Acusado de omissão na pandemia, Bolsonaro usa vídeo de ônibus levando oxigênio para Manaus ao falar da BR-319

Em 2021, o relatório final da CPI da Covid pediu o indiciamento de Jair Bolsonaro por nove crimes, entre eles o de epidemia com resultado de morte e crime contra a humanidade (Arte: Ygor Fabio Barbosa)

29 de julho de 2022

13:07

Bruno Pacheco – Da Revista Cenarium

MANAUS – Acusado de se omitir no combate à pandemia da Covid-19, o presidente Jair Bolsonaro (União Brasil), compartilhou na manhã desta sexta-feira, 29, um vídeo em que um ônibus aparece atolado na BR-319 tentando levar oxigênio para a capital amazonense, no pico da crise que levou à falta do insumo nos hospitais da cidade, em 2021, ao se pronunciar sobre o asfaltamento do chamado ‘trecho do meio’ da rodovia que liga Manaus (AM) a Porto Velho (RO).

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Em 2021, o relatório final da CPI da Covid pediu o indiciamento de Jair Bolsonaro por nove crimes, entre eles o de epidemia com resultado de morte e crime contra a humanidade (Arte: Ygor Fabio Barbosa)

Bolsonaro é o centro das investigações da Comissão Parlamentar de Inquérito da Covid-19 (CPI da Covid), do Senado Federal, que resultaram no pedido de indiciamento dele e de outras 65 pessoas, além de duas empresas no ano passado por nove crimes, entre eles, a pandemia com resultado de morte e crimes contra a humanidade. A crise no sistema de Saúde do Amazonas, que levou à morte de dezenas de pessoas por falta de oxigênio em janeiro de 2021, foi uma das linhas de apurações.

Homem carrega cilindro de oxigênio para parentes hospitalizados (Bruno Kelly/ Reuters)

Entre as apurações de membros da CPI, os parlamentares registraram evidências de que o governo federal chegou a ignorar sucessivos alertas sobre a escassez de respiradores no Amazonas. O episódio se desenrolou, segundo as investigações, mesmo o governo sabendo do crescimento da demanda dos respiradores quase um mês antes do colapso da rede hospitalar do Estado, em janeiro de 2021, com a aceleração da pandemia no País, demorando ainda para entrar em ação no combate ao problema.

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Bolsonaro fala sobre BR-319

Nesta sexta-feira, 29, no entanto, Bolsonaro não citou a crise sanitária no Amazonas, mas no vídeo onde o ex-ministro de Infraestrutura Tarcísio de Freitas aparece, há a imagem de um ônibus carregado de oxigênio em meio ao barro do trecho do meio da BR-319. Na publicação, o presidente escreve que asfaltar a rodovia não é apenas uma questão de infraestrutura, mas de soberania nacional e combate ao crime.

“Os brasileiros já haviam se acostumado com carros e caminhões atolando na BR-319, que liga Porto Velho-RO a Manaus-AM. Esse tempo, felizmente, está chegando ao fim. O Ibama deu licença prévia à nossa iniciativa de asfaltar os 405 km restantes da rodovia, abandonados há 30 anos”, publicou, no Twitter, o presidente da República.

Bolsonaro continuou citando que “muitos grupos internacionais incentivaram” o descaso na rodovia. Novamente sem indicar nomes, o presidente disse ainda que o que interessa, a muitos, é que a Amazônia seja uma região isolada do resto do Brasil.

“A região interessa, inclusive, ao crime organizado, que enxerga em localidades onde o Estado tem dificuldade para penetrar uma ocasião para o roubo e o tráfico de drogas. Asfaltar a BR-319 não é somente uma questão de infraestrutura, mas de soberania nacional e combate ao crime”, concluiu Bolsonaro, na rede social.

Licenciamento

Nessa quinta-feira, 28, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) emitiu licença prévia para restauração do “trecho do meio” da BR-319, que liga Manaus (AM) a Porto Velho (RO), após 15 anos de imbróglio no órgão. A designação se refere à área entre os quilômetros 250 e 655 da rodovia no Estado amazonense.

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A rodovia de 870 quilômetros é considerada de extrema importância para a integração da Região Norte ao restante do País, mas o embate pela reconstrução se dá entre o desenvolvimento econômico e os riscos socioambientais. Especialistas já alertaram que as obras podem causar impactos irreversíveis ao meio ambiente e a populações tradicionais que vivem no entorno do “trecho do meio”.