Sem salários há dois meses, jornalistas anunciam greve: ‘não temos esperança de que as coisas possam melhorar’

Os trabalhadores estão desde 2016 sem recolhimento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) (Sindjor-PA/Reprodução)

07 de setembro de 2020

13:09

Gabriel Abreu – Da Revista Cenarium

MANAUS – “Não temos esperança de que as coisas possam melhorar”, diz parte do relato de um dos jornalistas que integra o Jornal e Portal A Crítica, que nesta segunda-feira, 7, decidiram paralisar atividades por tempo indeterminado por conta da falta de pagamento de salários há pelo menos dois meses, além da falta de recolhimento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) desde 2016.

Alberto Carneiro*, um dos jornalistas ouvidos pela REVISTA CENARIUM, explicou que os atrasos começaram há pelo menos cinco anos e que os profissionais têm postergado a greve por acreditar na adequação da diretoria do veículo de comunicação, que, segundo ele, até o momento mantém a postura irregular.

“A situação vem se arrastando nos últimos cinco anos, com diversos atrasos de salários. E a cada momento esses atrasos foram ficando mais longos, começando com atrasos de uma semana e hoje são atrasos de dois meses, quando recebemos, se trata apenas da metade do salário”, lamenta.

Outro relato é da jornalista Alice Monteiro*, que corrobora o depoimento do colega de profissão. Ela denuncia que o FGTS não tem sido recolhido desde 2016, e que colegas não possuem mais esperança em relação a melhorias e a mudanças do grupo de comunicação.

“A diretoria não comunica sobre as datas de pagamento e nem dá qualquer informação desde que perguntemos. Após muito tempo de compreensão, de passividade e espera, nós decidimos nos unir para fazer movimento de paralisação. Não temos esperança de que as coisas possam melhorar”, declara.

Posicionamentos

Em uma transmissão ao vivo pelas redes sociais, nesta segunda-feira, 7, a presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado do Amazonas (SJPAM), Auxiliadora Tupinambá, e o representante da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), Wilson Reis, afirmaram que têm intermediado a causa entre grevistas e empresa junto ao Ministério Público do Trabalho (MPT-AM).

“Não faltou paciência e compreensão dos jornalistas, que já estão a dois meses sem receber salário, uma situação que tem se arrastado desde 2017. Além de atraso, a empresa não paga férias e não recolhe FGTS desde 2016. Além disso, ainda existem outras dívidas trabalhistas. Quando o trabalhador deixa de receber seu salário, o sustento da família, a empresa não acena nenhum ato para regularizar os débitos. Por isso, os trabalhadores cruzaram os braços”, afirmou Auxiliadora Tupinambá.

“A federação tem dado apoio ao movimento dos trabalhadores e tem intermediado junto ao sindicato, uma solução com Ministério Público Federal (MPF) para atender as reivindicações da categoria. É preciso que a empresa reflita, porque a mesma não tem feito nada para negociar diretamente com os próprios jornalistas”, concluiu Wilson Reis.

Adesão maciça

A iniciativa dos funcionários do Jornal e Portal Acrítica tem a adesão de 90% dos profissionais e, por conta da pandemia de Covid-19, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado do Amazonas (SJPAM) criou um grupo de WhatsApp na quinta-feira, 3, para manutenção do estado permanente de Assembleia com reuniões diárias e onde todas as decisões são tomadas pelo coletivo.

Diante das discussões e da decisão pela paralisação das atividades por tempo indeterminado, tomada pela maioria, o SJPAM encaminhou, na sexta-feira, 4, o comunicado de greve à direção da empresa.

A iniciativa dos próprios funcionários do Grupo Calderaro tem a adesão de 90% dos profissionais. Foto: Divulgação

No mesmo dia, a direção se reuniu com editores que exigiram a presença do sindicato para negociação. O SJPAM, representado pela presidente, Auxiliadora Tupinambá, pelo advogado da entidade, Ananias Gomes de Souza, e pela secretária-executiva, Steffanie Schmidt, estiveram presentes na reunião convocada pela empresa.

(*) Os nomes fictícios usados na matéria foram utilizados para manter o sigilo das fontes.