) e Nova Olinda do Norte (a 133 quilômetros de Manaus), balsas foram abandonadas sob protestos de garimpeiros contra a ação.

Na manhã deste domingo, 28, um grupo de pessoas realizou protesto na praça principal do município de Borba, no Amazonas (distante 149 quilômetros de Manaus). No vídeo, compartilhado nas redes sociais, as pessoas aparecem segurando cartazes.

Protesto na praça principal de Borba (AM), na manhã deste domingo.

Em outro vídeo, um garimpeiro, rodeado por pessoas que aparentam ser familiares e amigos, pede ajuda e o envio de um barco para sair do local. O homem, que diz estar na comunidade de Rosarinho, em Autazes, apela para o prefeito de Manicoré, Lúcio Flávio do Rosário (PSD).

“Queremos aqui pedir o apoio do nosso prefeito de Manicoré, solicitamos ajuda para nós que estamos no Rosarinho. Por favor, mandar um barco ou autorizar alguém pra levar a gente, alguém que esteja vendo esse vídeo a gente tá precisando de apoio. Muitos pais de família estão passando necessidade. Seu prefeito, faça alguma coisa pela gente”, diz o garimpeiro.

Garimpeiro pede ajuda ao prefeito de Manicoré.

Operação Uiara

A operação pretende desarticular a ação dos garimpeiros ilegais que atuavam em mais de 300 “balsas-dragas” que realizavam a extração ilegal de metais do Rio Madeira. Na manhã deste domingo, 28, agentes da PF dão prosseguimento às fiscalizações no município de Borba, onde diversas balsas foram abandonadas em frente à cidade pelos garimpeiros que se dispersaram durante a operação.

No sábado, 27, durante a operação, pelo menos, 30 balsas foram incendiadas, outras centenas foram apreendidas. Em alguns casos, as embarcações foram retiradas pelos garimpeiros antes da operação, após a ação policial no Rio Madeira ser divulgada em grupos de WhatsApp.

O ministro da Justiça, Anderson Torres, divulgou em uma rede social que a operação havia destruído 69 balsas de mineração ilegal na Amazônia.

Ministro da Justiça e Segurança Pública, Anderson Torres se pronuncia sobre a Operação Uiara (Reprodução/Internet)
Balsas de garimpo ilegal sendo queimadas pelos agentes federais. (Reprodução/Internet)

Segundo a PF, a operação conta com o apoio de agentes do Amazonas e do Paraná, Distrito Federal, Paraíba e Pará. Além das “balsas-dragas”, maquinários, mercúrio e ouro foram apreendidos pelos agentes, em quantidades ainda não informadas. Vídeos divulgados pelos garimpeiros e captados por moradores também mostram momentos da operação com as balsas incendiadas no Paraná do Maracá, um dos braços do Madeira.

O acesso às balsas ocorreu, na maior parte da operação, por helicópteros do Ibama, que aterrissaram nas margens do Rio Madeira. Agentes saíram das aeronaves armados e abordaram os garimpeiros, que, em sua maioria, não apresentaram resistência.

Combate ao garimpo ilegal

O vice-presidente da República, Hamilton Mourão, disse, na quinta-feira, 25, que a atuação de centenas de garimpeiros em balsas ilegais no Rio Madeira pode ter o apoio de membros do tráfico de drogas. Segundo o vice-presidente, o interesse do narcotráfico em explorar as rotas fluviais da Amazônia passa não apenas pelo transporte de drogas, mas também pelo comércio de ouro.

“Nós temos tido vários informes de que o narcotráfico, essas quadrilhas, na ordem de proteger suas rotas, subiram para lá. Uma das formas de se manterem é apoiando ações dessa natureza (garimpo). Até porque, se o ouro é extraído ilegalmente, é um ativo que eles podem trocar por droga”, afirmou Mourão.

O vice-presidente também comentou na quinta que a PF, a Marinha e o Ibama já estavam se preparando para agir. “A Marinha tem de verificar quem tem embarcação legal. O pessoal que está na ilegalidade vai ter a embarcação apreendida”, disse.

Degradação ambiental

Além de ser uma prática criminosa, a extração de minérios de leitos dos rios da Amazônia causa inúmeros danos ao ecossistema e, consequentemente, ao ser humano. Entre os impactos ambientais estão: a contaminação da água com metais pesados, a redução do oxigênio dissolvido nos ecossistemas aquáticos, o aumento da turbidez da água, devido ao contato com produtos químicos, a variação da qualidade da água, dentre outros.

Na prática, as embarcações de garimpos ilegais remexem o fundo do rio. O solo é destruído com escavadeiras e jatos de água. A lama criada nesse processo é filtrada para serem recolhidos os minérios, como o ouro. Para separar os sedimentos são adicionadas substâncias como mercúrio, cianeto e arsênio. O mercúrio forma um amálgama com o ouro, e a lama contaminada com o resíduo é descartada no meio ambiente.