Vídeo: Yanomamis temem massacre em Terra Indígena e pedem segurança após ataques de garimpeiros

A decisão e os autos do processo estão sob sigilo (Reprodução/Arquivo Pessoal)

11 de maio de 2021

12:05

Marcela Leiros

MANAUS – Os indígenas Yanomami que foram atacados por garimpeiros na manhã dessa segunda-feira, 10, temem que ocorra um massacre e pediram medidas de segurança aos órgãos e instituições como a Fundação Nacional do Índio (Funai), Ministério Público Federal (MPF) e Polícia Federal (PF). De acordo com os indígenas, este foi o terceiro ataque à Terra Indígena localizada em Roraima em 15 dias. O conflito seria retaliação à apreensão de cerca de cinco mil litros de gasolina utilizada nas atividades ilegais de garimpo.

No ofício assinado pelo presidente do Conselho de Saúde Indígena Yanomami e Ye’kwana (Condisi-YY), Junior Hekurari Yanomami, é solicitada a execução de ações em curto espaço de tempo, pois a atividade criminosa do garimpo ilegal “caminha para sair do controle das forças de segurança”. À CENARIUM, Hekurari Yanomami afirmou que o Povo Yanomami teme pela segurança. Disse ainda que os indígenas correm o risco de sofrer um massacre.

“O povo Yanomami está com muito medo, nunca viram o que aconteceu ontem [segunda-feira]. Foram muitos tiros de arma pesada, arma militar, de fuzil, metralhadora, pistola. Todo tipo de coisa que o homem branco usa. Nós estamos muito preocupados. Nós precisamos que façam a segurança do povo Yanomami. Pode acontecer um massacre, as armas que estão levando são muito pesadas. Estão invadindo a Terra Indígena”, disse o representante dos Yanomami.

Veja o vídeo do ataque:

Vídeo mostra início do ataque aos Yanomami nessa segunda-feira, 10 (Reprodução/Arquivo Pessoal)

Há cerca de 15 dias os indígenas apreenderam em torno de 5 mil litros de gasolina utilizada na prática de garimpo ilegal dentro da Terra Indígena. Após a ação, outros dois ataques foram feitos. Os indígenas convivem constantemente com a presença dos garimpeiros ilegais na região.

“Não é a primeira vez, já é a terceira vez em 15 dias. O rio é passagem dos garimpeiros, onde passa vários barcos dos garimpeiros no Rio Uraricoera. Constantemente vemos essa movimentação dos garimpeiros. A gente não tem fiscalização e nem uma barreira”, disse Hekurari Yanomami.

Gasolina apreendida pelos indígenas (Reprodução/Arquivo Pessoal)

Esclarecimentos

A reportagem entrou em contato com o MPF, a PF e a Funai e solicitou informações sobre quais medidas estão sendo tomadas para garantir a proteção dos indígenas Yanomami. Em nota, a Fundação Nacional do Índio informou que acompanha o caso junto às forças policiais e aguarda mais informações. “A fundação esclarece ainda que não comenta fatos em apuração”, disse em resposta.

O Ministério Público Federal afirmou que agentes da Polícia Federal foram ao local do conflito apurar e que o MPF já está ciente sobre o “possível conflito”. O órgão disse ainda que aguarda informações oficiais dos agentes de campo para adotar as medidas cabíveis, dentro dos procedimentos já existentes sobre garimpo ilegal e terras indígenas. A Polícia Federal não respondeu aos questionamentos da reportagem até a publicação desta matéria.

Entenda o caso

O ataque ocorreu por volta das 11h da segunda-feira e durou cerca de 10 minutos. De acordo com os indígenas, 10 pessoas armadas estavam em três barcos munidos com armas pesadas. Três pessoas identificadas como garimpeiros morreram e um indígena ficou ferido. Em um vídeo divulgado após os ataques, moradores da comunidade pediram que órgãos de fiscalização e proteção da Amazônia e comunidades tradicionais agissem urgentemente.

“Estamos muito triste e muito preocupados. Amanhã [terça-feira] eu quero que as polícias cheguem aqui e cheguem logo, precisamos que vocês venham aqui amanhã. Segurança, Funai, Ibama, nós precisamos isso, nós estamos muito com medo por causa desses garimpeiros. Nós não atiramos neles, eles chegaram aqui a gente não sabia. Precisamos da força da Polícia Federal, da Funai”, diz o indígena (vídeo abaixo).

Yanomamis pedem urgência em proteção e segurança à comunidade (Reprodução/Arquivo Pessoal)

Repúdio a ataques

O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) manifestou profunda indignação e repudiou mais um ataque violento de garimpeiros contra uma comunidade indígena dentro da Terra Indígena Yanomami. Lembrou ainda que o ataque não é um fato isolado, pois a presença de cerca de 20 mil garimpeiros dentro da Terra Indígena Yanomami representa uma violência permanente contra os povos Yanomami e Ye’kuana e contra seu território.

O Cimi reafirmou ainda que “as operações de combate ao garimpo dentro da TI Yanomami mostraram-se até o momento claramente insuficientes e ineficazes, e não atingem as redes de sustento do garimpo e os esquemas de enriquecimento ilegal ao longo da cadeia da exploração mineral”.

A Frente Parlamentar Mista em Defesa dos Direitos dos Povos Indígenas (FPMDDPI) também repudiou o ataque e informou que oficiou o MPF e demais órgãos competentes sobre informações sobre o ataque. 

Invasões na Terra Indígena

O garimpo avançou 30% na Terra Indígena Yanomami em 2020, apesar da pandemia de coronavírus. Entre janeiro e dezembro, 500 hectares foram devastados pelo garimpo ilegal na região. Além da violência, os Yanomami sofrem também pela contaminação por mercúrio, causada pelo garimpo criminoso em suas terras, e a contaminação por Covid-19.

Confira o documento enviado pelo Conselho Distrital de Saúde Indígena (Condisi):