Alegoria de vitória do bem contra o mal é criticada nas redes sociais

Alegoria completa trazia vitória do Arcanjo Miguel contra demônio (Reprodução)

21 de fevereiro de 2023

15:02

Ívina Garcia – Da Agência Amazônia

MANAUS – A alegoria da Escola de Samba Salgueiro que trazia a luta do Arcanjo Miguel contra o mal, apresentada na noite desta segunda-feira, 20, na Marquês de Sapucaí, no Rio de Janeiro, repercutiu negativamente na internet. Isso porque parte da estrutura, que tem mais de 100 metros de comprimento e 16 metros de altura, trazia a imagem da representação de um demônio, o que levou a interpretações como se fosse uma “homenagem” ao diabo.

Com o samba-enredo “Delírios de um Paraíso Vermelho“, a escola de samba cantava sobre liberdade e profanação, com representações de símbolos da mitologia cristã. Na alegoria em questão, o demônio aparecia próximo ao chão, derrotado pelo Arcanjo Miguel, colocado no ponto mais alto do carro alegórico, que tratava da vitória do bem contra o mal.

Alegoria completa trazia a vitória do Arcanjo Miguel contra o demônio. (Reprodução)

Em perfis no Instagram e no Twitter, internautas compartilharam suas indignações com a alegoria. “Por que isso tem sido normalizado? Que vergonha!“, escreveu um influenciador que acompanhou o desfile na Marquês de Sapucaí, no Instagram.

(Reprodução/ Twitter)

Em outra publicação, a ex-BBB e cantora Flay alegou que a alegoria estava enaltecendo e adorando o demônio. “Que show de horror! Independente de religião, que triste ver um espaço tão importante para mostrar arte e cultura ser usado para enaltecer e adorar o demônio. Que desgraça isso, me entristece de verdade, mas é isso, cada qual com seu Deus“, escreveu.

Publicação da cantora Flay. (Reprodução/ Instagram)

Conforme explicou a escola ao anunciar o enredo antes do desfile para o Carnaval 2023, a ideia era levar, para a avenida, a história da criação do “Paraíso”, com um novo olhar para o Jardim do Éden. Mas, apesar disso, tanto a alegoria quanto a fantasia da rainha de bateria, Sabrina Sato, receberam críticas.

Para o Xɛ́byosɔnɔ̀ Alberto Jorge, as escolas de samba exercem um importante papel na difusão da cultura brasileira, trazendo releituras e diferentes pontos de vista da fé, seja ela qual for, respeitosamente. Para ele, a “satanização” da festividade nada mais é do que uma visão eurocentrista de inferiorização de outras religiões e crenças.

Há sim um perverso projeto racista, de interesse religioso, social e político de, por meio da satanização, conseguir não só dominar, mas de manter e aumentar espaços brancos cristãos de privilégios, que garantem o lucro financeiro“, pontua o babalorixá.

Para ele, a história da humanidade já deu provas suficientes que a imposição de uma religião sobre outra não passa de uma “estratégia perversa, desumana, e nem um pouco cristã”. “Até quando a humanidade vai se deixar levar por esse processo perverso?”, indaga.

A solução para isso é a educação feita com base no respeito à laicidade do Estado, à liberdade religiosa, independente do credo. Uma cabeça pensante, independente, pode ter fé, ter religião, mas não se deixa dominar por histórias de guerras constantes entre um suposto Deus contra os demônios que ele mesmo criou e não consegue controlar“, expõe Alberto Jorge.

Veja vídeo da alegoria:

O carro alegórico da Escola de Samba Salgueiro. (Reprodução)