Após assassinato de líder do Movimento Sem Terra, entidades pedem celeridade nas investigações

Cacheado, integrante do MST do Tocantins, é mais uma vítima dos conflitos pela terra no interior do Brasil (Reprodução/MST)

13 de dezembro de 2022

20:12

Mencius Melo – Da AGÊNCIA AMAZÔNIA

MANAUS – O líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), no Tocantins, Raimundo Nonato Silva Oliveira, foi assassinado a tiros na madrugada desta terça-feira, 13. O crime aconteceu no bairro Vila Cidinha, em Araguatins, interior do Estado do Tocantins. Entidades ligadas e identificadas com as lutas camponesas lamentaram a morte de “Cacheado”, como era conhecido. Em nota, MST e Cimi se posicionaram cobrando justiça.

De acordo com estudos preliminares da Comissão Pastoral da Terra (CPT), publicado, recentemente, no Instituto apublica.org, 40% dos casos de violência letal contra trabalhadores camponeses, em 2022, foram praticados por pistoleiros. Os chamados crimes encomendados ou gerados, do conflito fundiário, tiraram mais vidas nos primeiros seis meses de 2022, do que em todo ano de 2020, segundo os dados da CPT. Em 2020, foram 20 assassinatos em todo ano. Já no primeiro semestre de 2022, foram 25, apontou o estudo.

Cartaz do Movimento Sem Terra (MST) em homenagem ao militante Cacheado, assassinado na região do Bico do Papagaio, em Tocantins (Reprodução/MST)

Em nota em suas redes sociais, o MST lamentou e classificou o episódio como “assassinato”: “Cacheado foi um militante valoroso, contribuindo em toda sua vida para a organização das famílias Sem Terra. Sua luta será lembrada e sua história alimentará a luta do MST por Reforma Agrária! O MST exige justiça para Cacheado, que seus assassinos e mandantes sejam identificados, detidos e julgados, para evitar mais assassinatos no campo! Lutar não é crime! Basta de violência no campo!”, exigiu o texto.

Encapuzados

Sobrevivente, a companheira de Cacheado relatou à Polícia Militar, de acordo com apuração, que três homens encapuzados arrombaram a porta da frente da casa de Cacheado e foram, diretamente, ao quarto do casal, onde efetuaram vários disparos. O militante do MST não teve chance de defesa e morreu na hora. “Aos nossos mortos, nenhum minuto de silêncio, mas uma vida inteira de lutas!”, exortou o MST.

O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) se manifestou. Ligado às causas indigenistas por proteção e demarcações de terras, o Cimi está nas lutas dos povos originários e, por consequência, também nas causas do campesinato. “O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) Regional Goiás/Tocantins manifesta sua solidariedade à família e ao Movimento dos Trabalhadores Sem Terra de Tocantins (MST-TO), e cobra justiça pelo assassinato do líder camponês Raimundo Nonato de Oliveira”, declarou em nota.

O Cimi responsabilizou o Governo Bolsonaro pelo recrudescimento da violência no campo, com mais uma vítima. “Os conflitos fundiários e as ameaças vêm crescendo, principalmente, nesses últimos anos, e muitas das vezes, incentivados e apoiados pelo atual governo. As famílias que lutam pela terra só querem um lugar digno para morar e viver com suas famílias. É um direito, não é um crime!”, disparou o texto. 

Conflitos agrários e casos de trabalho escravo tiveram aumento no Brasil, nos últimos 10 anos, segundo estudo da CPT (Reprodução/FianBrasil)

Violência

O levantamento da CPT aponta, ainda, que a violência no campo avançou, nos últimos 10 anos, no Brasil. Os dados apontam que mais de cinco milhões de pessoas estiveram expostas a algum tipo de violência campesina entre 2020 e 2022. Desses, 75% foram vitimados por assassinatos. Outra face do estudo também aponta um salto alarmante de 113% na prática do trabalho escravo. Os dados da Comissão Pastoral da Terra (CPT) são relativos ao ano de 2021.