10 de dezembro de 2023
18:12
Adrisa De Góes – Da Agência Amazônia
MANAUS (AM) – Grupos de religiões de matriz africana, dentre elas umbanda, candomblé, tambor de mina e catimbó, se reuniram no Complexo Turístico da Ponta Negra, na Zona Oeste de Manaus, para o Balaio da Oxum nessa sexta-feira, 8. A data celebra o dia da divindade conhecida como Senhora do Ouro, Rainha das Cachoeiras e Orixá do Amor.
Além da exaltação à Oxum, a cerimônia fez apelo à preservação de vidas indígenas, da população negra, da biodiversidade e da floresta amazônica. Os participantes pediram, ainda, pelo fim da intolerância religiosa, que atinge, em maior número, adeptos desse segmento religioso em todo o País, com registro médio de três ocorrências por dia, segundo dados do Disque 100 deste ano.
“A gente sabe que não é fácil ser do axé, ser do santo. A gente sofre um boicote sempre, mas o povo de axé de Manaus é força. Nós temos voz e o nosso povo sempre foi resistente. É uma luta de mais de 500 anos para a gente manter essa tradição, toda a nossa cultura”, afirmou a Mãe Flor de Nave, organizadora do evento, em discurso que antecedeu a festividade.
Além do branco, os participantes usaram vestes e objetos na cor amarela, que representa a orixá. Os tradicionais pontos (cânticos) e batuques deram tom à festividade religiosa e cultural, que seguiu em marcha e, depois, continuou na área da praia com as ofertas dos balaios à divindade e a realização do xirê (evocação dos orixás).
Saber e proteção
Saber e proteção são alguns dos significados de Oxum para aqueles que a têm como mãe protetora. É o caso da enfermeira Renata Santos, 32, candomblecista nascida em Lauro de Freitas, na Bahia, e que vive em Manaus há 18 meses.
“Eu vejo a Oxum como uma mãe protetora, que me guia e me dá aconchega quando não estou em sintonia com o meu sagrado. Ela cuidou de mim durante minha gravidez e, hoje, me ajuda a cuidar de outras mulheres nesse momento tão especial na vida de uma mulher”, afirmou a profissional da saúde.
Ainda de acordo com a baiana, foi a primeira vez em que ela presenciou uma celebração à orixá em Manaus.
Quem é Oxum
Oxum é uma orixá. A rainha das águas doces, dona dos rios e cachoeiras, figura cultuada no candomblé e na umbanda, religiões de matriz africana. Ela é a segunda esposa de Xangô e representa a sabedoria e o poder feminino, além de carregar o nome de deusa do ouro e do jogo de búzios.
O arquétipo da orixá é de uma mulher graciosa e elegante, que gosta de pôr joias, perfumes e roupas luxuosas. A figura de Oxum carrega um espelho na mão. Algumas pessoas confundem Oxum e Oxumarê, mas segundo a Umbanda e o Candomblé são divindades distintas.
Oxum é representada pelo amarelo e tem como símbolo o abebé (leque com espelho). Orixá de água doce, ela domina amor, riqueza, facundidade, gestação e maternidade. Para saudá-la, os filhos dizem “Òóré Yéyé ó!”,
Culto aos orixás
As religiões de matrizes africanas, como a umbanda e também o candomblé, trazem representações ancestrais antigas. São relações sagradas que se manifestam a partir das forças e elementos da natureza e valores humanos, como a justiça e o amor, por exemplo. Cada divindade possui um sentido, uma simbologia e características próprias.
No Brasil, os orixás estão associados a um santo da Igreja Católica, prática que ficou conhecida como sincretismo religioso. No catolicismo, Oxum está sincretizada como Nossa Senhora da Conceição, santidade padroeira de Manaus e do Amazonas.
De acordo com o site Politize, o termo também é conhecido em um sentido pejorativo, criticado como uma forma de diluir ou enfraquecer as tradições originais, ou de perpetuar relações de poder desiguais entre diferentes grupos culturais ou religiosos.