Saiba quem é o ciclista desaparecido há um mês na fronteira do Brasil com Essequibo

George é militar da reserva e missionário (Arquivo pessoal)

29 de abril de 2024

14:04

Marcela Leiros – Da Revista Cenarium*

MANAUS (AM) – O missionário e ciclista George da Silva de Souza, 63 anos, desapareceu perto da fronteira do Brasil com Essequibo, na Guiana, durante uma expedição que iniciou-se no Chuí, no Rio Grande do Sul, e tem como destino o Monte Caburaí, em Roraima. A distância entre os dois pontos localizados, respectivamente, no extremo Sul e Norte do País, é de 4.487 quilômetros em linha reta.

Ao G1, a esposa e o filho de George informaram que o último contato do ciclista com a família foi no dia 27 de março, enquanto ele estava no município roraimense de Uiramutã, a 206 quilômetros da capital, Boa Vista. Segundo a Polícia Civil de Roraima (PC-RR), ele foi dado como desaparecido apenas no dia 11 de abril, quando familiares comunicaram as autoridades sobre a perda de contato.

Veja o mapa:

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Mapa do Brasil; ciclista saiu do Chuí com destino ao Monte Caburaí (Arquivo pessoal)
Aventureiro

George da Silva de Souza é militar aposentado da Força Aérea Brasileira (FAB). Ele começou a expedição no dia 19 abril de 2023 em Arroio Chuí, na fronteira do Brasil com o Uruguai, conhecido por ser o ponto mais extremo no Sul do território brasileiro.

George está desaparecido desde o dia 27 de março. — Foto: Arquivo pessoal
George está desaparecido desde o dia 27 de março (Arquivo pessoal)

O missionário chegou a Uiramutã, no Norte de Roraima, no dia 25 de março e de lá seguiria viagem pedalando até o Monte Caburaí. A última pessoa com quem ele falou foi com a esposa, por chamada de vídeo, por volta de 8h30 do dia 27 de março.

Sem notícias, a família registrou dois boletins de ocorrência por desaparecimento. O primeiro, feito pelo irmão do ciclista, foi registrado no dia 11 de abril, na delegacia virtual da Polícia Civil. O segundo foi registrado pela esposa de George na segunda-feira, dia 22 de abril, no 1º Distrito Policial, após a família receber informação de que ele havia sido visto na Guiana.

George em Uiramutã, a 206 quilômetros da capital Boa Vista (Arquivo pessoal)

O prazo dado pelo missionário à família para retorno do Monte Caburaí é no dia 8 de maio. O acesso ao Monte Caburaí é difícil, não tem estradas e é feito somente por trilhas no meio da mata fechada.

Em 2002, há 21 anos, George fez uma expedição semelhante que durou 79 dias. Na época, ele saiu de bicicleta do Uiramutã e foi até o Chuí. Atualmente, mora com a esposa em Bertioga, no interior de São Paulo.

Aventureiro, George já fez o caminho inverso em 2002 (Arquivo pessoal)
Investigação

A polícia de Roraima informou que o Corpo de Bombeiros Militar ultrapassou a fronteira para realizar o trajeto para o Monte Caburaí e chegou a pernoitar em uma das primeiras aldeias no percurso chamado de Urinduk, dentro da Guiana. Apesar de existir, no território brasileiro, uma comunidade indígena também chamada de Urinduk, George da Silva de Souza pernoitou na aldeia localizada na Guiana, “pois o percurso pelo Brasil é praticamente impossível“.

A equipe ainda foi ao município de Uiramutã, onde coletou informações, retornou para Boa Vista e aguarda autorização para adentrar em território estrangeiro para realizar as buscas. “É necessário considerar que a corporação estadual não possui competência para atuar fora da jurisdição, neste caso, em outro país, sem permissão prévia”, cita nota enviada pela polícia.

O delegado titular de Pacaraima, Domingos Sávio, expediu uma Ordem de Missão aos policiais, que se deslocaram até o município de Uiramutã e mantiveram conversas com moradores e integrantes do Conselho Tutelar, finalizando em 19 de abril. Segundo levantamento, o acesso ao Monte Caburaí é difícil e não tem estradas, somente por trilhas no meio da mata fechada.

A área de rios que limita Brasil e Guiana, Rio Maú e Rio Uailã, também é de difícil acesso e para atravessar é preciso uma embarcação e com a ajuda dos moradores indígenas locais. Com a travessia, a Polícia de Roraima não tem jurisdição no País vizinho“, reforçou.

Os policiais constataram que o missionário segue a trilha rumo ao Monte Caburaí porque passou na região há cerca de 15 dias e chegou a dormir em uma igreja. Além disso, moradores da região informaram que estiveram com o missionário e o alertaram sobre as condições da estrada e o caminho de difícil acesso. Segundo relato das pessoas que estiveram com ele na área indígena, o cronograma exposto por George é muito apertado para cumprir o referido trajeto no prazo estipulado por ele aos familiares.

A Polícia Civil informou ainda que a região onde George “adentrou é de mata fechada e sem acesso à internet, o que dificulta ainda mais os esforços de comunicação e possível resgate pela instituição caso esteja em área brasileira“.

(*) Com informações do G1