Vídeo: estiagem no interior do Amazonas deixa ribeirinhos em situação de risco

Região enfrenta umas das piores secas dos últimos anos (Arquivo)

10 de outubro de 2020

07:10

Bruno Pacheco  —  Da Revista Cenarium

MANAUS  —  O município de Manaquiri (a 54 quilômetros de Manaus), localizado na região do Baixo Solimões, no Amazonas, entrou em situação de emergência após a vazante dos rios e seus afluentes ocasionarem o fenômeno da estiagem, acarretando o isolamento de centenas de famílias que vivem em comunidades ribeirinhas da zona rural.

De acordo com a pesquisadora responsável pelo Sistema de Alerta Hidrológico do Serviço Geológico do Brasil (CPRM), Luna Gripp Alves, as enchentes e as vazantes são fenômenos naturais que ocorrem ao longo do ano, fazendo parte do comportamento dos rios.

No entanto, a pesquisadora destacou que existem variações no comportamento do rio e que estas não ocorrem na mesma medida em relação a períodos anteriores, cujos parâmetros hidrológicos são considerados normais. Segundo ela, os eventos extremos estão cada vez mais frequentes, ainda não sendo possível diagnosticar os motivos dessas variações.

“Existem indícios ainda não comprovados sobre o efeito antrópico do desmatamento na Amazônia e das queimadas; vários estudos indicam que as ações do homem possam ter algum efeito em relação à variação dos rios, principalmente, em relação aos eventos extremos”, pontuou.

Luna Gripp, pesquisadora do Serviço Geológico do Brasil – (Arquivo Pessoal)

Como exemplo, Luna Gripp cita Manaus, cuja cheia máxima havia sido, durante muito tempo, atingida em 1953. “Depois da magnitude dessa cheia, ela foi novamente observada em 2009. Acreditava-se que ela só se repetiria de novo daqui a 50 anos, mas na verdade ela foi igualada e superada em 2012 e para vazante é a mesma coisa. Comparando com dados da série histórica, é muito comum a gente observar o nível crítico de vazante ser atingido”, salientou.

Estado de emergência

Na última quinta-feira, 8, a prefeitura de Manaquiri publicou um decreto no Diário Oficial dos Municípios (DOM), estabelecendo a medida emergencial, pelo prazo de 90 dias, nas áreas afetadas da cidade.

Um dos reservatórios mais atingidos pela seca do verão amazônico fica à margem do rio Paraná do Manaquiri, afluente do Rio Solimões. Na região, o cenário é desolador. Em meio ao verão amazônico, que termina em meados de novembro deste ano, as imagens revelam uma imensidão de terra, que antes era coberta pelas águas.

Com a seca, ribeirinhos não conseguem trafegar pelos rios (Arquivo)

Em vídeo compartilhado por internautas, é possível observar casas isoladas e barcos sem terem como se movimentar e para onde ir, deixando famílias inteiras em situação de vulnerabilidade.

Os ribeirinhos da região têm no transporte fluvial como único meio de acesso para Manaquiri, utilizada para fins de escoamento da produção agrícola, considerada pela prefeitura como principal fonte de renda do município, que tem cerca de 33.049 habitantes, segundo estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2020.

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O ambientalista e perito ambiental, Evanaldo Nascimento, disse que o fenômeno que acontece no município é provocado pela alteração do leito do rio, em 1995, cujo resultado é o assoreamento (acúmulo de sedimento).

Ambientalista e perito ambiental, Evanaldo Nascimento, em meio à seca do rio Paraná do Manaquiri (Arquivo Pessoal)

“Qualquer alteração no ambiente natural sem planejamento causa grande impacto ao meio. Nos anos de 1995, foi feita uma alteração no leito do rio, um serviço de dragagem ligando o Solimões ao Paraná do Manaquiri. Depois de 25 anos, veio a resposta da natureza: o assoreamento do Paraná”, disse.

Segundo ele, nas margens dos rios é comum a derrubada da vegetação nativa para o plantio de agricultura familiar. Com a modificação, o solo fica vulnerável, provocando desmoronamentos, conhecido popularmente como fenômeno da “terra caída”.

“Com o passar do tempo, acontece o assoreamento dos leitos, o que aconteceu em Manaquiri, deixando comunidades inteira isoladas, com sérios problemas sociais. Infelizmente, nos próximos anos, a tendência é piorar, é necessário pensar em alternativas concretas”, pontuou.

Consequências

Com a seca dos rios, inúmeras são as consequências. Entre elas, estão a impossibilidade do abastecimento de água para consumo nas casas das famílias, o aumento do risco de queimadas e a criação de um ambiente propício para o desenvolvimento de doenças. Além disso, animais são os principais afetados.

“A falta de água potável para o consumo cria um ambiente propício ao desenvolvimento de doenças graves, como a diarreia, hepatite A, verminose e outros”, diz trecho do decreto da prefeitura, que deixou a região em emergência por 90 dias.

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“O parecer da Coordenadoria Municipal de Defesa Civil relatando a ocorrência é favorável à declaração de situação de emergência nas localidades diretamente atingidas sendo: Ajará, Barrrosinho, Costa do Barroso, Costa do Aruanã, Ilha do Barroso, Jutaí, lago do Açu, Lago do Pacova, Paranã do Manaquiri e Ressaca do Pesqueiro”, esclareceu outro trecho da medida.

Com a declaração, fica autorizada a mobilização de todos os órgãos municipais para atuarem sob a coordenação da Defesa Civil nas ações de resposta ao desastre e reabilitação do cenário.

O decreto completo pode ser conferido aqui.