Alunos quilombolas protestam contra ataque racista na Universidade Federal do Pará

Alunas protestam em frente à universidade após denúncia de um ato racista cometido por um professor (Mayara Abreu/Reprodução)

06 de maio de 2023

14:05

Michel Jorge – Da Revista Cenarium

BELÉM (PA) – Alunos quilombolas se reuniram na Universidade Federal do Pará (UFPA) para protestar, na quinta-feira, 4, contra um ataque racista sofrido por uma discente da instituição. O ato denominado “Caminhada da Resistência“ começou às 15h e seguiu para a reitoria da universidade. Os estudantes pedem respeito e punições para o acusado.

A coordenadora da Associação de Discentes Quilombolas (ADQ) da UFPA, Carlene Printes, afirmou que o manifesto serve para mostrar que “ninguém soltará a mão de ninguém”. “Estaremos juntos enquanto associação, mas, principalmente, enquanto irmãos quilombolas que somos. Vamos mostrar que seguiremos como resistência contra todo o sistema que tente negar nossa existência e permanência nesse espaço”, disse.

O caso

Heloiá Carneiro, familiar da aluna que sofreu racismo – não identificada por motivos de segurança – , diz que a violência ocorreu dentro de sala de aula, com um professor convidado de uma disciplina do curso de Geologia, identificado, inicialmente, como Paulo Goiarebe. O docente em questão teria direcionado ataques verbais a uma aluna quilombola, na tentativa de a inferiorizar em relação ao ambiente acadêmico.

“Ele começou a falar as coisas ofensivas. Você já tá nesse semestre e não sabe nada, você não sabe fazer isso, entre outras coisas. Ela me enviou uma foto do encaminhamento dela, falando sobre as crises constantes de choro que ela tem, sobre toda a situação psicológica que ela tá passando no decorrer dessa situação”, disse Carneiro.

Punição

Segundo os manifestantes, a Assessoria de Diversidade e Inclusão Social (Adis), da UFPA, tem mantido apoio à vítima do ataque, mas que a instituição não teria deferido um pedido da ADQ para abrir um processo administrativo contra o professor.

“Nossa cobrança é que os inúmeros casos de opressões como: discriminação, preconceito e, principalmente, racismo sejam “desengavetados” e seja punido os opressores racistas”, declarou a coordenadora Printes.

Por essa razão, a comunidade acadêmica se uniu em prol da cobrança por respostas da instituição. Outras associações, como as de alunos indígenas, estrangeiros e de pessoas com deficiência, também se uniram à causa. Além destas associações, movimentos estudantis somaram forças e também demonstraram apoio ao ato.

“A UFPA também é território quilombola e seguiremos pintando essa universidade com a nossa cara, e esse é o recado que queremos deixar para toda a comunidade acadêmica da UFPA… que seguiremos cobrando para que medidas cabíveis sejam tomadas contra qualquer caso de racismo. Somos e seguiremos sendo resistência”, afirma a coordenadora da Associação de Discentes Quilombolas.

Relatos

Algumas mensagens têm circulado em grupos de WhatsApp, com relatos da estudante, onde a mesma descreve as agressões sofridas, o abalo psicológico e como teria oferecido riscos a si mesma em decorrência de todo o sofrimento causado pela situação.

“Ela é quilombola, ela veio da comunidade. Quando ela passou na comunidade, ela estava grávida e eu, assim… espero que ela não desista, porque as vagas já são limitadas para a gente que é cotista”, lembra Heloiá sobre as dificuldades da aluna se manter na universidade, apesar dos obstáculos.

Posicionamentos

De acordo com a ADQ, a Superintendência de Assistência Estudantil (Saest) da UFPA tem oferecido apoio à aluna após os acontecimentos. “A UFPA, por meio da Adis e da Saest, tem prestado todo apoio necessário, tanto no encaminhamento e acompanhamento psicológico, no atendimento social, por meio de assistente social, e atendimento com medicamentos”, afirma Carlene.

A CENARIUM fez contato com o setor de Geologia da UFPA que, por meio do secretário Reinaldo Freitas, nos atendeu e afirmou desconhecer o assunto. Já a direção da universidade, assim como o instituto de Geociências, não atenderam aos nossos telefonemas e não se manifestaram.

Também contactamos a assessoria da UFPA em busca de um posicionamento sobre o ocorrido, mas até o momento da publicação desta matéria não obtivemos resposta.

Também tentamos contato com a aluna que sofreu os ataques que, apesar de disponível, ainda estava psicologicamente abalada pela situação e preferiu não se manifestar.