ATL 2023: artistas destacam importância da preservação da arte indígena

(Divulgação)

28 de abril de 2023

13:04

Bianca Diniz – Da Revista Cenarium

Boa Vista (RR) – A Praça do Centro Cívico, em frente ao Palácio da Cultura Nenê Macaggi, recebeu na tarde de quinta-feira, 27, a plenária “Movimento Cultural Indígena de Roraima: Arte, Luta e Resistência”. O evento reuniu artistas, como parte da programação do Acampamento Terra Livre em Roraima (ATL-RR). A plenária foi conduzida pelo cientista político, Paulo Aruak, e seguiu o formato de apresentação de discurso livre, no qual cada participante teve o direito de se expressar por cinco minutos.

O produtor de cocar Marciano Wai-Wai comentou sobre as tradições do artesanato, principalmente com o uso de sementes. Marciano afirma que os povos indígenas possuem uma cultura, mas que “cada etnia possui culturas diferentes.” “O que fazemos vêm de tradições. Nós, indígenas, nos identificamos com nossos antepassados. Então, vamos valorizar o nosso trabalho e o trabalho de vários artistas”, explicou.

Marciano afirma que os povos indígenas possuem uma cultura, mas que “cada etnia possui culturas diferentes. (Divulgação)

Durante sua participação, Wai-Wai fez um alerta sobre o uso do cocar, adorno utilizado na cabeça. “O cocar não deve ser usado somente em fotos ou porque alguém acha bonito. Deve ser utilizado em momentos especiais para ressaltar a nossa luta indígena”, destacou o artista.

O artista Dones Makuxi ressaltou a importância da preservação da arte indígena. “A minha é arte é nossa. Tudo o que se faz referente à cultura indígena existe um propósito. Desde um colar, pulseira ou cestaria, nada é feito sem propósito no artesanato indígena”, comentou Dones.

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Sagrado

Durante o evento, o jovem artista Aleixo Wapichana compartilhou suas experiências no trabalho artístico de grafismo com os participantes, tanto indígenas quanto não indígenas. Em sua apresentação, Aleixo enfatizou a importância do uso do jenipapo, fruta utilizada para produzir a tinta utilizada no grafismo, e ressaltou a sacralidade tanto do grafismo quanto da fruta. “O grafismo é sagrado para a nossa juventude, e o jenipapo é uma fruta sagrada. Portanto, é necessário estar preparado e com um coração alegre para preparar a tinta e criar o grafismo”, explicou.

O artista também compartilhou sua trajetória, falando sobre a influência de seus ancestrais em seu trabalho e a importância de preservação cultural da arte indígena.

Artista com pintura no rosto simbolizando luta, liderança e resistência (Bianca Diniz/ Revista Cenarium)

Preconceito

O presidente da Associação Cultural Indígena do Estado, Dunui San Nau, Márcio Alexandre, abordou o preconceito contra os indígenas que moram em contexto urbano. “Mesmo morando na cidade, lutamos por nossos direitos indígenas na cidade, valorizamos nossa cultura, não deixamos de ser indígenas só porque moramos na cidade. Sofremos preconceito diariamente no contexto urbano. Então, temos que mostrar para nossas futuras gerações cada significado (da luta). Não fazemos arte por fazer, tudo possui significado. Isso é importante, manter e viver nossa cultura”, comentou Alexandre.

Inclusão social

A comunicadora Eliane Wapichana, que vive na região da Serra da Lua em Roraima, defende que a cultura indígena está intrinsecamente ligada à identidade. Para ela, a inclusão digital dos trabalhos dos artesãos do estado é uma forma eficiente de mostrar ao mundo a riqueza cultural dos povos indígenas de Roraima.

Wapichana destaca que a inclusão é fundamental para proporcionar oportunidades de trabalho e divulgação cultural para os artesãos indígenas. Alimentos, biojoias e cestaria são alguns dos elementos que ganharam destaque nas redes sociais devido à divulgação dos trabalhos na internet. “A comunicação é de grande importância para falar de nossa realidade, da nossa cultura”, comentou.

A jovem comunicadora destaca que “muitos avós e irmãos não têm acesso à internet e, portanto, não conseguem divulgar seus trabalhos localmente.” Por isso, a internet é uma ferramenta aliada de conexão entre os artesãos com pessoas que não têm acesso a esses produtos nas comunidades. No encerramento da fala, Eliane anunciou que está em processo de criação de um “podcast Wapichana” para falar sobre a realidade e a cultura indígena.

Da internet à TV

A atriz e jornalista Ellie Makuxi, de 21 anos, participou da plenária e abordou a importância da representatividade indígena em todos os espaços. Ellie, que recentemente interpretou Luana no episódio “Pintadas” da série Falas da Terra, enfatizou a necessidade de ter vozes indígenas em destaque na mídia e em outras esferas da sociedade.

Jovem roraimense ganhou destaque em rede nacional (Bianca Diniz/Revista Cenarium)

A jornalista comentou que após experiências, se deparou com uma realidade de preconceito e diferenças. “É muito difícil ter a nossa representação fora do estado. Isso é tão incomum que nos assusta. Não é verdade?” questionou Ellie.

Ellie Makuxi ressalta que a autocobrança é uma consequência inevitável do histórico de cobranças impostas pela sociedade, especialmente nas grandes cidades, que determinam como se portar, falar e vestir. “É muito fácil contar histórias, dizer que é contra muitas coisas. Mas muitas vezes não estamos lá nas telas. Fui convivendo com essas pessoas, que muitas vezes a gente explica, elas até entendem, mas não entendem tanto, porque não sentem a nossa dor.” comentou.

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