Título de Cidadão Amazonense para Bolsonaro divide opiniões de parlamentares do AM

Honraria foi aprovada nesta terça-feira pela Assembleia Legislativa do Amazonas (Reprodução)

20 de abril de 2021

21:04

Bruno Pacheco

MANAUS – Parlamentares federais e estaduais do Amazonas dividiram opiniões nesta terça-feira, 20, sobre o projeto de lei que concede o título de Cidadão Amazonense para o presidente da República, Jair Messias Bolsonaro (sem partido). O presidente estará em Manaus nesta sexta-feira, 23. A honraria, de autoria do deputado estadual delegado Péricles (PSL), foi aprovada nesta tarde pela Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam), com apenas um voto contra e uma abstenção.

O deputado federal do Partido dos Trabalhadores (PT), José Ricardo, considerou a aprovação do título um absurdo e uma afronta ao povo amazonense e às milhares de vítimas da pandemia da Covid-19 e a falta de política do governo federal no combate ao vírus.

“Além disso, Bolsonaro realizou constantes ataques à ZFM, fez política de incentivos às queimadas e à invasão de terras indígenas. Vendeu o aeroporto no Amazonas, a Petrobras e a Amazonas Energia. Ainda retirou direitos e programas sociais que beneficiavam milhares de famílias pobres do nosso Estado. E o mais grave de todas suas ações nefastas: permitiu a falta de vacinas e de oxigênio, o que tirou a vida de inúmeras pessoas, ocasionando o luto e o sofrimento de muitas famílias amazonenses. Sou contra a entrega de um título tão importante como esse a um presidente acusado de genocídio”, desabafou o petista.

O deputado federal Bosco Saraiva (Solidariedade/AM) disse que o presidente é merecedor do título, independente das posições político-ideológicas de Bolsonaro. O parlamentar destacou, no entanto, que com a homenagem o presidente ajude a preservar a Zona Franca de Manaus.

“O presidente Jair Bolsonaro é um grande brasileiro e, independente de suas posições político-ideológicas, se mereceu a aprovação quase unânime do parlamento estadual é porque é merecedor de tamanha homenagem. Esperamos, portanto, que com a honraria amazonense ele ajude a preservar a Zona Franca de Manaus, que é nosso tesouro econômico”, salientou.

Projeto de Lei

O Projeto de Lei (PL 187/2021) foi proposto pelo deputado estadual Delegado Péricles e aprovado em regime de urgência com 19 votos a favor nesta terça-feira, em sessão híbrida na Aleam, contra apenas um voto contra, o do deputado Serafim Correa (PSB). A homenagem é concedida a pessoas que reconhecidamente tenham prestado serviço ao Amazonas.

A homenagem ocorre em meio à visita do presidente a Manaus, que chega na capital nesta sexta-feira, 23, onde participará da cerimônia de inauguração do Pavilhão de Feiras e Exposições do Centro de Convenções do Amazonas.

A visita do presidente ocorre pouco depois de um ano da última passagem dele pela capital (Carolina Antunes/PR)

A visita do presidente ocorre pouco depois de um ano da última passagem dele pela capital, em novembro de 2019, quando Bolsonaro participou da 1ª Feira de Sustentabilidade do Polo Industrial de Manaus (FesPIM), da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa), e também após o período mais crítico da segunda onda da pandemia da Covid-19 no Amazonas, que viveu um dos piores cenários da crise sanitária no Brasil, nos meses de janeiro e fevereiro deste ano, com a falta de oxigênio e de vagas nos hospitais públicos e privados.

Sem responsabilidade

Mesmo com a crise, Bolsonaro chegou a afirmar que o governo federal não tem responsabilidade sobre a falta de oxigênio que matou pacientes de Covid-19 na capital.

