‘Somos inimigos nº 1 do presidente’, diz líder indígena da Coiab, em Brasília

Nara Baré, chefe da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab). Foto: Divulgação

27 de abril de 2020

19:04

Michele Portela – Da Revista Cenarium

BRASÍLIA – Povos indígenas de todo o Brasil estão reunidos na 16ª edição do Acampamento Terra Livre (ATL), que começou virtualmente nesta segunda-feira, 27, e segue até o próximo dia 30 de abril. “Não estamos em Brasília, mas estamos na nossa casa maior, os nossos territórios. Somos inimigos número um do presidente e mesmo num momento de pandemia, sentimos a invasão ao nosso território aumentar”, declarou Nara Baré, representante da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab).

O ATL é realizado pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) anualmente em Brasília, capital federal, mas neste ano ocorrerá virtualmente, em função da pandemia da Covid-19. A ameaça à saúde global, o crescimento das invasões nos territórios indígenas, aumento de assassinatos e criminalização de lideranças e a denúncia do genocídio indígena estão em debate no evento.

Em debate de abertura entre lideranças indígenas, indigenistas e antropólogos, Nara Baré, ressaltou a adaptação do evento às novas tecnologias, de modo a garantir o encontro entre os povos indígenas do país. “Que bom poder trazer a nossa realidade, com nossas angustias, mas também sobre o que estamos fazendo em nossos territórios. Não estamos em Brasília, mas estamos em nossas casas”.

Sobre o contexto da pandemia, Nara fez uma crítica direta ao que chamou de “genocídio institucionalizado”. “Fomos eleitos inimigos número um do atual presidente. […] Ouvimos dele que teremos nosso território aberto à mineração. Neste ‘desgoverno’, a garantia não é da vida. O que mais está em pauta é a garantia da economia, que vale muito mais do que as nossas vidas”, discursou.

Nara também lembrou que o momento é de unificar as lutas dos povos indígenas em diferentes territórios, com uma pauta de mobilização comum. “Nunca foi fácil, com retrocessos, mas temos duas situações imediatas: o próprio genocídio indígena, histórico, e a fala do presidente do Brasil, incitando que o território seja invadido. Nós da Coiab estamos em prontidão nos nove estados da Amazônia, em diversas frentes de diálogo”, finalizou.

Sem diálogo com governo, indígenas buscam apoio internacional

No ano passado, Nara Baré já havia dito que seu povo estava sob ataque ao ministro alemão do Desenvolvimento, Gerd Müller. Primeira mulher à frente da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), ela falou sobre o aumento das invasões de terras indígenas, do garimpo ilegal, das fazendas com gado e plantações em áreas griladas. “Temos um presidente que declarou que governa para os ruralistas”, disse Nara à época.

Encontro em 2020

Nos painéis de discussões do ATL, os temas variam entre “Saúde indígena e o racismo institucional”, “Os povos indígenas em tempos de Coronavírus”, “Agenda LGBTQ + Indígenas”, “Enfrentamento às mudanças climáticas, aumento do desmatamento e o impacto no pós-pandemia”, “Direitos Indígenas, violações e autoritarismos”, “Os processos migratórios dos povos indígenas no Acre e a Covid-19”, “Histórias sobre as primeiras retomadas no sul do Brasil”, “Mesa internacional”, entre muitos outros.

Serviço:
Data: de 27 a 30 de abril de 2020
Onde: nas redes sociais da APIB (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil)

A programação será hospedada no site http://apib.info/
Youtube: https://bit.ly/2VQtwvd
Instagram: @apiboficial
Facebook: @apiboficial
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