Aluno é imobilizado por PMs em Pacaraima e moradores apontam truculência

O colégio militarizado é o único da rede estadual no município (Reprodução/Redes Sociais)

18 de agosto de 2023

20:08

Winicyus Gonçalves – Da Agência Cenarium Amazônia

BOA VISTA (RR) – Um adolescente de 16 anos foi imobilizado e preso por policiais militares na noite de quinta-feira, 17, durante uma confusão no Colégio Estadual Militarizado Cícero Vieira Neto, em Pacaraima (a 213 quilômetros de Boa Vista). A Polícia Militar de Roraima (PM-RR) afirma que o aluno agrediu e xingou monitores da unidade, resistindo à abordagem, o que motivou a imobilização, mas a população do município alega que a ação foi feita de forma violenta.

A confusão teve início após os alunos, de origem venezuelana, chegarem atrasados à escola para as aulas do período noturno, por conta de um problema mecânico no ônibus de transporte escolar que levava os alunos de Santa Elena, no País vizinho, até Pacaraima. Em razão do atraso, os alunos tiveram a entrada impedida pela direção da escola.

Conforme o relatório de ocorrência da Polícia Militar, o aluno agrediu um dos monitores do colégio com um soco no rosto, o chamando de “mamaguevo, maricon e polícia de merda”. Uma equipe da corporação foi acionada para ir até a escola. Ao perceber a chegada da guarnição, o aluno se escondeu em uma distribuidora de bebidas.

O jovem resistiu à ação, e os policiais o imobilizaram. Durante a abordagem, chegaram a tentar aplicar um golpe conhecido como ‘gravata’, quando uma pessoa usa um dos braços aplicando uma pressão contra o pescoço do oponente, que pode levá-lo ao estrangulamento. A AGÊNCIA CENARIUM AMAZÔNIA teve acesso a um dos vídeos da ação:

A corporação relata em relatório que moradores tentaram “intervir na ação da guarnição”. Em nota, a direção da escola afirmou que o aluno estava “muito alterado e apresentando possíveis sintomas de embriaguez ou alterações psíquicas”. Moradores do município, ouvidos pela CENARIUM, sob condição de anonimato, negam a versão de que o adolescente estava embriagado e contestam a forma como o aluno da escola militarizada foi abordado.

“Três policiais foram para cima de um aluno. Eles estavam armados e tentaram segurá-lo de todas as formas. Como que o policial vai dar um ‘mata-leão’ em um adolescente desse jeito? Tudo isso poderia ter sido evitado, lá atrás, se a direção da escola tivesse deixado os alunos assistirem à aula, porque não foi por culpa deles que eles chegaram atrasados”, relata um dos moradores ouvidos pela reportagem.

A ação da Polícia Militar também gerou críticas por parte da Câmara Municipal de Pacaraima, que se manifestou por meio de nota nas redes sociais. A presidente do Legislativo, Dila Santos (Republicanos) é aliada do governador de Roraima, Antonio Denarium (Progressistas).

A unidade escolar alega em nota que foram imediatamente tomadas as devidas providências para lidar com o caso. “Após o incidente, a escola militarizada realizou uma análise minuciosa do ocorrido, buscando identificar possíveis falhas nos procedimentos de segurança e também verificando se havia algum fator desencadeante que contribuiu para a postura inadequada do aluno”, complementa.

O aluno foi levado à Delegacia Regional de Pacaraima e, após ser liberado, seguiu com a família ao Hospital Délio Tupinambá para passar por exame de corpo de delito e exame toxicológico que comprove que ele não estava sobre efeito de drogas. O secretário adjunto e coordenador dos colégios militarizados em Roraima, José de Sousa, foi para Pacaraima no objetivo de apurar o caso junto à escola.

CENARIUM questionou a PM-RR sobre a ação, mas a corporação reiterou as informações passadas pelo boletim de ocorrência, sem se manifestar sobre a conduta dos policiais durante a abordagem. “É importante destacar que o ambiente escolar militarizado é regido por normas e regras, visando à disciplina e o respeito”, complementa em nota.

A Secretaria de Educação e Desporto (Seed) informou, por meio de nota, que também está apurando, afirmando que estão “na busca de possíveis falhas nos procedimentos de atendimento aos alunos do Colégio Militarizado Cícero Vieira Neto, tendo em vista a recente data do acontecimento”, pontua.