ATL2022 realiza ato ‘Ouro de Sangue’ em frente ao Ministério das Minas e Energia em dia trágico para os Yanomami

Barras de ouro gigantes, lama e tinta vermelha tomaram a entrada do Ministério das Minas e Energia, na tarde dessa segunda-feira, 11, em Brasília (Yusseff Abrahim/Cenarium)

12 de abril de 2022

11:04

Yusseff Abrahim – Da Revista Cenarium

BRASÍLIA — Barras de ouro gigantes, lama e tinta vermelha tomaram a entrada do Ministério das Minas e Energia, na tarde dessa segunda-feira, 11, em Brasília, em um ato de protesto contra o garimpo em Terras Indígenas. O ato político “Ouro de Sangue” aconteceu ao mesmo tempo em que, em Roraima, os Yanomami choravam por dois mortos e cinco feridos vítimas de um ataque de garimpeiros.

“Aconteceu ao meio-dia de hoje enquanto a gente se preparava para protestar aqui contra os garimpeiros. Os relatos que recebemos é uma situação lamentável. Responsabilidade e culpa do governo que não retira os garimpeiros”, disse o presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Y’ekuana (Condisi-YY), Júnior Hekurari Yanomami, para a reportagem da CENARIUM.

O líder conta que recebeu relatos e vídeos postados em redes sociais do momento em que garimpeiros e indígenas cooptados da Comunidade Tirei investiam contra os Yanomami com tiros de armas de fogo sobre a comunidade desarmada.

“Nossa aldeia é uma comunidade da região do Xitei, na parte de baixo do rio onde os garimpeiros trabalham. Nossa comunidade é contra garimpo. Então a Comunidade Tirei está junto dos garimpeiros. Os garimpeiros têm armas de fogo e provocam para que os Yanomami entrem em conflito com essa comunidade. O resultado hoje foi que morreram dois Yanomami e feriram outros cinco”, denunciou.

Enquanto isso, em Brasília, cerca de 6 mil indígenas de todo o Brasil, que participam do Acampamento Terra Livre, marcharam até o Ministério das Minas e Energia, onde deixaram na porta do órgão uma mistura simbolizando a lama da destruição do garimpo, o sangue dos indígenas e uma enorme pilha de barras de ouro alegóricas. O ato encenou os problemas escalados pelo garimpo que afetam os Yanomami e todas as etnias do Brasil que sofrem com investidas da exploração dos seus territórios.

“Os garimpeiros estão destruindo toda a floresta, rios, nascentes, já destruíram duas comunidades. Eles entraram e derrubaram as comunidades Macabei e Romochi, agora está em risco de desabar a Unidade Básica de Saúde Indígena, porque está só a dez metros do lugar onde estão cavando para achar ouro”, explica o advogado Júnior Yanomami.

O líder indígena atribui a escalada do cenário de crise humanitária e tragédia ambiental à omissão do governo que apoia o avanço do garimpo.

“Nós, Yanomami, estamos sozinhos. Todas as autoridades, governo, já têm conhecimento e estão sendo omissas. Estão vendo a realidade, mas não querem resolver o problema porque o governo incentiva e apoia a atividade dos garimpeiros. Por isso, estamos aqui contra esse projeto (PL 191/2020) que o governo colocou no Congresso Nacional, porque aprovando esse projeto, todas as Terras Indígenas serão massacradas”, adverte.

Mudanças climáticas agravadas

O governo brasileiro atual representa um grande atentado à vida dos povos indígenas na visão do coordenador-geral do Conselho Indígena de Roraima (CIR), Edinho Batista de Souza. A organização representa 261 comunidades.

“O povo Yanomami está morrendo, o povo Munduruku está sofrendo ataques; os Pataxó estão sendo invadidos por garimpo. Nos quatro cantos do País os povos indígenas estão sendo atacados. O crime está acontecendo, o terror está sendo tocado pelo presidente”, denunciou.

Para o coordenador, a série de ilegalidades que incide sobre os indígenas e afronta a Constituição Brasileira causa danos imediatos aos povos originários, mas em um curto prazo agravará os problemas causados pelas mudanças climáticas na outras regiões do Brasil e do mundo.

“Isso não vai impactar só a vida da população indígena. O Brasil está morrendo, os países da América Latina estão morrendo, ou seja, o mundo está sendo afetado porque traz mudanças climáticas, traz aquecimento global e ninguém vai comer lama, ninguém vai comer veneno, ninguém vai comer dinheiro. Queremos respirar ar natural, beber água limpa, ter uma floresta em pé e solo sem contaminação”, protestou.

Maior destruição em 30 anos

Nesta quinta-feira, 11, também foi divulgado o relatório de um estudo realizado pela Hutukara Associação Yanomami/CIR. O documento intitulado “Yanomami sob ataque: garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami e propostas para combatê-lo”.

Com o objetivo de descrever a evolução do garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami (TIY), em 2021. O estudo conclui que a região vive o pior momento de invasão desde a sua demarcação há 30 anos.
O documento está disponível para download e pode ser acessado aqui.

Mobilização Yanomami em Boa Vista

No último sábado, 9, um protesto tingiu de vermelho as águas do Monumento ao Garimpeiro na capital roraimense. Foram usadas sementes de urucum esmagadas para simbolizar o sangue dos indígenas afetados pela exploração ilegal.

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A mobilização do ATL 2022 de Roraima está na terceira edição e reúne cerca de 400 indígenas na Praça do Centro Cívico, em Boa Vista.