Carregada pelo povo Terena, Sonia Guajajara assume ministério em meio à celebração ancestral

Sonia Guajajara vibrou o maracá sob aplausos do povo negro e indígena, durante a cerimônia de posse, em Brasília (Eraldo Peres/AP)

11 de janeiro de 2023

20:01

Mencius Melo – Da Agência Amazônia

MANAUS – Carregada pelo povo Terena do Mato Grosso do Sul, durante a “Dança da Ema”, Sonia Guajajara assumiu, em cerimônia no Palácio do Planalto, nesta quarta-feira, 11, em Brasília, o Ministério dos Povos Indígenas (MPI). Sua posse foi precedida pelo discurso de sua “parente” Célia Xakriabá, deputada federal do PSOL por Minas Gerais. Durante o discurso, Célia enfatizou: “A caneta e a motosserra que derrubam a Amazônia não derrubam a nossa ancestralidade”.

Sonia Guajajara é uma das mais ativas vozes na luta dos povos indígenas no Brasil atual e foi eleita deputada federal por São Paulo em 2022 (Reprodução/Thenationalnews)

Em seu discurso, Sonia saudou as mulheres presentes. “Quero saudar todas as mulheres aqui presentes, na pessoa da presidente Dilma Rousseff”, destacou. Também referenciou Lula (PT) e seu vice Geraldo Alckmin (PSB). Na sequência, falou sobre os povos originários: “Povos esses, que resistem há mais de 500 anos, a diários ataques covardes e violentos, tão chocantes e aterrorizantes como vimos neste último domingo aqui em Brasília, porém, sempre menos visibilizados. A partir de agora, essa invisibilidade não pode mais camuflar a nossa realidade”, afirmou.

Guajajara aproveitou para relembrar uma história de família. Ela recordou do presente que ganhou de sua tia Maria, que sempre acreditou na força de Sonia desde a juventude. “Você vai crescer e tudo que você tiver para falar vão te escutar. Esse maracá vai ecoar e você será a porta-voz do nosso povo“, relembrou. “Hoje, eu quero dizer para vocês que aquela Sonia que para estudar trabalhou em casa de família como babá e ’empregada doméstica’, como era chamada essa profissão, à época, está aqui, nomeada para o cargo de ministra de Estado dos Povos Indígenas do Brasil”, comemorou.

Agradecimento

Sonia também agradeceu ao povo de São Paulo que a elegeu. “Ressalto também o apoio que recebi dos povos indígenas e da população do Estado de São Paulo que, pelas urnas, me elegeram deputada federal, afirmando a todos os brasileiros e brasileiras que uma mulher indígena é plenamente capaz de contribuir com a reconstrução da democracia neste País“, declarou sob fortes aplausos.

Na sequência, a ministra dos Povos Originários salientou alguns dos desafios que serão enfrentados pela pasta. “São graves os casos de intoxicações provocados por mercúrio dos garimpos, pelos agrotóxicos, nas grandes lavouras do agronegócio; as invasões em nossos territórios; as condições degradantes de saúde e saneamento; o aumento da insegurança alimentar que resultou, inclusive, na morte de inúmeras crianças e idosos indígenas e a desproteção dos territórios onde vivem povos indígenas isolados”, afirmou.

Sonia Guajajara foi uma das lideranças indígenas aliada do atual presidente Lula a cair em campo em apoio a sua candidatura (Reprodução/Ricardo Stuckert)

Ao final, Sonia Guajajara declarou: “É urgente promovermos uma cidadania indígena efetiva. Isso não se faz sem demarcação de territórios, proteção e gestão ambiental e territorial, acesso à educação, acesso e permanência à universidade pública, gratuita e de qualidade, ampla cobertura e acesso à saúde integral. Não será fácil superar 522 anos em 4, mas estamos dispostos a fazer desse momento a grande retomada da força ancestral da alma e espírito brasileiros. Nunca mais um Brasil sem nós!“, finalizou.