‘Recuperação por infecção de nova cepa de Covid-19 continua em 21 dias’, afirma especialista

Ainda há cerca de 3 milhões de itens encalhados nos armazéns da pasta (Ueslei Marcelino/Reuters)

03 de fevereiro de 2021

09:02

Bruno Pacheco

MANAUS – O tempo de recuperação de pacientes acometidos com a forma mais grave da Covid-19 tem permanecido em 21 dias, conforme observação do infectologista Nelson Barbosa em entrevista à CENARIUM nesta quarta-feira, 3. O especialista atua na linha de frente do novo coronavírus no Amazonas.

Em 2020, um estudo publicado por cientistas chineses na revista científica britânica The BMJ (antes, The British Medical Journal), referência na área da saúde, mostrou que a demora do vírus no corpo, em alguns casos, se estende para 30 dias. Pacientes em complicações, à época, têm duração média da presença do vírus em 14 dias.

“Quando o paciente tem a forma mais grave, o vírus pode ficar circulando no corpo, transmitindo, por um período de 21 dias. Com essa nova variante, o que a gente tem notado é a agressividade bem maior que a primeira, porque o paciente evolui em questão de três a cinco dias para o óbito, principalmente, se ele não fez o tratamento precoce”, disse Nelson Barbosa.

Médico infectologista Nelson Barbosa (Arquivo)

Segundo o especialista, as variantes da Covid-19 encontradas no Amazonas têm uma transmissibilidade muito maior e mais efetiva que o da primeira onda da Covid-19, em abril do ano passado. Neste novo pico de casos, conforme dados da Fundação de Vigilância em Saúde (FVS-AM), a quantidade de casos e óbitos pela pandemia chegou a números estarrecedores.

“A mutação acontece porque o vírus está sendo replicado milhões de vezes dentro do corpo de uma pessoa. E os erros nessa replicação acontecem. Só que esse processo ocorre em milhões de pessoas ao mesmo tempo, as chances de mutações aumentam exponencialmente. Quanto mais pessoas infectadas, mais o vírus evolui”, explicou o virologista e pesquisador do Instituto Leônidas & Maria Deane da Fiocruz Amazônia, Felipe Naveca.

Dados da pandemia

Em janeiro deste ano, foram 2.522 mortes por Covid-19 registradas no Amazonas. O número é o maior e mais elevado em um mês, desde o início da pandemia no Estado, que tem enfrentado escassez de oxigênio com o aumento de internações.

No último mês, uma análise de 250 genomas do novo coronavírus de pacientes do Estado revelou que 18 linhagens diferentes do Sars-CoV-2 já circularam pelo Amazonas. Entre as amostras colhidas desde o início da pandemia na região Norte, em março do ano passado até 13 de janeiro e provenientes de Manaus (177) e outros 24 municípios (73), foi mostrado uma frequência maior de três linhagens: a B.1.1.28 (33,6%), B.1.195 (18,8%), B.1.1.33 (11,6%).

A nova variante P.1 do coronavírus Sars-CoV-2, segundo nota técnica publicada pelo grupo da Fiocruz Amazônia, em parceria com a FVS-AM, foi encontrada por pesquisadores em 91% das amostras que tiveram seu código genético sequenciado em janeiro no Amazonas.

“A única maneira efetiva, enquanto essa vacina não tiver aplicada em toda a população, é a prevenção. O uso de máscara, de álcool em gel, de álcool 70%, a lavagem das mãos e evitar aglomerações continuam essenciais para o não contágio do novo coronavírus”, enfatiza Barbosa.

Para o infectologista, a variante da Covid-19 no Estado tem sido uma luta contra o tempo. “Tempo é vida. Quanto mais precoce o diagnóstico, melhor para o paciente”, finaliza.