Amazônia no centro de debate presidencial: agronegócio e preservação foram abordados por candidatos

Da esquerda para direita, Jair Bolsonaro, Simone Tebet e Luiz Inácio Lula da Silva (Arte: Mateus Moura)

30 de setembro de 2022

13:09

Ívina Garcia – Da Agência Amazônia

MANAUS – O último debate entre candidatos à Presidência da República aconteceu na noite dessa quinta-feira, 29, foi transmitido pela TV Globo e contou com a presença dos sete principais presidenciáveis. Os temas Amazônia e o Meio Ambiente ganharam espaço, se comparado ao primeiro, ocorrido em agosto.

Líderes nas pesquisas e principais alvos no debate, o atual presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tiveram poucos embates diretos, apesar de protagonizar a discussão sobre a Amazônia.

Perguntado por Simone Tebet (MDB) sobre a preservação do Pantanal e da Amazônia, Bolsonaro repetiu a negativa sobre o desmatamento que vem construindo desde o primeiro debate. Dessa vez, a diferença é que o candidato deixou de lado o comparativo que vinha fazendo com o Governo Lula, que trazia dados errados sobre o desmatamento no bioma.

Candidato Bolsonaro, o seu governo foi o governo que mais deixou os nossos biomas, florestas, o meu Pantanal e a Amazônia queimarem e serem devastadas. […] O senhor, nesse aspecto, foi o pior presidente da história do Brasil. O que o senhor faria de diferente nos próximos quatro anos?“, questionou Simone.

Bolsonaro voltou a afirmar que as queimadas que ocorrem na Amazônia e no Pantanal são reflexos naturais do calor da região. “No corrente ano, não tivemos notícias de incêndios, nem no seu Pantanal, nem na Floresta Amazônica, a não ser o que acontece quase corriqueiramente, então, não são verdade esses dados“, afirmou o presidente.

Em sabatina realizada pela Record TV, o presidente já havia atribuído aos ribeirinhos, caboclos e indígenas a culpa da destruição da floresta. “Muitas vezes o incêndio é na área em que é permitida o fogo todo ano, e quem pratica isso aí, em parte, é o ribeirinho, é o caboclo, é o indígena, então há um excesso no tocante a isso. Eu convido o pessoal, faz uma viagem para a Amazônia e vê se na floresta vai ver algum foco de incêndio mesmo durante o verão. Existe muito é na periferia”, disse em entrevista de segunda-feira, 26.

De acordo com um levantamento feito pela Brasil de Fato, em 2020, os maiores destruidores do meio ambiente – principalmente da Amazônia – não são os ribeirinhos ou indígenas, mas algumas das pessoas mais ricas e poderosas do Brasil.

Os 25 maiores desmatadores, que somaram mais de R$ 50 milhões em multas, entre 1995 e 2019. No total, suas centenas de autuações chegam a R$ 3,58 bilhões, praticamente o orçamento do Ministério do Meio Ambiente inteiro para 2020. Corrigido, o valor chegaria a R$ 6,3 bilhões. Sozinhos, os campeões da destruição são responsáveis por quase 10% do total de multas aplicadas por devastação de flora desde 1995 – R$ 34,8 bilhões”, apurou a reportagem.

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Na resposta à candidata Tebet, o presidente ainda declarou que cuidar da floresta é muito difícil, por conta da extensão territorial do bioma. “A senhora deve ter um pouquinho de noção de tamanho do que é a nossa Floresta Amazônica, ela equivale a uma Europa Ocidental? Como tomar conta disso tudo?“.

Grande parte da Amazônia está concentrada no Amazonas, que além das queimadas e desmatamentos, sofre com a invasão de terras indígenas, garimpo, pesca ilegal e o narcotráfico vindo da fronteira. Mesmo com todos os problemas, o Estado conta com apenas duas delegacias da Polícia Federal, uma em Manaus e outra em Atalaia do Norte, próximo à fronteira com a Colômbia e Peru.

AGÊNCIA AMAZÔNIA entrevistou, à época, o superintendente da PF no Amazonas, Eduardo Fontes, que revelou a intensão de abrir nova base no interior do Estado, mas que “Precisaríamos de, pelo menos, 40 homens para isso“.

Agronegócio

A candidata Simone chamou Bolsonaro de mentiroso e alertou para a falta de chuva em Mato Grosso do Sul e no Rio Grande do Sul, que impacta diretamente no agronegócio. “É impressionante, mente tanto que acredita na própria mentira. O mundo virou as costas para o Brasil porque o presidente apoia projetos que são verdadeiros retrocessos. Quer destruir a Amazônia. A Amazônia e o meio ambiente são vidas, e significa comida mais barata na mesa do brasileiro. Eu sou do agronegócio. A falta de chuva em Mato Grosso do Sul e no Rio Grande do Sul está fazendo com que a gente produza menos, e a comida chega mais cara na sua mesa“, disse.

Então, a falta de chuva é responsabilidade minha? Parabéns“, rebateu o presidente. Desde agosto, cidades por toda a Amazônia Legal têm sofrido com intensas fumaças, que impactam diretamente na criação de nuvens de chuva.

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O ex-presidente Lula questionou Tebet sobre os projetos da candidata para a questão climática. “Nós vamos devolver, lá para a Amazônia, para os biomas brasileiros, os órgãos de fiscalização e controle para que protejam as nossas matas, para que protejam os nossos rios. Nós vamos fazer mais. Nós vamos mostrar que não é meio ambiente ou agronegócio, é meio ambiente e agronegócio. É natureza e desenvolvimento. Eu sou do agro. O agro põe comida barata na mesa do brasileiro“, respondeu a candidata.

Lula firmou compromisso com a Amazônia ao afirmar que proibiria terminantemente o garimpo legal e a invasão a terras indígenas. “Não é necessário nenhum cidadão do agronegócio invadir a Amazônia ou o Pantanal. Quando eu era presidente, as pessoas queriam plantar cana no Pantanal; eu não deixe”, afirmou.

Amazônia no debate

Essa relevância entre Amazônia e Meio Ambiente tem sido usada como fonte de ataques, principalmente, à omissão por parte do atual governo, na contenção da violência e crise ambiental que assolam a região composta por nove Estados do Brasil.

Uma pesquisa inédita, obtida pela AGÊNCIA AMAZÔNIA, intitulada “Eleições 2022 na Amazônia”, coordenada pela Fundação Amazônia Sustentável (FAS), em parceria com o Instituto Clima e Sociedade (ICS), mostrou que, entre outros pontos, os habitantes da Amazônia consideram que a saúde,
impactada pelas queimadas e contaminação de rios, peixes e solo por mercúrio, é um tema que deve ser priorizado. A necessidade de aliar a preservação ambiental com o desenvolvimento econômico também é importante para os eleitores, assim como a expansão do ensino sobre a região nas escolas.

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(Reprodução)