Verão amazônico: Defesa Civil alerta sobre período de estiagem e queimadas na Amazônia

Registro da seca no município de Amaturá, em 2018 (Defesa Civil do Amazonas/Divulgação)

24 de setembro de 2021

20:09

Bruno Pacheco – Da Cenarium

MANAUS – A Defesa Civil do Amazonas alertou, nesta sexta-feira, 24, sobre o período de estiagem e as queimadas na Amazônia. Segundo o levantamento realizado pelo órgão, por meio do Centro de Monitoramento e Alerta (Cemoa), as bacias dos rios Purus e Madeira se encontram em processo de seca, com níveis no limite inferior à faixa da normalidade, indicando possibilidade de vazante severa nas regiões.

Na bacia Purus, que liga o Amazonas ao Estado do Acre, o nível da água em Rio Branco, capital acriana, a vazante tem influência remota nas regiões do Alto e Médio Purus, de acordo com a Defesa Civil. A estação referência para a região, no município de Boca do Acre, no Amazonas, registrou, na quinta-feira, 23, a cota de 4,42 metros e está em Status de Alerta. A menor vazante registrada na cidade ocorreu em 7 de outubro de 1998, atingindo a cota de 2,19 metros.

Bacia do Rio Purus que liga o Amazonas ao Acre (Reprodução/Internet)

Na bacia do Madeira, que liga o Amazonas ao Estado de Rondônia, a estação que monitora a região, no município amazonense Humaitá, registrou, na quinta-feira, 23, o nível de 10,32 metros. “No dia 23 de setembro de 1969, ano da menor vazante registrada no município, registrou o nível de 8,61m (1,71m abaixo da cota atual). A menor vazante registrada em Humaitá ocorreu no dia 1º de outubro de 1969, atingindo a cota de 8,33m, faltando 1,99m para atingir a referida cota, enquadrando a região no Status de Atenção”, diz comunicado da Defesa Civil.

Juruá e Alto Solimões

Conforme o levantamento, na bacia do Juruá, o nível do rio se encontra em processo regular de vazante, com níveis baixos para o atual período do ano. A estação de referência, em Cruzeiro do Sul, no Acre, registrou, na quinta-feira, 23, o nível de 4,94 metros.

No Sudoeste do Amazonas, o Alto Solimões também está em processo natural de vazante. Segundo a Defesa Civil, a estação que monitora a região, em Tabatinga, registrou, na quinta-feira, 23, o nível de 3,28 metros. A menor vazante no município ocorreu no dia 11 de outubro de 2010, quando o rio chegou a marca de -0,86 metros, 4,14 metros abaixo da cota atual. A cidade está em Status de Atenção.

Falta de chuva

A estiagem é um fenômeno prolongado causado pelo baixo período de precipitação (ausência de chuva) em determinadas regiões. Para o doutor em Geografia Física e professor do mestrado em Gestão e Regulação de Recursos Hídricos da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), Carlossandro Albuquerque, esses acontecimentos ocorrem anualmente e são considerados normais.

“É uma dinâmica normal, natural. É a dinâmica que você tem de movimentação das massas de ar que circulam na região amazônica. No caso, a Massa Equatorial Continental (mEc). Nesse período, ela tem um deslocamento mais para o hemisfério Norte; consequência disso: diminui o volume de circulação de chuva sobre a nossa região. E os meses de agosto, setembro, outubro, que é o período de menor precipitação, é o período que chamamos de estiagem na região amazônica”, explicou o especialista.

Mapa mostra o fenômeno da Massa Equatorial Continental (Reprodução)

Segundo o professor, além da falta de chuva diminuir os níveis dos rios, prejudica o abastecimento de água e gêneros alimentícios das cidades, o transporte fluvial, deixando também os municípios isolados, por conta da impossibilidade de navegação nas bacias amazônicas.

Outro problema ocasionado pela baixa precipitação, para a Defesa Civil do Amazonas, é o aumento da temperatura, que pode provocar no surgimento de focos de calor (queimadas), ao mesmo tempo em que são registrados menores valores de umidade relativa do ar no Estado.

Terreno com registro de queimadas, em Boca do Acre, em 2021 (Defesa Civil do Amazonas/Divulgação)

Esses fatores associados ao desmatamento, lembra o órgão, impactam diretamente a saúde da população, causando problemas respiratórios, como asma, bronquite, gripes e alergias. “Estes problemas ocorrem devido à inalação de poluentes na forma de partículas muito pequenas (chamados materiais particulados) e gases tóxicos, tais como: monóxido de carbono, ozônio troposférico, óxidos nitrosos, entre outros”, reforça o órgão.

Mais desmatamento, menos água

Uma das consequências do desmatamento, aponta o professor Carlossandro Albuquerque, é a diminuição do volume de água, por conta da floresta ser uma fábrica de emissão de umidade para a atmosfera, segundo ele. “A nossa floresta, que é uma floresta equatorial, contribui de forma significativa para a umidade atmosférica, por meio do processo de evapotranspiração que a cobertura vegetal faz”, destacou.

“Se eu aumentar o desmatamento, as queimadas, eu vou diminuir o volume de água que vai circular entre a superfície aqui da região e a baixa camada atmosfera. Resultado disso, eu diminuo a capacidade de chuva sobre a região. E, hoje, é uma grande preocupação nossa, enquanto estudamos essa questão hídrica, é essa incidência, esse desmatamento, porque pode acarretar essa diminuição de chuva para a região”, concluiu o especialista.

Verão Amazônico

O Cemoa, que realiza o monitoramento diário de variáveis que podem desencadear a ocorrência de desastres nas áreas da hidrologia e meteorologia, divulgou, nesta sexta-feira, 24, a “Cartilha Informativa de Estiagem“. O documento busca ajudar coordenadores municipais com medidas de planejamento e enfrentamento desses fenômenos neste segundo semestre do ano, quando começa a estação seca ou o “verão amazônico”.

A cartilha explica as consequências da falta de água e qual a relação com as queimadas; além de apontar como o município pode estar sendo afetado com a seca; quais cuidados a população deve ter com a saúde; como economizar água nesse período; e de que forma economizar energia elétrica de forma consciente.

“Nosso principal objetivo é enviar uma resposta antecipada, que possa ajudar a população a se preparar, visto que nosso Estado sofre eventos como inundações e estiagens, que são naturais, cíclicos e sazonais”, explica o sargento Charlis Barroso, chefe do Cemoa.

Veja a cartilha: