‘Canelinhas na Folia’: sem Carnaval em Vilhena, RO, bloquinho homenageia rio da cidade

Vilhena, que tem mais de 100 mil habitantes, já está há quase uma década sem Carnaval de rua (Thiago Alencar/REVISTA CENARIUM)

20 de fevereiro de 2023

20:02

Iury Lima – Da Agência Amazônia

VILHENA (RO) – Buscando resgatar a cultura local e alertar sobre a preservação do meio ambiente, cerca de 70 pessoas foram às ruas da cidade de Vilhena, a 705 quilômetros de Porto Velho, no último fim de semana, para festejar o Carnaval. O bloquinho de rua, que levou o nome de “Canelinhas na Folia”, também foi uma alternativa à falta de programação oficial do poder público. 

Os foliões seguiram pela Avenida Major Amarante, uma das principais da cidade, no sábado, 18, com direito a marchinhas, trio elétrico improvisado e até estandarte tradicional. Tudo foi feito com recursos do próprio grupo, formado por organizadores engajados com a cultura vilhenense. 

Além da adesão de moradores, que foram com fantasias feitas em casa, o bloco teve apoio de uma boate, que abriu as portas, gratuitamente, depois do percurso.

Bloco ‘Canelinhas na Folia’ reuniu cerca de 70 pessoas em Vilhena, RO, que não teve Carnaval oficial em 2023 (Janete Maria/Reprodução)

Homenagem ao Canelinha

Localizado próximo da área urbana de Vilhena, com águas verdes e rodeado por árvores imponentes, o Rio Canelinha é parte da paisagem amazônica no Estado de Rondônia. O acesso é gratuito e atrai dezenas de visitantes, todos os dias, pela oferta de descanso e lazer. 

Às margens do rio, placas conscientizam à respeito da proteção do ambiente para que mais pessoas desfrutem dos recursos naturais. Princípios levados à avenida pelos foliões, que homenageiam esse pequeno e pacato tesouro da cidade. 

Veja fotos do Rio Canelinha, abaixo:

“Vilhena é uma cidade que está na Amazônia, só que essa não é uma visão muito clara por todos”, contou o folião Gabriel Biavatti, à REVISTA CENARIUM

“Temos vários pontos naturais que poderiam ser mais valorizados, turisticamente, que são conhecidos por poucos moradores locais. Creio que o Canelinha é um dos mais conhecidos pela população e acho legal usar um bloquinho para homenageá-lo como um ponto natural que as pessoas utilizam para um local de lazer”, disse o videomaker.  

O folião, Gabriel Biavatti, à direita, e os amigos curtindo o ‘Canelinhas na Folia’, em Vilhena (Reprodução/Acervo Pessoal)

A inspiração vem de um conhecido bloco de Carnaval realizado em Porto Velho, o “Pirarucu do Madeira”, que leva elementos da cultura regional e da natureza para as ruas, como explica a professora e organizadora, Janete Maria. Foi daí que surgiu a ideia para o nome do bloco que estreou neste ano, em Vilhena. 

“(…) E, aí, pensamos no Canelinhas, que é um rio que banha a cidade. E este nome tem também um duplo sentido: o nome do rio, Canelinhas, e, também, as “canelinhas” dos foliões brincando e pulando”, contou Janete Maria à reportagem.

A professora e organizadora Janete Maria, com o estandarte oficial do bloco ‘Canelinhas na Folia’ (Reprodução/Acervo Pessoal)

“Um dos objetivos é chamar atenção para os aspectos da região, para preservar e valorizar”, destaca a organizadora.

Festa democrática

O “Canelinhas na Folia” também foi uma espécie de protesto contra a falta de festa oficial oferecida pela prefeitura. Vilhena, que tem mais de 100 mil habitantes, já está há quase uma década sem Carnaval de rua. E os planos de retorno são apenas para 2024. Neste ano, a Fundação Cultural (FCV) alegou falta de tempo para programar os preparativos e orçamento necessários.

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Na avaliação de Janete Maria, está faltando acesso para uma festa que deveria ser democrática. “A gente vê que Vilhena é uma cidade com muitos jovens, tem pessoas que não têm condições de sair para curtir o Carnaval em outros lugares, então, existe demanda”, lamentou. 

Nascido e criado em Vilhena, Gabriel Biavatti, de 21 anos, é exemplo prático da afirmação da organizadora. Ele garante que “foi muito divertido participar do bloquinho, principalmente, porque foi algo incomum”

“O próprio município não incentiva e nem realiza festas”, complementou Biavatti. “Mesmo com público pequeno, é importante ter esse início para que, nas próximas tentativas, haja mais apoio das pessoas e de investidores para que seja uma festa ainda mais viável e divertida para o público”, sugeriu. 

Para os envolvidos, o que fica, é uma semente que deve germinar, crescer e dar frutos. É o que espera Janete Maria e todo o grupo de apoiadores da arte e da cultura que participaram do projeto. 

“A gente plantou uma sementinha e pretendemos, para o ano que vem, organizar melhor, sabendo que as pessoas gostaram e que foi positivo. Esperamos que essa sementinha também dê frutos, que outros grupos venham nessa perspectiva de fazer bloquinho de rua e que a gente comece a resgatar essa festa popular da cultura brasileira, aqui em Vilhena”, concluiu Janete Maria. 

Cerca de 70 pessoas participaram do bloco ‘Canelinhas na Folia’, em Vilhena (Gabriel Biavatti/Reprodução)