Sem aumento real no salário mínimo para 2022, trabalhadores devem cortar ainda mais despesas
16 de abril de 2021
15:04
Gabriel Abreu
MANAUS – O Ministério da Economia encaminhou na quinta-feira, 15, ao Congresso Nacional o Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) de 2022 com previsão para o salário mínimo de R$ 1.147, uma correção de 4,27% sobre os R$ 1.100 atuais. Com isso, o piso salarial se mantém sem aumento real (acima da inflação) desde 2019. Dessa forma, economistas apontam que trabalhadores devem cortar ainda mais despesas para comprar a cesta básica.
A correção prevista para o mínimo está abaixo das estimativas do mercado, em torno de 5,5% para o Índice de Preços ao Consumidor (INPC), que costuma ter uma variação maior do que a da inflação oficial, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Neste ano, o piso salarial foi corrigido em 5,26%, percentual mais baixo que o da alta do indicador em 2020, de 5,45%. Com isso, o valor ficou R$ 2 menor do que a correção mínima prevista na Constituição.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a inflação de 2020 fechou em 4,52% e 2021 projeta 4,81%. Isso faz com que a população perceba que o preço dos alimentos aumentou mais do que a inflação, porque o cálculo da inflação é abrangente e inclui alimentos, bebidas, transporte, habitação e comunicação. Então os produtos que tiveram menos alta influenciam no cálculo, puxando a média para baixo.
Prática
Para a economista Denise Kassama, a inflação se torna mais perceptível quando os itens têm relação mais direta com os itens da cesta básica, que fechou 2020 com um aumento de 18,54% em 2020 e em janeiro de 2021 já apresentou uma alta de 1,4% . Para minimizar tais impactos, os governos anteriores aplicavam um reajuste acima da inflação, o que proporcionava ganhos reais sobre o salário mínimo. O atual governo aboliu essa prática e manteve somente a reposição da inflação.
“Então, o simples reajuste pela inflação já não era suficiente para recuperar as perdas relativas ao preço da cesta básica. A ausência desse indicador, aumenta mais ainda as perdas dos trabalhadores frente a um aumento continuo do preço dos alimentos. Ou seja, cada vez mais o trabalhador compra menos. Situação essa, agravada pela pandemia, onde por conta de medidas restritivas, houve uma redução da oferta, empurrando o preço para cima”, explicou a economista.
Impactos no orçamento
Denise Kassama lembra ainda que a “corda arrebenta sempre do lado mais fraco, os trabalhadores que recebem menos serão os mais impactados e terão que fazer economias e até cortes no orçamento doméstico.
É o caso do motorista particular Ariel Cesário, que em entrevista à CENARIUM disse que bate até um ‘desespero’ quando recebe a notícia de que o salário mínimo não terá um aumento real, ainda mais sabendo que o gás, a gasolina, e os alimentos estão mais caros.
“A gente chega a pensar até que vamos viver de com a indecente porque com um salário desse e o preço de tudo aumentando não sabemos o que fazer. Junto com minha esposa anotamos tudo, compramos o necessário para os nossos 2 filhos e evitamos desperdício. Ter que dividir tudo isso pensando na conta de água, luz e nossa comida é bem difícil. Primeiramente pensamos nas crianças compramos o essencial para eles, reduzimos a quantidade de carne até pelo preço que eu acho abusivo nos supermercados e por último material de limpeza que teve um aumento astronômico. O resto contamos com a sorte”, informou Ariel.