20 de agosto de 2023

16:08

Adrisa De Góes – Da Agência Amazônia

MANAUS (AM) – O investigador da Polícia Civil do Amazonas (PC-AM) Raimundo Nonato Machado e a esposa dele, Jussana Machado, presos por agredirem uma babá e um advogado em um condomínio em Manaus, tinham o hábito de fazer publicações em favor do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) nas redes sociais. Levantamento feito pela AGÊNCIA AMAZÔNIA neste domingo, 20, mostrou que o casal demonstrava, ainda, apoiar discursos do espectro político de direita que, na teoria, são conservadores e prezam pela ordem moral e pelos bons costumes.

As publicações às quais a reportagem teve acesso, na plataforma Facebook, datam desde o ano de 2018, quando Bolsonaro foi eleito presidente da República, até 2022, quando ele não conseguiu se reeleger. Em uma delas, Jussana compartilha um compilado de vídeos do candidato à Presidência da República nas eleições 2022, Ciro Gomes (PDT), e expressa apoio à reeleição de Bolsonaro. “#BolsonaroReeleito2022”, escreveu.

A simpatia de Jussana ao discurso do ex-presidente também se demonstra em outra publicação que destaca a defesa de Bolsonaro ao trabalho para adolescentes a partir de 14 anos. “Está certíssimo”, compartilhou, demonstrando, ainda, ser contrária a pautas progressistas, quando diz apoiar o discurso do deputado federal e aliado ferrenho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) Nikolas Ferreira (PL-MG) contra o uso de banheiros comuns entre gêneros.

No vídeo compartilhado por ela, o parlamentar diz que pessoas trans ou travestis deveriam usar espaços sanitários voltados ao sexo biológico ao qual nasceram e não ao qual se identificam. No ano passado, uma notícia falsa que circulou no País dizia que a iniciativa seria implementada com a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas urnas.

Ainda em 2018, a esposa do investigador usou, na foto de perfil do Facebook, uma moldura com a identidade visual do então candidato à presidência e o número 17, antigo número de Bolsonaro nas urnas, quando ele ainda era do Partido Social Liberal (PSL).

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Bolsonarismo declarado

O investigador da PC-AM Raimundo Nonato Machado também era seguidor dos ideais de Jair Bolsonaro desde que a onda bolsonarista ganhou força no País. Em outubro de 2018, após a vitória do ex-presidente nas eleições gerais, o servidor usou as redes sociais para ironizar as suspeitas de financiamento por empresas de disparos de mensagens contra a candidatura de Fernando Haddad (PT), presidenciável no mesmo pleito.

Na publicação, Raimundo Nonato aparece dentro de uma caixa de papelão que possui o número dois colado em frente. Na foto, ele sorri, enquanto segura um cachorro. A legenda diz: “#caixa2dobolsonaro #caixa2dasfakenews #caixa2davitória Avante, Brasil”, escreveu o investigador de polícia. Após a tentativa de homicídio praticada pelo servidor da PC-AM contra o advogado, o post começou a receber comentários em referência ao caso: “Esses cidadãos do bem! Sempre eles!”, escreveu uma internauta.

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Contradição dos ‘cidadãos do bem’

Nos últimos anos, o termo “cidadãos de bem” se tornou um discurso popular, usado por pessoas do espectro político de direita que, na teoria, são conservadoras e prezam pela ordem, pela moral e pelos bons costumes, além de serem contrárias a pautas progressistas como o movimento LGBTQIAPN+.

Uma pesquisa disponível no Portal de Revista da Universidade de São Paulo (USP), intitulada “Quem é o ‘cidadão de bem’?“, aborda uma análise psicológica da pessoa que usa o termo que caiu no gosto dos adeptos da direita na política do País. A autoria é do psicólogo José Fernando Andrade Costa, que atua nos temas comunidade, cidadania, lutas sociais, dentre outros, que defende que o cidadão de bem representa um “risco para a democracia”.

No trabalho acadêmico, o autor afirma: “A figura do chamado ‘cidadão de bem’ constitui um tipo de estratégia discursiva ideológica e expressa uma patologia social da cidadania brasileira (…) Identificamos contradições e problemas decorrentes do uso retórico da figura do ‘cidadão de bem’ relacionadas: ao apelo punitivista e por armas de fogo para civis; às representações ideológicas de gênero, raça e classe; à função social da mídia; e ao neoconservadorismo político”.

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Entenda o caso

Raimundo Nonato Machado foi preso na manhã deste domingo, 20, ao se apresentar à polícia. O juiz plantonista do Tribunal de Justiça do Amazonas (Tjam) Alcides Carvalho Vieira Filho determinou, ainda no sábado, 19, a prisão preventiva do policial por tentativa de homicídio do advogado Ygor Colares e da babá Cláudia Gonzaga.

O juiz plantonista alegou que as provas apresentadas pelo Ministério Público do Estado do Amazonas (MP-AM), que pediu pela prisão preventiva do investigador, demonstravam fortes indícios da autoria de Raimundo Nonato no crime.

A agressão ocorreu na noite de sexta-feira, 18, no estacionamento do condomínio Life Ponta Negra, no bairro Ponta Negra, Zona Oeste de Manaus. Câmeras de segurança registraram o momento em que a esposa do investigador, a lutadora de jiu-jítsu Jussana Machado, agrediu a babá Cláudia Gonzaga e atirou no advogado Ygor Colares, que foi atingido com um tiro de raspão na perna.

Jussana usou a arma do investigador para atirar no advogado. Nas imagens, é possível ver que Raimundo Nonato entregou o revólver para a esposa antes de agredir o advogado. Ela também está presa, flagranteada pelos crimes de porte ilegal de arma de fogo de uso restrito, disparo de arma de fogo, lesão corporal e ameaça.