Sob comando de aliado de Bolsonaro, RR fica em último lugar com cobertura vacinal contra Covid-19 na Amazônia

Seringa retirando líquido da vacina de frasco. (Reuters)

19 de janeiro de 2022

14:01

Victória Sales – Da Revista Cenarium

MANAUS – Depois de um ano do início da aplicação das primeiras vacinas contra a Covid-19 em Roraima, o Estado apresenta um dado alarmante que preocupa profissionais da saúde, especialistas e até a população. Segundo informações divulgadas pela Secretaria de Saúde estadual, até esta quarta-feira, 19, somente 38% das pessoas voltaram aos postos de vacinação para tomar a segunda dose da vacina, fazendo com que o Estado ocupe o último lugar no ranking da Amazônia Legal e também no ranking nacional.

Segundo infectologista Nelson Barbosa, a vacinação foi politizada e isso é negativo. “Só quem perde é a população, pois as pessoas não se vacinam e isso é sinônimo de criação de novas cepas. Nós tivemos uma, que é a Ômicron, que, apesar de muitas pessoas subestimarem, ela não agride tanto o pulmão, mas dá quadros graves nas pessoas que não se vacinaram ou não completaram a vacinação. Por isso, é importante alertar a população para se vacinar e não acreditar em fake news”, explicou.

De acordo com a servidora pública federal Camila Rocha, que reside em Boa Vista, ela já tomou as três doses da vacina contra a Covid-19. “A primeira foi em Manaus, a segunda aqui em Boa Vista e a terceira consegui antecipar em Manaus mesmo”, disse. Questionada sobre a o perigo de se infectar por alguém que não se vacinou, Camila conta que ficou receosa, sobretudo porque a estrutura hospitalar do Estado é muito limitada. “Muitas pessoas desrespeitam as regras básicas de uso correto da máscara”, afirmou.

Uma moradora da capital roraimense, que preferiu não se identificar, afirmou que nunca pegou a doença e não pretende se vacinar. “Tem vários motivos, mas o principal foi vendo os fatos que estão acontecendo. As pessoas vão muito pela mídia e eu vou pela lógica. Mas, nem adianta explicar, parece que as pessoas passaram por uma lavagem cerebral. Essa é minha opinião, respeito a dos outros”, contou.

‘Doença letal’

Já o servidor público, Rodrigo dos Santos*, que trabalha em um hospital público do Estado, destacou que tomou a vacina pela realidade em que ele vivia.

“Durante a pandemia da Covid-19, a gente pode ver de perto como a doença é letal. Muitas pessoas não se vacinaram por conta de diversos fatores, mas acredito que o político seja um dos principais. E, agora que a vacina já chegou aqui, a gente percebe que as pessoas que estão tomando a segunda dose não apresentam riscos graves tanto quanto quem ainda não se vacinou. Então, um alerta de quem esteve e está diariamente à frente desse risco: procurem um posto de vacinação e se vacinem o quanto antes”, pediu.

O economista Gabriel Lima* ainda explicou que se sente ameaçado pelas pessoas que não tomaram as doses que são indicadas para completar o ciclo vacinal.

“Eu tomei todas as doses possíveis, pois, como eu tenho pessoas de risco próximos a mim, precisei resguardar eles primeiramente. E esse número baixo de pessoas que não completaram o ciclo é um exemplo vivo de como as pessoas preferem acreditar em políticos ou em fake news do que cuidar da própria saúde. É claro que a gente se sente pressionado por conta dessas pessoas, o risco de contaminação ainda é grande”, destacou.

Pedido

Vale relembrar que em setembro de 2021, durante a pandemia da Covid-19, o governador de Roraima, Antonio Denarium, um dos principais aliados do presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), pediu para que os servidores públicos parassem de trabalhar para receber o representante federal no Estado, promovendo aglomeração. O pedido foi feito pelo secretário-adjunto da Casa Civil de Roraima, João Alfredo Cruz, com o objetivo de ajudar na reeleição do governador.

“Vou pedir a presença de todos vocês. É um passo muito importante rumo à consolidação do governo no Estado de Roraima, e também para a reeleição. Conto com a presença de todos vocês, hoje, à tarde, independentemente do horário de expediente”, relatou o auxiliar do governador na época.

“O governador pediu que todos os servidores da Casa Civil, todos os servidores do Estado, estejam presentes. E o secretário-chefe, Lamarion, pediu que, no momento da chegada do presidente, estejamos todos do lado de fora do palácio”, disse.

Dados

Entre os Estados da Amazônia Legal, Roraima conta com apenas 249.720 mil pessoas que voltaram para tomar a segunda dose da vacina contra a Covid-19, totalizando apenas 38%. O Estado que mais possui registro de retorno das pessoas é o Pará, com 2.341.157 milhões de pessoas que decidiram tomar a segunda dose da vacina. O Amazonas ocupa o 5º lugar dos nove Estados que mais vacinaram as pessoas com a segunda dose.