Bloqueios em rodovias fazem cidade de Rondônia cancelar decoração natalina pela segunda vez consecutiva 

Em nota, a prefeitura diz que o valor “segue em caixa” e que será utilizado na decoração natalina de 2023 (Prefeitura de Vilhena/Reprodução)

03 de dezembro de 2022

10:12

Iury Lima – Da Agência Amazônia

VILHENA (RO) – A contragosto da população, o município de Vilhena, localizado no interior de Rondônia, a 706 quilômetros de Porto Velho, não terá decoração de Natal pelo segundo ano consecutivo. A prefeitura chegou a destinar R$ 600 mil para a aquisição e instalação de luzes e adereços que seriam utilizados para enfeitar praças da cidade, mas alega que os bloqueios em rodovias federais realizados por eleitores inconformados com a derrota de Jair Bolsonaro (PL) na eleição presidencial deste ano, impediriam a chegada do material “em tempo hábil”.

“Ao invés de fazer o serviço pela metade, resolvemos cancelar a decoração, pois não seria, talvez, entregue da maneira que a prefeitura queria”, esclareceu o presidente da Fundação Cultural de Vilhena (FCV), Djavan Santos, à AGÊNCIA AMAZÔNIA

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Última decoração natalina de Vilhena ocorreu em 2020 (Prefeitura de Vilhena/Reprodução)

O presidente da fundação diz que mesmo com os recursos disponíveis, a maioria das empresas teve receio de fechar contrato devido à possibilidade de não conseguirem cumprir com os prazos. Ele também reconhece que o ideal seria ter a mercadoria nos almoxarifados da prefeitura até, no máximo, o mês de outubro. A licitação foi aberta, no entanto, apenas em novembro. 

“É preciso de, mais ou menos, um mês para a implantação dela [decoração] e por volta de 25 de novembro nós a inauguramos, perto da data do aniversário da cidade [23 de novembro], para a população e o comércio se beneficiarem com isso, incluindo os visitantes”. detalhou Santos. 

De férias em Vilhena, a designer Bianca Sandino diz que esperava ver a cidade colorida neste Natal. “Acho, sim, que seja um ponto negativo. Moro em Indaiatuba, São Paulo, e por lá é uma data bem esperada por conta das decorações e apresentações de Natal. Senti falta das ruas iluminadas e das decorações”, contou Bianca à reportagem. 

Moradora de Indaiatuba (SP), a designer Bianca Sandino, de férias em Rondônia, esperava ver Vilhena iluminada com luzes de Natal (Acervo Pessoal/Reprodução)

Ações solidárias

Em nota, a prefeitura diz que o valor “segue em caixa” e que será utilizado na decoração natalina de 2023. A gestão prevê outras ações destinadas à comunidade, para que o fim de ano não passe em branco. 

“O Natal dos Sonhos, grande evento beneficente gratuito, será realizado no dia 17 de dezembro, na área do estádio Portal da Amazônia”, garante o comunicado. O projeto prevê a arrecadação de brinquedos, com a participação do comércio e da sociedade para presentear crianças de baixa renda. Quem doa, ganha aulas de zumba gratuitas.

Ação social arrecada brinquedos para crianças de baixa renda, em Vilhena, RO (Prefeitura de Vilhena/Reprodução)

Histórico de impasses

Mais uma vez sem decoração, Vilhena cai na comparação dos internautas entre outras cidades de Rondônia que se destacam por enfeites espalhados pelas ruas e praças das principais avenidas, como é o caso de Cacoal, a 480 quilômetros de Porto Velho, conhecida pelo Acender das Luzes

Na lembrança dos moradores, ficam decorações simplistas, sobretudo imponentes, como as realizadas na década de 1980.

Caixa d’água de Vilhena coberta por luzes, em 1982 (Foto: Reprodução)

Pelo menos desde 2021, Vilhena não ganha um colorido especial no fim de ano. Em anos anteriores, os primeiros da gestão Eduardo Japonês (PV) – substituído por eleição suplementar -, até houve decorações, porém, mais singelas.

“Em 2019, a prefeitura planejou uma decoração econômica”, explica o ex-secretário de comunicação Hebert Weil, à AGÊNCIA AMAZÔNIA. Naquele ano, o gasto foi inferior a R$ 100 mil, devido às contas apertadas deixadas em 2018. “A cidade foi alvo de críticas da população, foi comparada com outros municípios referência em decoração”, ressalta Weil. 

“Já em 2020, a gestão preparou algo mais elaborado”, continua o antigo gestor da Secretaria Municipal de Comunicação (Semcom). “No entanto, chegou a pandemia de Covid-19, o que fez o executivo desistir do investimento, devido aos gastos emergenciais com saúde e a incerteza com o cenário relativo à disseminação da doença”, detalhou. Por isso, a decoração de 2020 foi feita reaproveitando os adereços utilizados no ano anterior. “Como era um material frágil, se aproveitou pouco e foi uma decoração tímida”, disse ainda. 

Em 2020, decoração de Natal foi feita utilizando adereços reaproveitados do ano anterior (Prefeitura de Vilhena/Reprodução)

Em 2021, outro impasse. Desta vez, entre a prefeitura, que queria inovar, e a Câmara de Vereadores, que pretendia economizar recursos.

“Tínhamos a previsão de fazer, sim, uma decoração muito importante, muito interessante, que era que tinha sido pedido lá em 2019”, diz Herbert Weil. O orçamento previsto inicialmente era de R$ 770 mil, porém, durante Reuniões das Comissões, parlamentares da cidade conseguiram reduzir o valor para algo próximo de R$ 685 mil. Depois, dois vereadores pediram vistas e incluíram duas importantes avenidas de Vilhena no projeto (Melvin Jones e Brigadeiro Eduardo Gomes), inflando o orçamento para R$ 1,3 milhão. O projeto foi abandonado em seguida, pois a maioria dos parlamentares entendeu que o dinheiro poderia ser revertido para a saúde e distribuição de cestas básicas.

Herbert informou à AGÊNCIA AMAZÔNIA que o material utilizado na decoração do ano passado seria cedido por meio de aluguel, “porque a compra não valia a pena”. “Os vereadores rejeitaram a matéria na Câmara e a prefeitura não conseguiu fazer a decoração em 2021”, lamentou.

Ele também afirma que, agora em 2022, a prefeitura iria apresentar novamente o projeto original para a decoração da cidade, “talvez até com valor reduzido”, mas com o prefeito interino, o presidente da Câmara, Ronildo Macedo (PV) assumindo a gestão, “não deram continuidade ao projeto que já estava pronto e tinha orçamento. Eles resolveram aprovar um ainda menor”, concluiu o ex-secretário da Semcom.