“Nós, Manaus, Amazonas… mandamos R$ 9 bilhões para lá. Não é competência nossa levar e nem atribuição nossa, levar o oxigênio para lá, damos os meios. Agora, nós, quando ele ficou sabendo em uma sexta-feira do problema do gás, oxigênio, na segunda foi em Manaus”, declarou o presidente, em reunião em Brasília.       

Apesar disso, na tribuna da Casa Legislativa, o delegado Péricles disse que o Amazonas tem muito o que agradecer ao presidente e destacou a compra de vacinas ao destacar o motivo da homenagem ao presidente.

“O Amazonas tem muito a agradecer ao nosso presidente. Até enumerei item por item sobre os benefícios trazidos pelo presidente e pelo governo federal, como a vacina. O Amazonas já recebeu quase 1,5 milhão de vacinas e apesar disso, pouco mais de 500 mil foram vacinados. O governo federal vem fazendo a sua parte e continua distribuindo vacinas para o Estado”, esclareceu Péricles.

Já Serafim Corrêa frisou que Bolsonaro não tem sido amigo da Amazônia, nem do Amazonas e de Manaus. Para o parlamentar, o presidente subestimou a pandemia em meio à segunda onda da doença. “Ele não comprou vacina quando era para comprar. Seu ministro negligenciou na crise do oxigênio e tudo isso tem trazido sofrimentos para o nosso povo. A Zona Franca vive sendo atacada e o seu ministro Paulo Guedes faz cara de paisagens”, disse.

A ZFM, considerada como o principal motor econômico do Amazonas, sofre com constantes ataques do ministro da Economia, Paulo Guedes, membro do governo Bolsonaro. Em setembro de 2019, durante uma palestra em Fortaleza, no Ceará, ele se mostrou contra o modelo industrial.

“É antieconômico e tudo mal feito”, disse Guedes, à época, quando palestrava para empresários e políticos do Nordeste. O caso gerou críticas de políticos amazonenses, que repudiaram as falas do ministro.

Repercussão

Nas redes sociais, a aprovação da medida repercutiu negativamente entre os internautas. “É uma vergonha isso. O Governo Bolsonaro está dando punhaladas no Polo Industrial de Manaus e querem fazer isso”, disse um homem, em uma publicação no Twitter.

Um outro internauta afirmou que a destruição da Amazônia e o descaso do presidente diante da falta de oxigênio em Manaus, enquanto os parlamentares prestam homenagem ao presidente. “Não dá para entender”, comentou, no Twitter. Outra pessoa chamou a atenção para a visita do presidente e uma eventual aglomeração que a passagem de Bolsonaro pode provocar.

Veja algumas publicações:

Por outro lado, alguns internautas parabenizaram o presidente e elogiaram Bolsonaro. “Como tem pessoas ingratas com o presidente. O cara mandou dinheiro para Manaus, só que não souberam usar”, disse uma pessoa, no Facebook.

Negacionismo

O Amazonas tem o total de 364.762 casos da Covid-19 até esta terça-feira, 20, segundo dados da Fundação de Vigilância em Saúde (FVS-AM). Desse total, o Estado registra 12.431 mortes pelo novo coronavírus. Números agravados em meio ao negacionismo do governo federal em adotar medidas de combate à doença.

Em janeiro, no pior momento da pandemia no Estado, fábricas do Polo Industrial da Zona Franca de Manaus (ZFM) paralisaram as atividades. A falta de um plano nacional de enfrentamento à pandemia agravou a crise sanitária e impactou na economia, segundo especialistas.

A ZFM, considerada como o principal motor econômico do Amazonas, sofre com constantes ataques do ministro da Economia, Paulo Guedes, membro do governo Bolsonaro. Em setembro de 2019, durante uma palestra em Fortaleza, no Ceará, ele se mostrou contra o modelo industrial.

“É antieconômico e tudo mal feito”, disse Guedes, à época, quando palestrava para empresários e políticos do Nordeste. O caso gerou críticas de políticos amazonenses, que repudiaram as falas do ministro.