Amazonino Mendes deixa legado histórico na política da Amazônia

O ex-governador do Amazonas Amazonino Mendes (Reprodução/Internet)

12 de fevereiro de 2023

13:02

Marcela Leiros – Da Agência Amazônia

MANAUS – O ex-governador do Amazonas Amazonino Mendes, 83 anos, morreu na manhã deste domingo, 12, após ficar pouco mais de um mês internado no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. O político combatia um quadro de pneumonia. Mendes foi um notório e influente político no Estado, onde cumpriu quatro mandatos como chefe do Executivo estadual, três vezes prefeito de Manaus e eleito senador uma vez. Amazonino deixa um legado histórico na política amazonense.

A confirmação da morte de Amazonino foi feita por meio de nota publicada pela família. O breve texto destaca que Mendes teve “uma vida vitoriosa, dedicada com muito amor à família e ao povo do Amazonas e um legado incomparável como homem e político. Lutou, bravamente, como poucos, mas agora descansa em paz“.

Complicações na saúde

Em novembro de 2022, Amazonino foi internado por conta de uma crise de diverticulite acompanhada de problemas relacionados à pneumonia. Na ocasião, foi levado à Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e, após melhora, foi transferido para um quarto e teve alta dia 6 de dezembro.

No mesmo mês, Mendes apresentou, novamente, problemas respiratórios e, no dia 25 de dezembro, voltou a ser internado em São Paulo, no Hospital Sírio Libanês, onde o quadro de pneumonia agravou recentemente. O ex-governador também lutava contra a diabetes.

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Amazonino Mendes após votar nas eleições de 2022 (Divulgação)

Nas eleições do ano passado, Amazonino ficou com uma diferença de apenas 41.130 votos para o senador Eduardo Braga (MDB), que foi para a disputa no segundo turno com o atual governador Wilson Lima (União Brasil). A boa performance na campanha ocorreu sem Amazonino, praticamente, sair de casa por conta de seu estado de saúde.

O ex-governador em frente ao Teatro Amazonas, em Manaus (Ricardo Oliveira/CENARIUM)

Trajetória

O amazonense nascido em Eirunepé (a 1.159 quilômetros de Manaus) é considerado figura icônica na região, há quatro décadas, e foi responsável pela ascensão política de nomes como o do próprio Eduardo Braga, que, em 1994, tornou-se prefeito da capital amazonense com ajuda de Amazonino.

Comício de Gilberto Mestrinho e Amazonino Mendes. Da esquerda para direita: Manoel Ribeiro, Gilberto Mestrinho, Amazonino Mendes, Vivaldo Frota e Eduardo Braga (Luís Costa/Reprodução)

A vida política de Amazonino começa a tomar forma em abril de 1983, quando foi nomeado prefeito de Manaus pelo então governador Gilberto Mestrinho (PMDB). Mendes ficou no cargo até 1986. Em 1987, assumiu o Governo do Estado.

Logo após o primeiro mandato como governador do Amazonas, Mendes se elegeu como senador da República, onde permaneceu de 1991 a 1992, e atuou como titular das comissões de Constituição, Justiça, Cidadania e Educação e na Comissão de Assuntos Sociais, como suplente.

Amazonino Mendes e Gilberto Mestrinho. Ao fundo, Omar Aziz, que hoje é senador pelo Estado (Reprodução/Internet)

Mendes deixou o Senado para concorrer às eleições de 1992 como candidato a prefeito pelo Partido Democrata Cristão (PDC), vencendo o pleito e assumindo o cargo ocupado pelo então prefeito Arthur Virgílio Neto. Em 1994, deixou a gestão de Manaus com o vice-prefeito Eduardo Braga e concorreu ao cargo de governador, sendo eleito já no primeiro turno e reeleito em 1998.

Amazonino Mendes e Arthur Virgílio Neto (Karla Vieira/Assessoria AVN)

FHC

Amazonino foi aliado de primeira hora do então candidato a presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC) – PSDB. FHC acabava de encerrar o ciclo como ministro da economia do governo Itamar Franco. O sucesso do “Plano Real” guindou Fernando Henrique à condição de favorito na corrida presidencial. Seu adversário era, então, Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, que tentava a primeira eleição presidencial em 1989, mas, foi derrotado por Fernando Collor de Mello.

Mendes percebeu o momento político favorável a FHC e se posicionou, politicamente, ao lado do tucano. No Amazonas, armou palanque e articulou com prefeitos, deputados e vereadores para que o candidato social democrata tivesse êxito eleitoral no maior Estado da federação. Sua influência política foi decisiva para garantir a FHC uma eleição tranquila no Norte do País. Com a eleição de FHC garantida, Amazonino Mendes ganhou interlocução em Brasília e assegurou seu poderio político no Amazonas.

Nos idos anos de 1990, Amazonino, Fernando Henrique Cardoso e Gilberto Mestrinho, em comício para a Presidência da República (Ricardo Oliveira/CENARIUM)

Entre os anos de 2009 a 2012, foi novamente prefeito de Manaus. Voltou ao cargo de governador do Amazonas, em 2017, em um mandato tampão, após o então governador José Melo (PROS) ser cassado por compra de votos. Amazonino Mendes se tornou o primeiro político do Estado a exercer, quatro vezes, o mandato de chefe do Executivo estadual.

Amazonino ao ganhar as eleições para prefeito de Manaus (Reprodução/Internet)

Família

Filho de Armando de Sousa Mendes e de Francisca Gomes Mendes, Amazonino Armando Mendes nasceu na cidade de Eirunepé, interior do Amazonas, em 16 de novembro de 1939. É formado pela Faculdade de Direito da Universidade do Amazonas, atual Universidade Federal do Amazonas (Ufam).

Pai de três filhos, tinha no currículo a militância no movimento estudantil, a passagem por cargos nas diretorias da União dos Estudantes do Amazonas (UEA), na União dos Estudantes Secundaristas do Amazonas (Uesa) e na União Nacional dos Estudantes (UNE).

Também foi empresário na construção civil e chefe no Serviço de Transportes Rodoviários do DER. Pouco antes de ingressar na vida política, trabalhou nos Tribunais Superiores de Brasília em defesa de mandatos de parlamentares amazonenses impugnados pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE) local.

Registro feito em 1996 em evento na Ponta Negra, em Manaus (Ricardo Oliveira/CENARIUM)