Após deixar partido, Arthur Neto diz que PSDB virou terreno de intrigas e incompetência

Arthur Virgílio Neto anunciou sua saída do PSDB em nota divulgada em suas redes sociais (Alex Pazuello/Arquivo Assessoria)

22 de novembro de 2022

13:11

Alita Falcão – Da Agência Amazônia

MANAUS – Ex-ministro, ex-senador e ex-prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto foi, sem dúvida, um dos grandes nomes do PSDB. Com 45 anos de vida pública, 35 deles dedicados ao partido da social-democracia, ele é mais um tucano que deixa o ninho decepcionado.

O partido notável que fez o Plano Real e domou a inflação virou um terreno de intrigas, incompetência e incoerência”, disse Virgílio, sem esconder sua insatisfação com os dirigentes partidários. Aliás, desde as prévias presidenciais, Arthur já demonstrava incompatibilidade com as escolhas do PSDB.

Três postulantes e o resultado sorriu ao então governador paulista João Doria. A solução dos ‘dirigentes’: promover intrigas até Doria desistir. E o substituíram pela senadora Simone Tebet, em quem votei, mas que não decolou. O PSDB se desgastou, apoiando alguém de outro partido”, avaliou Arthur, que anunciou sua saída do partido em nota divulgada em suas redes sociais.

Depois de 35 anos, Arthur Virgílio Neto deixa o PSDB por discordar das escolhas recentes dos dirigentes partidários (Karla Vieira/Arquivo Assessoria)

Em entrevista exclusiva à AGÊNCIA AMAZÔNIA, Arthur Virgílio Neto revelou que já está em conversa com alguns partidos grandes, como ele mesmo definiu, mas que essa não é sua prioridade.

Tenho boas relações e convites de alguns partidos que bem podem avançar na direção das teses que o PSDB abraçava nos seus tempos brilhantes e realizadores. Não está aí, contudo, o cerne de minhas preocupações”, pontuou Arthur Neto.

Por ora, o ex-tucano disse que tem intensificado os treinos na academia e reciclado suas ideias. “Quero dar aulas, palestrar onde acharem que tenho como contribuir. Por exemplo, com a questão ambiental, a perigosa crise climática e o ambiente geopolítico que nos rodeia. Aproveito para registrar que a Revista Cenarium é uma das fontes que respeito e acompanho quando se discute ecologia”.

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Sem paixão

Questionado pela reportagem se já pensava em deixar o PSDB, Arthur foi sincero em dizer que sim e que “era crescente meu desconforto com a mediocrização do partido, porém não combina com meu caráter, nem com o amor que me aproximava de um partido que ajudei a crescer”, disse.

Não faço nada bem se não sentir paixão. E como me manter apaixonado por um partido que parou de criar e de brilhar para se nivelar por baixo com os partidos sem luz, fisiológicos, adesistas, que dominam a cena brasileira?”, continuou Arthur Neto.

Ele lembrou que o PSDB nasceu para lutar pela substituição do presidencialismo selvagem pelo parlamentarismo que, segundo ele, maximiza a democracia e as possibilidades de desenvolvimento. “Vocês se lembram de algum tucano que nos últimos dez anos tenha proferido, pelo menos uma única vez, a palavra parlamentarismo?”, questionou.

Arthur contou que, ao nascer, o PSDB representava a elite do Congresso Nacional, com nomes notáveis em seus quadros. “No Senado, lembro logo de Franco Montoro, Fernando Henrique Cardoso, Mário Covas. Esse conjunto realizava a opinião, tanto da Câmara quanto do Senado”, falou em tom de nostalgia, enaltecendo as propostas essenciais para a economia, principalmente quando FHC foi presidente da República.

‘A luta continua’

“Serei sempre da vida pública. Não desisto de continuar acreditando em um Amazonas que cresça sustentavelmente a partir da floresta e dos rios”, diz Arthur Neto (Alex Pazuello/Arquivo Assessoria)

Segundo Virgílio, ainda não chegou a hora de deixar a vida pública. “Serei sempre da vida pública, porque estaria desertando de mim mesmo se não enfrentasse essa mistura de corrupção endêmica com despreparo, má-fé e falsidade que tanto mal faz ao Amazonas e ao Brasil”, afirmou.

Acostumado com a luta – e aqui faço também referência a sua vida dedicada ao jiu-jítsu, no qual é faixa vermelha 9 graus – Arthur Neto enfrentou a ditadura, vendo sua casa ser invadida por militares e seu pai, senador Arthur Virgílio Filho, cassado e exilado durante o regime militar no Brasil.

Para Arthur Neto, o caminho para recuperação econômica do Brasil deve passar por um duro ajuste fiscal e “por reformas que evitariam que o dinheiro dos brasileiros continue sendo jogado pelas janelas”, disse.

Virgílio, que por oito anos liderou a oposição ao presidente Lula no Senado Federal, considera um “delírio” o governo eleito falar em termos 43 ministérios.

A hora é de austeridade e reordenamento fiscal. Espanta-me o presidente eleito dizer: ‘A Bolsa vai cair, o dólar vai subir…Paciência!’. Os mercados reagem duramente a tolices como essas”, criticou o ex-senador.

Ele pondera que a fase de transição presidencial tem sido dura para o País e que o Brasil precisa de paz e maturidade, fazendo referência não só as questões econômicas, mas aos constantes ataques à democracia.

Momentos graves serão vividos por todos nós. Com tudo isso, não desisto de continuar acreditando em um Amazonas rico, que explore sensata e sustentavelmente as riquezas da floresta e dos seus magníficos rios”, finaliza Virgílio.