Ubiratã: jogo baseado na mitologia indígena destaca personagens do folclore brasileiro

Jogo mostra a história de Guaraci, o deus sol que vive um romance com a indígena Êêma, do povo Sateré-Mawé (Ilustração: Leon Sarmento/Especial para a Cenarium)

23 de agosto de 2021

16:08

Bruno Pacheco – Da Cenarium

MANAUS (AM) – Em homenagem à cultura amazônica, à mitologia indígena e ao folclore brasileiro, amazonenses pretendem lançar, em dezembro deste ano, o jogo de RPG “Ubiratã”. O game mostra o conto de Guaraci, o deus sol que, mesmo casado com a deusa da lua, Jaci, vive um romance escondido com Êêma, uma indígena de beleza encantadora do povo Sateré-Mawé. Segundo a lenda, Guaraci e Êêma têm uma filha chamada Baômi, que cresce como uma criança prodígio e descobre na juventude os poderes semideuses.

Baômi, filha de Êêma, do povo Sateré-Mawé, enfrentando o Mapinguari. Matinta Pereira, ao fundo, aparece vindo da neblina (Ilustração: Leon Sarmento/Especial para a Cenarium)

O jogo é acompanhado de um livro, resultado de um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) em Design Gráfico do ilustrador Leon Sarmento, feito em parceria com mais três pessoas: Brau Saraiva, que roteirizou e criou o sistema do jogo, e o casal Felliphe Wesllen Lima Corrêa e Amanda Pereira Morais, que já possuíam as ideias sobre o conceito dos personagens e criaturas, além de uma lojinha virtual.

Da esquerda para a direita: Leon Sarmento, Brau Saraiva, Amanda Morais e Felliphe Lima (Arquivo Pessoal/Reprodução)

Alternativas

Leon Sarmento contouque por conta da falta de incentivo financeiro com patrocínio, a equipe pretende lançar o jogo com a ajuda da plataforma de financiamento coletivo Cartase, arrecadando recursos por meio de doações de voluntários. Segundo o ilustrador, no entanto, o grupo está em busca de alternativas para bancar os custos e aberto a negociação com as editoras.

“Optamos pelo Catarse que é uma plataforma de crowdfunding, onde a gente apresenta uma prévia do material, a galera que curte investe com diversos valores e tem a recompensa que varia de um exemplar do quadrinho, do jogo, até um kit com o jogo completo, mais as camisas com os personagens quadrinho, enfim, temos muitas respostas positivas da parte de quem jogou. O nosso sonho é ver ele rodando as mesas de RPG do Brasil e do mundo, por que não?”, comentou Leon.

Capa do jogo Ubiratã, que tem formato de um RPG (Leon Sarmento/Reprodução)

De acordo com Sarmento, idealizar o projeto como um livro seria a melhor maneira de mostrar ao público o cenário do jogo, detalhando a história dos deuses e das entidades da floresta, tudo em formato de RPG, que é a sigla em inglês para “Role Playing Game” (traduzido para o português como “jogo de representação”. Ou seja, um game onde os jogadores interpretam personagens e criam narrativas em torno de um enredo.

No princípio, a ideia inicial do jogo foi de um colega de classe, que iria fazer o projeto junto com Leon, mas acabou desistindo do curso e o ilustrador precisava de ajuda, até que encontrou Phelliphe, Amanda e Braulino, pois Leon não jogava RPG.

Jogo inclui personagens como o Matinta Pereira, Saci-Pererê e Curupira (Leon Sarmento/Reprodução)

Ao todo, são 25 personagens dentro do jogo Ubiratã, sendo 20 jogáveis. Segundo Leon, quatro personagens se embasam em deuses da mitologia indígena, como Tupã, Jaci, Guaraci e Boiuna, e cinco personagens da cultura folclórica: Mapinguari, Saci, Curupira, Matinta Pereira e Boitatá. “O jogo é um RPG de mesa composto por fichas com as ilustrações dos personagens e suas devidas habilidades que tirando os dois principais, Baômi e Bryan, cada personagem tem uma versão masculina e feminina”, destacou o ilustrador.

Aprendizado

Leon Sarmento destaca que o Ubiratã tem como objetivo ajudar os jogadores no desenvolvimento da escrita e interpretação dos fatos, desenvolvendo ainda o raciocínio lógico e estimulando o aprendizado. Segundo ele, o jogador também ganha mais potencial criativo por meio da interação implementada do jogo, além de aprender a falar de maneira coloquial e a atuar ao assumir o papel de determinado personagem na trama do jogo e agir de acordo com o perfil dele.

O enredo entregue pelo jogo, onde as lendas são da Região Norte, com seres do folclore Amazônico, buscam enriquecer ainda mais a cultura da região, em um ambiente de aprendizado com o ato de jogar. Para Leon Sarmento, o Ubiratã é também uma oportunidade para todo o País e o mundo conhecer os personagens mitológicos da Amazônia.

Baômi descobre poderes sobrenaturais de cura aos 17 anos (Leon Sarmento/Reprodução)

Enredo

Guaraci e Jaci são filhos do poderoso Tupã, o deus trovão e senhor de toda a criação. Mesmo casado com Jaci, o deus do sol se interessa por Êêma, do povo Sateré-Maué. A beleza da indígena faz com que Guaraci pedisse para o personagem Caipora elaborasse um plano para que Iêtuá, marido de Êêma, se perdesse nas matas por uma noite.

Na ocasião, Guaraci toma a forma de Iêtuá, e se deita com Êêma. Do fruto do relacionamento deles, nasce Baômi, que cresceu como uma criança normal, apesar de prodígio. Aos 17 anos de idade, a menina foi ferida por uma lança ao tentar fugir de um casamento forçado.

O ferimento, no entanto, se curou rapidamente durante a fuga e, mesmo na escuridão profunda, a poderosa deusa Jaci percebeu e pediu para que Saci-Pererê a protegesse, como uma forma de observá-la.

À Baômi, Saci ensinou artes místicas e os caminhos da floresta. Por dois anos, eles foram amigos, até que numa noite, Baômi dormiu induzida por Saci, que arrancou três fios do cabelo dela e entregou para Jaci investigar mais a jovem.