Defendida por representante do Ministério da Saúde em Manaus, cloroquina é descartada pela OMS

(Diego Peres/Secom)

05 de janeiro de 2021

12:01

Bruno Pacheco – Da Revista Cenarium

MANAUS – Mesmo sem comprovações científicas sobre a eficácia da cloroquina no combate à Covid-19, a secretária de Gestão do Trabalho e da Educação da Saúde do Ministério da Saúde, Mayra Pinheiro, defendeu nessa segunda-feira, 5, em Manaus, o uso do medicamento para o tratamento precoce do novo Coronavírus. O uso da cloroquina chegou a ser contraindicado pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

Em declaração durante coletiva de imprensa na sede do governo do Amazonas nessa segunda, ao lado do governador Wilson Lima e da diretora-presidente da Fundação de Vigilância em Saúde (FVS-AM), Rosemary Costa Pinto, Mayra Pinheiro incentivou o uso do medicamento utilizado desde os anos 1930 para tratamento da malária, doença febril transmitida por mosquito.

“Hoje a gente já tem evidências científicas suficientes, inclusive avaliadas pelo Conselho Regional de Medicina do Estado do Amazonas, fazendo com que a gente possa ter muita tranquilidade que você possa receber medicamentos que vocês aqui no Amazonas já usam há muito tempo para tratamento da malária, com baixíssimo risco de causar efeitos colaterais”, disse a secretária da pasta, ao atacar a imprensa por, segundo ela, prestar “desinformação”.

Alta toxicidade

A eficácia da hidroxicloroquina no tratamento da Covid-19, no entanto, é descartada pelas autoridades internacionais de saúde. Em 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) chegou a fazer testes com o medicamento, mas suspendeu os estudos após resultados de outras pesquisas não mostrarem benefício do remédio contra malária para tratar a doença respiratória, provocada pelo novo Coronavírus.

No Amazonas, pesquisadores alertaram sobre o uso do medicamento, sem o controle ou prescrição médica. O pesquisador e médico infectologista Marcus Lacerda, da Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado (FMT-HDV), chegou a afirmar, em abril do ano passado, que a cloroquina apresenta alta toxicidade e o perigo de usar o remédio de forma descabida.

“Como todos sabem, existem trabalhos científicos que mostram a alta toxicidade desse medicamento, principalmente quando combinado com a azitromicina. O uso desse medicamento só deve acontecer em ambiente de pesquisa, de forma controlada, devido ao perigo que é usar um medicamento desse tipo”, alertou, ao jornal A Crítica.

Em entrevista à REVISTA CENARIUM nesta terça-feira, 5, o doutorando em Biologia pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Lucas Ferrante, também alertou quanto à eficácia da cloroquina. Segundo ele, o medicamento pode causar problemas ao organismo dos pacientes se utilizado de forma descontrolada.

“A cloroquina, assim como a ivermectina, tem ineficácia científica comprovada no tratamento da Covid-19 e ainda causa problema ao organismo do paciente se tomadas de forma descontrolada”, afirmou o cientista.