‘Se o desmatamento continuar, os efeitos serão drásticos’, diz pesquisador sobre emissões de gases

Amapá vem sofrendo com a alta na temperatura devido ao desmatamento e às mudanças climáticas sofridas na região amazônica. (Eduardo Anizelli/ Folhapress)

19 de outubro de 2021

14:10

Victória Sales – Da Cenarium

MANAUS – O aumento na taxa de calor pode acarretar o desempenho físico e psicológico das pessoas, trazendo consequências como a morte, principalmente para a população do Amapá, que vem sofrendo com a alta na temperatura devido ao desmatamento e às mudanças climáticas sofridas na região amazônica.

Segundo estudo feito por pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (IEA-USP), no total serão mais de 12 milhões de pessoas da região Norte que estão sob risco de morte por conta do calor até 2100.

De acordo com a pesquisa, essa não é uma situação reversível, mas que as mudanças podem ser freadas com boas práticas relacionadas ao meio ambiente, sendo uma delas a redução de energia elétrica. “Existe uma hipótese de que, se a gente desmatar até chegar ao ponto em que a floresta não vai ter mais resiliência, ela vai lentamente se transformar numa savana, num pior cenário possível. A gente olhou esse efeito do aquecimento global com essa savanização. Com isso, o estresse por calor devido ao clima vai ser potencializado”, conta a pesquisadora Beatriz Oliveira.

Para um dos coautores da pesquisa e especialista em aquecimento global e em mudanças climáticas, Carlos Nobre, a fragilização dos ecossistemas na Amazônia traz junto com o aquecimento global um risco muito maior à saúde humana.

“O corpo humano não consegue dissipar o calor gerado pelo metabolismo orgânico. Nunca, em milhões de anos, o clima ultrapassou esses limites. Mas, com o aquecimento global e com o risco de grande parte da floresta amazônica se tornar uma savana degradada, isso muda o clima e nós iremos chegar no final do século com 50% dos dias, em algum momento, mais quente e ultrapassaremos um limite em que o corpo não resiste”, ressalta Nobre.

Estudo

Ainda, segundo o estudo, dos 16 municípios do Estado, 10 já podem chegar ao calor extremo. Entre eles: Vitória do Jari, que está como um dos mais afetados pelo aumento na temperatura, Santana, Mazagão, Pedra Branca do Amapari, Serra do Navio, Ferreira Gomes, Iatubal, Laranjal do Jari, Macapá e Porto Grande. Desses municípios, três terão aumento de temperatura com menos de um grau e 13 municípios com mais de um grau.

A pesquisa revela ainda que mesmo o Estado ter conseguido o posto de local com maior área preservada do País, isso não atrapalha o processo de savanização a longo prazo. “As condições extremas de calor induzidas pelo desmatamento podem ter efeitos negativos e significativamente duradouros na saúde humana. Precisamos entender globalmente que, se o desmatamento continuar nas proporções atuais, os efeitos serão drásticos para a civilização. Essas descobertas têm sérias implicações econômicas que vão além dos danos às lavouras de soja”, disse Paulo Nobre.

O estudo indica que, se possivelmente, o desmatamento e o aquecimento global forem freados, em 2050 o cenário possa mudar e as emissões de gases poluentes podem ser freados. Com isso, a melhor alternativa para chegar a esse objetivo é sempre preservando o meio ambiente.