Senadores do AM dividem opiniões sobre impeachment de Bolsonaro

A bancada ainda não tem um consenso sobre afastamento do Presidente da República - foto: divulgação

27 de abril de 2020

21:04

Carolina Givone – Da Revista Cenarium

MANAUS – O apoio dos senadores do Amazonas sobre um possível pedido de impeachment do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) foi um dos temas abordados na entrevista do senador Plínio Valério (PSDB), à jornalista Arthemisa Gadelha, da Revista Cenarium.

A saída de Sérgio Moro do Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), segundo o senador, criou mais uma instabilidade no governo federal, que frequentemente já está envolvido em outras polêmicas. “Sem dúvida nenhuma há uma turbulência sem muita necessidade disso. O ex-ministro concede uma declaração, que diz que o presidente queria interferir nas investigações e o presidente rebate. (Por conta disso) a Procuradoria Geral da República (PGR) abriu inquérito para investigar a situação, os dois (Moro e Bolsonaro) vão acabar se encontrando novamente”, comentou.

“Eu sei que (a saída de Moro) vai dividir o país e isso no momento não é bom. Na minha avaliação o presidente Bolsonaro decidiu fazer hoje (demissão do Superintendente da PF), o que faria só amanhã e nesse estado de caos da Pandemia, só tornou a turbulência muito maior”, pondera Plínio sobre a “precipitação” de Bolsonaro.

Plínio diz que já existem pelo menos 27 pedidos de afastamento do presidente na ‘fila’ e agora, devem chegar pelo menos mais dois ou três no senado, além de dois pedidos de abertura de CPIs no Senado.

“O presidente prega que há unidade no ministério (três poderes), mas nós vemos que não. Meu receio é que o País, a economia e o lado social se percam, caso o ‘timão’ do presidente não continue firme ao conduzir essa ‘nau’ no mar turbulento. Torço para que dê certo, mas eu já vejo um cenário dividido entre meus colegas senadores. Uma grande maioria já pensou em pedir impeachment, no entanto eu acho muito tempo para pensar nisso”, conclui.

Juntamente com Valério, os parlamentares Eduardo Braga (MDB) e Omar Aziz (PSD) compõe o trio de senadores do Amazonas. Procurado sobre o posicionamento pessoal na questão, Aziz respondeu por meio da assessoria de comunicação que não iria comentar o caso.

Também por meio de sua assessoria, o senador Eduardo Braga informou que o tema ainda está sendo analisado pelo partido, o MDB.

Os presidentes da Câmara Federal Rodrigo Maia (MDB) e Davi Alcolumbre (DEM) do Senado Federal, disseram em conversas reservadas, na semana passada, que não estão dispostos a abrir guerra contra o chefe do Poder Executivo.

Segundo eles, Bolsonaro usaria os pedidos como “munição” para aumentar sua popularidade com aliados, estimulando a polarização política por meio de manifestações.

Experientes com impeachment

Em 2016, durante o processo de Impeachment da presidenta Dilma Roussef (PT), Aziz e Braga detinham mandatos de senadores. Na época, Omar votou favoravelmente ao afastamento da chefe do executivo e a cassação dos direitos políticos de Dilma, que a tornariam inelegível por oito anos.

“Ninguém aqui, nenhum partido político, nenhum político do Congresso tem o direito de exigir cargos pra melhorar o Brasil.” “Confio muito que o presidente Michel Temer possa denunciar o partido ou os políticos que estejam chantageando”. “Quero dizer aos amazonenses que estaremos aqui na trincheira lutando pelo Brasil. Se o Brasil melhorar, o Amazonas também vai melhorar”, foram algumas das declarações de Omar durante a votação em 2016.

Já Eduardo Braga anunciado como ministro de Minas e Energia, para o segundo mandato do Governo Dilma, com início em 2014, não esteve presente na votação do processo de impeachment. O senador estava ausente na votação por motivos de doença e não foi favorável à cassação dos direitos políticos de Dilma.

Vanessa Grazziotin (PCdoB), senadora na ocasião, foi a única parlamentar do Amazonas a ser contrária a cassação de Rouseff. “Caso este plenário aprove a instauração do processo estaremos diante de uma das maiores afrontas perpetradas à Constituição brasileira, uma das maiores fraudes ao estado democrático de direito, um verdadeiro golpe parlamentar, destinado a atender interesses pouco republicanos de uma elite inconformada com o resultado das urnas de 2014”, disse a ex-senadora Vanessa.

Davi Alcolumbre, agora presidente do Senado, também estava presente na votação e declarou sim ao afastamento de Dilma. “Esse processo não é somente técnico ou jurídico – ele também é político sim.”
“Não podemos esquecer o momento que o nosso país atravessa há algum tempo – dos mais graves e inquietantes.  A crise é generalizada e seus efeitos atingem toda a nação brasileira e, de forma mais dura, dos brasileiros mais pobres.” “O povo brasileiro não merece passar por tanto sofrimento e o país não suporta o retrocesso que estamos vivenciando”, declarou no plenário na época.