Preso pelas mortes de Dom e Bruno, ‘Colômbia’ consegue liberdade, mas permanece na prisão por outro crime

Ruben Villar Coelho, conhecido como "Colômbia", é apontado como chefe do esquema de lavagem de dinheiro do narcotráfico por meio da pesca ilegal no Vale do Javari (Reprodução/Divulgação)

12 de outubro de 2022

10:10

Gabriel Abreu – Da Agência Amazônia

MANAUS – O Ministério Público Federal (MPF) esclareceu, em nota enviada à AGÊNCIA AMAZÔNIA nesta terça-feira, 11, que Ruben Dario da Silva Villar, conhecido como “Colômbia”, segue preso, preventivamente, por associação criminosa, e que a ação tramita na Vara Federal de Tabatinga (distante 1.106 quilômetros de Manaus). Ele é suspeito de ser o mandante dos homicídios do indigenista Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips. As mortes aconteceram dentro da Terra Indígena Vale do Javari, em junho deste ano.

Durante o fim de semana, a imprensa chegou a noticiar que “Colômbia” seria liberado para responder ao processo em liberdade. “Colômbia” é réu em dois processos tendo a prisão preventiva decretada em ambos. Na ação penal que respondia por uso de documento falso, a prisão preventiva dele foi revogada.

Nesse caso, o órgão afirmou que ingressou com recurso, no dia 6 de outubro, para que a prisão seja novamente decretada. Entre os pontos apresentados pelo MPF estão o risco de fuga e o fato de ele responder, ainda, a outra ação penal sobre associação criminosa. O recurso ainda aguarda análise da Justiça Federal.

Jornalista britânico Dom Phillips e indigenista Bruno Pereira (Reprodução/ Internet)

Prisão

Ao ser preso no dia 8 de julho, Ruben Villar foi detido em flagrante por uso de documentos falsos quando era ouvido na delegacia de Tabatinga sobre suposta participação nos homicídios. Ele negou envolvimento com o crime. Ao ser preso, afirmou à PF que conhece Amarildo da Costa Oliveira, o “Pelado”, mas que existe apenas “relação comercial” com o pescador e outros da região de Atalaia do Norte.

“Colômbia” compareceu à delegacia de forma espontânea, acompanhado de um advogado. Segundo o superintendente da PF, Eduardo Fontes, a prisão em flagrante de “Colômbia” ocorreu por conta de falsificação de documentos, cuja pena para esse tipo de crime é de quatro anos e não cabe pagamento de fiança. Por isso, conforme o delegado, o suspeito deve continuar preso.

Pesca ilegal em reserva

Uma das principais linhas de investigação da PF para o assassinato de Dom e Bruno, no Vale do Javari, é o combate do indigenista à pesca ilegal em reserva indígena. Com o desaparecimento deles, vazou um vídeo na internet, depois confirmado pela polícia, no qual Bruno adverte uma embarcação no Vale do Javari.

Há também um áudio, vazado à imprensa, no qual Bruno Pereira fala de uma reunião que pretendia ter com parlamentares do município de Atalaia do Norte para que a comunidade evitasse a pesca do pirarucu em terra indígena, podendo colocar em risco o manejo desse peixe típico da Amazônia.

O pirarucu é uma das espécies mais visadas no mercado ilegal. Um dos maiores peixes de água doce do mundo, pode medir até três metros de comprimento e pesar até 200 quilos. Além de servir para alimentação, sua pele é usada na confecção de artefatos (bolsas, sapatos, cadeiras) e as escamas para joalheria.

Lavagem ao narcotráfico

De acordo com fontes ouvidas pela AGÊNCIA AMAZÔNIA na Polícia Federal, a pesca ilegal no município de Atalaia do Norte e na área de tríplice fronteira no Amazonas (Brasil, Peru e Colômbia) pode ter ligação com o crime de tráfico de drogas e vistas à lavagem de dinheiro.

Pela linha de investigação da PF, a busca ilegal do pirarucu, isto é, sem manejo autorizado pelos órgãos competentes e, principalmente, em terra indígena, permite, a quem pratica a ação de vender o peixe em feiras e comércios com o valor acima do mercado, que o recurso seja usado como justificativa para o dinheiro obtido no narcotráfico. A Terra Indígena Vale do Javari tem mais de 85 mil quilômetros quadrados e fica na fronteira brasileira com o Peru e a Colômbia.

Caso Dom e Bruno

O jornalista Dom Phillips e o indigenista Bruno Pereira desapareceram na região do Vale do Javari, no Amazonas, em 5 de junho deste ano, após serem ameaçados em campo. Os dois foram vistos pela última vez quando seguiam trajeto da Comunidade São Rafael ao município de Atalaia do Norte. Somente em 15 de junho, remanescentes humanos das vítimas foram localizados.

Até o momento, além de “Colômbia”, quatro foram presos suspeitos de envolvimento nas mortes de Dom e Bruno: o pescador Amarildo da Costa Oliveira, o “Pelado”, foi o primeiro a ser detido; Oseney da Costa, o “Da Costa”, irmão de Amarildo; Jeferson da Silva Lima, também conhecido como “Pelado da Dinha”; e Gabriel Pereira Dantas, que já foi solto.