Ao lado de ex-governador preso por desvio na Saúde, Amazonino faz campanha de jatinho pelo interior do AM

José Melo e Amazonino (Divulgação)

28 de julho de 2022

15:07

Ana Pastana – Da Agência Amazônia*

MANAUS – Acusado de chefiar uma quadrilha que desviou dinheiro da Secretaria de Saúde do Amazonas (SES-AM) quando foi governador do Amazonas (abril de 2014 a março de 2017), José Melo (Pros) virou “cabo eleitoral” do pré-candidato ao governo do Estado Amazonino Mendes (Cidadania) nas viagens ao interior do Estado.

Os dois ex-governadores viajaram juntos nesta quinta-feira, 28. Melo viajou de jatinho com Amazonino para o município de Manicoré (a 332 quilômetros de Manaus) com um grupo de políticos, dentre eles, o filho de Amazonino, Armando Mendes, e o ex-deputado Humberto Michiles, ambos cogitados a serem vice na chapa do grupo.

Amazonino, 82 anos, que vem apresentando problemas de saúde nunca revelados, tem sido levado por aliados políticos e familiares ao interior do Amazonas para divulgar a sua pré-candidatura. Após a penúltima viagem a Itacoatiara (a 276 quilômetros de Manaus), em 5 de julho, o ex-governador foi diagnosticado com Covid-19 e foi afastado da campanha, retornando nesta quinta-feira, 28.

Na viagem desta quinta-feira, 28, chamou a atenção a presença de José Melo por conta do histórico de processos por corrupção. O ex-governador chegou a ser preso e andar com tornozeleira eletrônica junto com a esposa, Edilene Gomes. Os dois deixaram de usar o equipamento no ano passado, 5 de junho de 2021, após uma decisão judicial.

A REVISTA CENARIUM teve acesso à lista de passageiros que viajaram no jatinho (Reprodução)

Chefe da Orcrim 

O Ministério Público Federal (MPF) denunciou José Melo, em 2018, e cinco ex-secretários por integrarem organização criminosa apontada como responsável por promover desvios milionários de verbas federais destinadas à saúde, investigados pela Polícia Federal (PF) nos desdobramentos da operação “Maus Caminhos”.

Fonte: MPF

Segundo a PF, os valores ultrapassaram mais de R$ 200 milhões. Edilene Gonçalves Gomes e duas funcionárias da Secretaria de Saúde também são rés na ação penal. A ação penal detalha as condutas criminosas de cada um dos denunciados que compõem o núcleo político da organização criminosa.

Pelo inquérito, o então governador do Amazonas, José Melo, liderava o grupo formado pelo secretariado que compactuava com os crimes de corrupção cometidos pelos réus da Operação “Maus Caminhos”.

A denúncia do MPF apontou que Melo avalizou e permitiu a continuidade do esquema, que começou a operar desvios antes de sua gestão como governador. A denúncia assinala ainda que Melo nomeou pessoas de confiança, “as quais, cada uma na sua área, assentiriam e colaborariam diretamente com a livre atuação da organização criminosa, sempre mediante o pagamento de propina”.

Na ação, o MPF pediu a condenação dos denunciados pelo crime previsto na Lei nº 12.850, de 2 de agosto de 2013, que prevê pena de três a oito anos de prisão a quem “promover, constituir, financiar ou integrar” organização criminosa.  

A denúncia é resultado das operações “Custo Político” e “Estado de Emergência”, deflagradas pela Polícia Federal, em conjunto com o MPF e a Controladoria-Geral da União (CGU), que tem o objetivo de investigar o envolvimento de políticos do Amazonas no esquema de corrupção desvendado pela Operação “Maus Caminhos”.

Modus operandi

O documento, de 162 páginas, assinado pelo procurador da República Alexandre Jabur, explica de que maneira funcionava o núcleo político do grupo criminoso, formado pelo ex-governador e os ex-secretários.

Alexandre Jabur (Agência Brasil)

Pela apuração do MPF, durante o Governo Melo, os gestores públicos denunciados eram diretamente beneficiados por um esquema de distribuição de propina e outras vantagens, criado para manter e colaborar com os desvios de verba pública coordenados pelo médico Mouhamad Moustafa, principal réu da operação Maus Caminhos e apontado como líder da organização criminosa.

(*) Com informações do Ministério Público Federal (MPF)