09 de outubro de 2020
16:10
Mencius Melo – Da Revista Cenarium
MANAUS – A influencer digital Areline Martínez, de 21 anos, pagou com a vida ao “brincar” com arma de fogo, durante um sequestro forjado que estava gravando para o TikTok, uma das redes sociais voltadas para virais. O acidente aconteceu semana passada em Chihuahua, no México.
Ao perceber o disparo, os amigos que participavam da encenação abandonaram a Tiktoker, que foi encontrada apenas no dia seguinte com pés e mãos amarrados. Parte do vídeo chegou à internet e o incidente causou espanto pela forma como abandonaram Areline.
Essa não é a primeira vez que a busca desesperada por “likes” termina em tragédia. Em 2017, o casal norte-americano, Monalisa Perez e Pedro Ruiz, decidiram que iriam “bombar” o canal no YouTube. Os dois tiveram a ideia “genial” de brincar com um revólver de verdade.
A encenação terminou com Pedro tombando após o tiro fatal que levou no peito, disparado acidentalmente pela namorada. A REVISTA CENARIUM conversou com uma influencer e um psicólogo de Manaus, para saber mais sobre o universo, muitas vezes perverso das redes sociais.
Ansiedade e crises de pânico
A digital influencer Isabelle Nogueira, que possui 161 mil seguidores no instagram, outros 50 mil no Facebook e mais de 10 mil no TikTok, diz que muita gente se torna refém da audiência nas redes sociais. “Existe gente que sofre com crises de pânico e ansiedade por conta da audiência”, informa.
Segundo Isabelle, acidentes como o da influencer mexicana ocorrem principalmente na rede YouTube. “Esse tipo de encenação, até pelo tempo de vídeo, acontece no YouTube e muitas vezes representa um desespero para alavancar ou provocar engajamento”, explicou Isabelle.
“A questão é que para conseguir mais seguidores, as pessoas criam personagens, histórias e status que na verdade não possuem, isso as torna dependentes das redes e qualquer queda de popularidade representa um verdadeiro terremoto, dada a dependência de audiência”, criticou.
Redes saudáveis
Isabelle conta que trabalha mentalmente para não ser engolida por armadilhas digitais. “Trabalho muito as minhas redes mostrando meu lado fitness de saúde corporal e de saúde mental e procuro sempre, sempre, não me assustar com a queda de audiência que é uma coisa completamente normal”, ponderou.
Para a psicóloga Neyla Siqueira, a pressão por resultados é uma realidade que toma conta das redes. “As redes sociais já levantam a temática sobre a busca desenfreada por curtidas há algum tempo, e aquecem a discussão entre o poder de diferenciar o que é real do virtual”, afirmou.
“Mas penso que superexposição ou ainda a criação de situações fantasiosas apontam para um problema bem mais profundo. É possível indicar desde questões mais simples como baixa autoestima até mesmo transtornos mais sérios que indiquem dificuldade de dissociar fantasia de realidade”, observou.
Distorção da realidade
De acordo com a profissional, outros distúrbios podem ser avaliados. “É possível ainda traçar um perfil inicial de pessoas que agem desta forma, que se comportam de uma determinada maneira como forma de agradar a audiência, escolhem um nicho para chamar de seu e fazem dele a sua realidade”, apontou.
O mundo muitas vezes obsessivo das redes sociais e a total dependência dos smartphones por parte de milhares de pessoas virou alvo de produções cinematográficas como a série ‘Black Mirror’ da Netlix. A película seriada mostra a cada capítulo situações surreais ligadas à relação ‘celular+redes+indivíduos.
“Em troca, a quantidade de curtidas, de seguidores e dos comentários, pessoas acabam fomentando um ciclo que pede cada vez mais conteúdo “de qualidade”e assim o limite (que já quase não existe) é completamente desrespeitado e infelizmente acaba em tragédias como essa”, finalizou Neyla.